A ombudsman Alexandra Moraes recebeu 64 leitores da Folha no auditório do jornal, na manhã desta quarta-feira (24), para uma conversa que celebrou os 36 anos de criação do cargo.
Representante dos interesses do leitor desde junho de 2024, Moraes é a 15ª profissional a exercer a função, que foi atribuída inicialmente a Caio Túlio Costa, em 1989.
A Folha foi o primeiro veículo brasileiro a contar com um ombudsman, que é responsável por receber e encaminhar reclamações e produzir críticas internas para o jornal, além de manter uma coluna semanal.
Também já ocuparam o posto José Henrique Mariante, Flavia Lima, Paula Cesarino Costa, Vera Guimarães, Suzana Singer, Carlos Eduardo Lins da Silva, Mário Magalhães, Marcelo Beraba, Bernardo Ajzenberg, Renata Lo Prete, Marcelo Leite, Junia Nogueira de Sá e Mario Vitor Santos.
Um dos temas levantados por leitores nesta quarta foi a independência editorial dos veículos brasileiros. O professor de alemão Walter Tabacniks, 69, questionou a influência de fatores externos sobre a cobertura da Folha.
“Qualquer empresa vai ter interesses próprios. Quais são eles? Estão nos editoriais”, começou a responder Alexandra. Segundo ela, o jornal está sujeito a várias pressões —inclusive a dos leitores— das quais não tem como fugir, e a vantagem disso é justamente estar no meio de diferentes “forças se entrechocando”.
No caso da Folha, continuou, há um aparato fundamental que orienta princípios editoriais e não se sujeita a influências externas: o Manual da Redação.
Para ela, seria importante que o leitorado fizesse críticas amparadas em diretrizes oficialmente defendidas pelo veículo, como ouvir diferentes lados de uma história, quando julgar que a cobertura está se distanciando delas.
Segundo levantamento feito por Alexandra, a moderação dos comentários no site da Folha tem sido um dos temas mais abordados pelos leitores que entram em contato com a ombudsman. Eles reclamam, por exemplo, que suas mensagens foram removidas sem ter conteúdo ofensivo ou, por outro lado, apontam comentários com xingamentos e palavrões que não foram suspensos.
Alexandra avalia que os assinantes da edição impressa recorrem mais ao contato com a ombudsman, porque já têm relações mais longevas com a Folha e a conhecem melhor, enquanto os assinantes da versão digital demoram mais a chegar a este canal ou nem sequer o utilizam, porque acreditam que a seção de comentários já é suficiente para fazer críticas, apontar erros e dar sugestões, por exemplo.
“A moderação traz o público dos comentários para essa interação com o serviço de ombudsman. Isso acaba sendo útil para esclarecer a função dos comentários e para cobrar o jornal sobre a maneira como o espaço é usado. Tem muita gente que está ali para poder deixar a sua opinião.”
É o caso do professor Tabacniks, que após o encontro com a ombudsman afirmou que assinou o jornal há três meses para comentar os conteúdos.
“No momento em que eu pago o jornal, eu me considero quase um acionista da Folha, então eu tenho o direito de trabalhar junto com a Folha para tentar fazer com que ela me ofereça o que eu quero que ofereça.”
Para a leitora Dagmar Zibas, 88, a seção de comentários da Folha deveria ser mais livre, a exemplo do que ela percebe como assinante de outros veículos: sem limite de caracteres, sem restrições à quantidade de réplicas e tréplicas para fomentar o debate entre os comentadores e com mais transparência no processo de moderação, com avisos sobre a publicação da mensagem para que o leitor possa retornar à conversa na seção.
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Como exemplo de transparência na moderação, a ombudsman citou a reportagem sobre o diagnóstico de câncer de pele do ex-presidente Jair Bolsonaro, na qual a possibilidade de comentar foi suspensa.
“Tinha que ter um aviso por cortesia com o leitor, algo que dissesse que não vamos deixar essa seção aberta, porque deve ter uma amostragem de que em casos como esse a quantidade de mensagem de baixo nível e imoderável não vale a pena.”
A presença da inteligência artificial no jornalismo também foi discutida. Na opinião da ombudsman, o uso de mecanismo de IA em traduções publicadas pela Folha deveria ser sinalizado ao leitor por uma questão de transparência, mesmo que os textos passem por revisão por jornalistas.
Para Lucia Makena, 64, o encontro com a ombudsman foi como uma aula —e presencial, reforçou ela, que estuda jornalismo no formato EAD. Ela afirmou que faltou diversidade entre os leitores presentes na conversa.
“Se tivesse mais pessoas, no caso vou falar das pessoas negras, enriqueceria o trabalho. Eu fico imaginando mais pessoas negras mandando cartas ou mensagens e participando de algumas pautas.”
Fonte.:Folha de S.Paulo