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Um artigo publicado nesta quinta-feira (4/9) pelo jornal britânico Financial Times afirma que os bancos brasileiros estão no meio de um tiroteio entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Como uma crise diplomática sem precedentes entre Washington e Brasília não dá sinais de melhora, os grandes bancos do país latino-americano correm o risco de serem pegos no fogo cruzado”, diz artigo assinado por Michael Pooler, que é correspondente do jornal em São Paulo.
Outros veículos noticiaram que os bancos brasileiros já começaram a receber cartas do governo dos EUA cobrando a aplicação de sanções americanas (leia mais abaixo).
O artigo do Financial Times afirma que cafeicultores e pecuaristas já estão entre as vítimas do tarifaço de Trump contra o Brasil, e que agora é a vez de bancos brasileiros sofrerem com a crise diplomática. No mês passado entraram em vigor tarifas de 50% contra produtos brasileiros exportados aos EUA — uma retaliação de Trump ao que ele chama de “caça às bruxas política” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O jornal lembra as sanções financeiras adotadas pelo governo Trump contra Alexandre de Moraes e a decisão do ministro Flávio Dino, do STF, de que empresas podem ser punidas no Brasil caso adotem medidas contra Moraes.
“Isso coloca uma escolha difícil para os bancos aqui [no Brasil]: ou eles arriscam desrespeitar as sanções americanas ou desobedecem ao mais alto tribunal do país”, escreve Pooler.
O jornal diz que grandes bancos — como Itaú Unibanco, Bradesco, Santander Brasil, BTG Pactual e Banco do Brasil — viram suas ações caírem depois da decisão de Dino.
“Na pior das hipóteses, violar as sanções americanas pode levar à exclusão do sistema financeiro dos EUA — um resultado desastroso para bancos estrangeiros com operações internacionais ou linhas de financiamento em dólares”, afirma o artigo.
O jornal afirma que ainda existe um debate aberto sobre quão rigorosos os bancos brasileiros teriam que ser na aplicação das chamadas sanções Magnitsky — e qual a interpretação que será dada pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac, na sigla em inglês), agência do governo americano ligada ao departamento do Tesouro dos EUA e responsável por cobrar os bancos pelas sanções.
“Entre os grandes bancos da Faria Lima — a versão brasileira de Wall Street — há um consenso crescente de que as proibições se estendem a qualquer coisa que envolva dólares ou serviços de empresas americanas, como cartões de crédito e débito operados pela Mastercard ou Visa, mas não a transações puramente nacionais em moeda local”, diz o Financial Times.
Por essa interpretação, as contas de Moraes em reais não seriam alvo de sanções. Mas analistas ouvidos pelo jornal questionam se o governo Trump não seria mais rigoroso contra os bancos brasileiros nesse caso, por se tratar de um problema político do presidente americano com o ministro do STF.
Moraes correria então o risco de ficar sem acesso a contas de banco — precisando recorrer a transações em dinheiro vivo ou a cartões bancários de outras pessoas.
O artigo conclui que o problema maior para a economia brasileira seria se as sanções contra Moraes acabassem afetando as operações de bancos brasileiros nos EUA.
“Por enquanto, o dilema se limita a um único indivíduo. Mas, se Bolsonaro for considerado culpado em seu julgamento, o temor é de que outros magistrados que votarem pela condenação sejam tratados de forma semelhante”, afirma o artigo no jornal.
“Líderes empresariais brasileiros esperam que a Suprema Corte do país não corra o risco de autodestruição econômica ao não permitir que instituições financeiras cumpram as sanções.”
Carta dos EUA a bancos brasileiros
Na quarta-feira (3/9), a agência de notícias Reuters e outros veículos noticiaram que bancos brasileiros já começaram a receber cartas do departamento do Tesouro dos EUA cobrando medidas dentro das sanções Magnitsky — usada pelo governo Trump contra Moraes.
A BBC News Brasil entrou em contato com Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e BTG Pactual, que disseram que não comentariam o assunto.
O Santander Brasil respondeu que “não presta informações sobre temas regulatórios que envolvam matéria protegida por sigilo bancário”.
“O Banco atua com rigorosa observância de todas as normas e leis locais e internacionais aplicáveis, e mantém seus processos de governança alinhados às melhores práticas globais”, disse.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disse à BBC News Brasil que não recebeu dos bancos a informação sobre eventual comunicado do governo americano.
“De todo modo, tais comunicados têm caráter confidencial e não são dirigidos à Febraban”, disse a entidade, em nota.
O departamento do Tesouro dos EUA não respondeu ao contato feito pela BBC News Brasil.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL