Um ladrão de galinhas entra em um SUV parado na cidade para fazer um rapa nos pertences do proprietário. Mas, ao tentar sair, se vê preso dentro do automóvel. Pior, ele caiu em uma armadilha preparada pelo dono do carro, que está revoltado com a insegurança das ruas e com a ineficiência da polícia.
Essa é a sinopse de “Confinado”, filme de David Yarovesky que estreia nesta quinta nos cinemas. Bill Skarsgård faz o papel do vigarista e Anthony Hopkins é o dono do carro-armadilha.
O primeiro parágrafo também resume o que aconteceu na vida real, em 2016, na cidade de Córdoba, Argentina, quando um ladrão acabou confinado dentro de uma Mitsubishi Montero depois que o empresário Roberto Desumvila criou a arapuca —o bandido foi levado pela polícia 20 minutos depois.
No caso real, Desumvila blindou os vidros e conseguiu inverter o funcionamento de um alarme. Ele resolveu criar o esquema após o carro de sua filha ter sido atingido por um tiro em uma tentativa de roubo semanas antes.
“Em vez de trancar o carro automaticamente quando você sai, ele tranca quando você entra. Se você entrar e não usar a chave depois de vinte segundos, a porta fecha, as janelas sobem, a energia acaba e você fica preso lá dentro”, contou ele à imprensa argentina na ocasião.
Três anos depois, o cineasta argentino Mariano Cohn lançou “4×4”, exagerando a história para que ela virasse um filme, atualmente disponível no Prime Video.
Pouco depois, o cineasta João Wainer dirigiu seu primeiro longa de ficção, adaptando levemente a história para a realidade brasileira. O filme “A Jaula”, estrelado por Chaim Suede e Alessandro Nero, pode ser visto no streaming Disney+. Uma versão indiana foi lançada em 2020 e, agora, a de Hollywood chega ao Brasil.
Mas, se o carro de Desumvila se limitou a prender o ladrão enquanto a polícia argentina era acionada, nos filmes a história se desenvolve como um suspense no qual o dono do automóvel tortura o prisioneiro por dias, usando diversas tecnologias.
William, vivido por Hopkins, se comunica com o infeliz por meio da central de mídia do veículo, enquanto assiste a tudo pelas câmeras instaladas internamente. Com o tempo, Eddie —Skarsgård, que interpretou o palhaço Pennywise em “It – A Coisa”— dá informações pessoais, o que põe em risco sua família.
Apesar de ter algumas cenas angustiantes, essas acontecem mais quando o carro está sendo filmado por fora. Fica a impressão que “Confinado” poderia ter investido mais em como reproduzir a sensação de claustrofobia dentro do veículo.
O diretor David Yarovesky vem de “Brightburn – Filho das Trevas”, um interessante estudo sobre o que aconteceria se super-heróis, no caso o Superman, existissem na vida real. Mas mesmo esse filme de 2019 não é uma unanimidade.
Os produtores usaram dois SUVs, um deles inteiro, para as cenas externas, e outro todo cerrado, para que a câmera pudesse se posicionar para as tomadas internas. Foi a mesma coisa que fez João Wainer em sua versão, utilizando dois Mitsubishi Pajero iguais —Mercedes, no caso indiano.
Mas na versão americana não há muitas surpresas de ângulo ou soluções que joguem o espectador para dentro daquela jaula sobre rodas. Sem entrar muito em detalhes, o clímax do filme, por exemplo, poderia ser o de um longa qualquer, não de um em que o personagem está preso na máquina rodante.
Uma curiosidade de “Confinado” é que a produção inventou uma marca de carros de luxo fictícia chamada Dolus. Os dois carros usados nas filmagens foram construídos em cima de Land Rovers Defender.
Fonte.:Folha de S.Paulo