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O Washington Post — principal jornal da capital americana — destacou em seu título: “Juiz brasileiro abre julgamento de Bolsonaro com provocação a Trump“, em referência ao presidente dos Estados Unidos.
“O juiz Alexandre de Moraes, um dos principais alvos de Trump, não citou Trump ou os EUA, mas falou de uma tentativa de ‘outro Estado estrangeiro’ de interferir no processo”, escreveu o jornal americano, destacando as falas do ministro sobre a soberania e a independência do Judiciário brasileiro.
O Washington Post destacou que o julgamento acontece no “prédio modernista que foi danificado pelos apoiadores [de Bolsonaro] que invadiram a capital em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a posse de Lula” e que esse evento “ecoou a tentativa de apoiadores de Trump de interferir na certificação da vitória do presidente Joe Biden em 2020, no Capitólio dos EUA, em 6 de janeiro de 2021”.
A agência de notícias Reuters também destacou as falas de Moraes que fazem referência indireta aos EUA.
“Supremo Tribunal Federal rejeita pressão de Trump enquanto julgamento de golpe de Bolsonaro se aproxima do veredito”, diz a agência.
“A fase final do julgamento histórico do ex-presidente Jair Bolsonaro pela Suprema Corte, acusado de planejar um golpe, começou na terça-feira, quando o juiz principal considerou o caso uma defesa da democracia diante dos ataques do presidente dos EUA, Donald Trump”, afirma a agência.
Julgamento sem Bolsonaro
“Ele não compareceu ao tribunal devido a problemas de saúde, informou sua equipe de defesa a repórteres do lado de fora do tribunal”, disse o New York Times, afirmando que pessoas próximas ao ex-presidente relataram que “Bolsonaro vinha sofrendo de soluços debilitantes, que o ex-presidente atribui a complicações de um ataque a faca durante a campanha eleitoral em 2018”.
O New York Times também destaca que “a maioria dos analistas, apontando para um conjunto de evidências, espera que a maioria dos cinco membros do painel do Supremo Tribunal condene Bolsonaro”.
O jornal afirma ainda que no Brasil, “que viveu uma ditadura militar brutal de 1964 a 1985, o processo criminal de um presidente e seus poderosos aliados militares é visto por muitos como uma vitória da democracia”.
“Mas o julgamento também desencadeou uma crise diplomática entre as duas nações mais populosas do Hemisfério Ocidental, já que o presidente Trump ajudou Bolsonaro, seu aliado político, e tentou intimidar o Brasil a desistir do caso.”
O New York Times também destacou as falas de Moraes sobre soberania.
“Durante o discurso de abertura de terça-feira, Moraes condenou os esforços de Bolsonaro e seu filho [Eduardo] para buscar a intervenção de Trump, chamando suas ações de covardes e traiçoeiras.”
O jornal espanhol El País destacou um artigo de sua colaboradora, a jornalista brasileira Eliane Brum, intitulado “O processo que muda o Brasil”.
“Várias gerações morreram antes de ver um militar de alta patente responder por seus crimes perante a justiça civil”, afirma o artigo.
“Embora os desafios sejam imensos, com a extrema direita se fortalecendo e o Brasil permanecendo um país brutalmente desigual, é preciso dar a devida dimensão ao que este momento representa. A democracia demonstrou que nenhum criminoso, mesmo fardado, mesmo com quatro estrelas no peito, ficará impune no Brasil.”
O artigo também destaca que apesar de haver muito foco sobre a possível condenação de Bolsonaro “o mais importante é o julgamento dos generais”.
“Terminou ontem o capítulo da impunidade militar, que é imenso em termos históricos, mas é evidente que a disputa dos dias atuais continuará sendo dura, violenta e desigual.”
O jornal argentino La Nacion destacou em seu título “a dura acusação” do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet.
“Gonet declarou na terça-feira que Jair Bolsonaro e seus aliados conspiraram para derrubar a democracia brasileira para permanecer no poder, no início da fase de veredito do julgamento do ex-presidente”, disse o La Nacion.
“Especialistas classificaram o julgamento de Bolsonaro como ‘histórico’ e observaram que é a primeira vez que altos funcionários acusados de uma tentativa de golpe são submetidos a um julgamento criminal”, afirma o jornal argentino.
“Uma ditadura militar governou o Brasil entre 1964 e 1985, uma era pela qual Bolsonaro expressa nostalgia. O governo aprovou uma abrangente Lei de Anistia em 1979, e o Brasil nunca processou nenhum dos militares responsáveis por violações generalizadas de direitos humanos durante esse período.”
O jornal britânico Guardian destacou que “o Brasil sofreu mais de uma dúzia de tentativas de golpe de Estado desde 1889, quando se tornou uma república após a deposição de seu último imperador, D. Pedro 2º”.
“A última tomada de poder bem-sucedida ocorreu em 1964, quando generais apoiados pelos EUA depuseram o então presidente, João Goulart, supostamente para frustrar uma ameaça comunista, inaugurando 21 anos de um regime militar brutal.”
O Guardian também destaca que pode haver protestos no 7 de setembro em apoio a Bolsonaro.
“No domingo — dia da Independência do Brasil — os apoiadores de Bolsonaro devem fazer uma demonstração de força, reunindo-se nas principais cidades para exigir sua absolvição”, diz o jornal britânico.
“A segurança foi reforçada em torno do Supremo Tribunal Federal, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional para evitar uma repetição do levante de 8 de janeiro, quando os três prédios foram saqueados por apoiadores de Bolsonaro.”
O jornal também cita o ex-embaixador americano Thomas Shannon, que esteve em Brasília entre 2010 e 2013, que diz que Trump está “enganado se acredita que pode ajudar Bolsonaro a escapar da punição e voltar ao poder — assim como Trump fez no ano passado”. Segundo o ex-embaixador, as medidas de Trump contra o Brasil estão tendo o efeito contrário — de fortalecer Lula e enfraquecer Bolsonaro.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL