“A Kings League faz um monte de moleque de condomínio achar que faz parte de torcida organizada – e isso é fantástico”, diz Casimiro, da CazéTV. O comentário resume o espírito da liga de transformar a dinâmica do futebol, dentro e fora de campo, em algo mais próximo dos videogames.
Durante 3 meses, torcedores vestiram camisas dos clubes, lotaram bares e até entraram com sinalizador na arena, o que levou ao reforço da segurança.
Os confrontos da primeira fase aconteceram em um galpão em Guarulhos, na Grande São Paulo, com gramado preto e branco, arquibancadas divididas entre torcidas organizadas e cabines de transmissão na lateral oeste.
A Kings League surgiu como um novo tipo de entretenimento no streaming, misturando e-sports e futebol. A final, realizada no último dia 18, levou 40 mil pessoas ao Allianz Parque, se tornando o maior público do estádio neste ano.
O Furia FC, time presidido pelo jogador do Santos Neymar e seu amigo empresário Cris Guedes, foi campeão na disputa de shoot outs, (uma cobrança de pênalti partida do meio campo), após o empate em 5 a 5 com o Dendele, sensação da competição.
Criada na Espanha pelo ex-zagueiro do Barcelona Gerard Piqué, a liga chegou ao Brasil pelas mãos do ex-atleta Kaká com a proposta de reinventar o futebol e conquistar o público jovem usando linguagem de internet, regras alternativas e transmissão ao vivo em plataformas como YouTube e Twitch.
Os jogos duram dois tempos de 20 minutos. Há substituições ilimitadas, cartas surpresas que mudam o rumo da partida — como gol dobrado ou pênalti batido pelo presidente — e uma lógica de espetáculo mais próxima de um game do que de um campeonato tradicional.
Na festa de encerramento, o pré-jogo teve campeonato de pênaltis e show do MC Hariel, que também é presidente de um time na Kings League.
No Brasil, os presidentes dos times são na maioria nomes populares da internet, como os influenciadores Nobru, Gaules, Loud Coringa e Toguro.
Além de emprestar fama aos elencos, esses criadores também atuam nas decisões técnicas e nas transmissões. As partidas viram conteúdo ao vivo, com direito a vlogs de bastidores, enquetes interativas e participação do público. Só na Twitch, a Kings League somou mais de 11,4 milhões de horas assistidas. Quase 70% dos usuários da plataforma têm entre 18 e 34 anos.
Para Anadage Freitas gerente de conteúdo da Twitch na América Latina, muitos esportes perderam a conexão com a nova geração, e a Kings League entende melhor como os mais jovens consomem conteúdo.
Alguns times refletem diretamente o universo de seus donos. O Fluxo FC, fundado por Nobru e Cerol, nasceu no universo dos e-sports e já disputava torneios de jogos como “Valorant” e “League of Legends” antes de entrar no futebol.
Nos bastidores, a estrutura ainda é instável. “Tem muita coisa a ser acertada. Os presidentes querem transmitir os jogos, mas não há cabines suficientes. Às vezes a gente tem que correr para liberar o espaço para outro time. Isso atrapalha o conteúdo”, diz Nobru, que também critica os baixos salários pagos aos atletas.
“A maioria não recebe nem R$ 2.000 por mês. A gente está lutando pra aumentar isso.” Os jogadores são contratados de duas formas: via draft (um sistema de seleção feito e bancado pela liga) ou como especiais, escolhidos diretamente pelos clubes — como Zé Roberto, ex-jogador da seleção brasileira, que já atuou pelo Fluxo.
A arbitragem foi bastante questionada, eleita por Cris Guedes o maior ponto negativo da primeira temporada.
No Desimpedidos Goti, Toguro e Yuri 22 revezam no cargo de presidente. Uma escolha estratégica da marca.
“Imagina se eu tivesse só um presidente, e ele não pudesse vir? Precisa de dois. Tem treino, pênalti, live, reunião… Desde o Carnaval eu não parei um dia”, conta Sergio Gandolphi, gerente de novos negócios da NWB, empresa responsável pelo Desimpedidos, e que também virou diretor de futebol do Desimpedidos Goti.
Segundo ele, a Kings League é uma startup esportiva. “Queriamos ter um time antes mesmo de receber o convite. A liga está em constante evolução e estamos muito satisfeitos com os números”
Ao final da primeira edição no país, os presidentes fazem uma análise quase em consenso. O engajamento agradou, a estrutura arquitetada para os jogos semanais surpreendeu, mas a omissão dos organizadores e falta de critério nas punições foram reclamações constantes.
Fonte.:Folha de S.Paulo