Foi-se o tempo em que licor era apenas conhecido como bebida de avozinhos, um digestivo para o fim da refeição. Esse trago alcoólico doce e saborizado passou a ser descoberto sobretudo pelo público mais jovem.
Não raro, você pode observar hoje em bares grupos de gente na faixa dos 20, 30 anos tomando shots — muitas vezes antes de partir para a festa — do espanhol Licor 43, de sabor abaunilhado e feito com 43 ingredientes entre cítricos e botânicos, com 31% de álcool (menos que, por exemplo, um uísque, que tem por volta de 40%).
Na mesma esteira, um drinque muito simples hoje comumente feito com o produto e a adição de expresso, o carajillo, entrou para muitas cartas da cidade.
“É a bebida adorada pelos faria limers”, observa Gabriel Queiroz, o Gabico, sócio do bar de coquetelaria Amargot, a poucos metros da Avenida Brigadeiro Faria Lima, o centro financeiro de São Paulo.

Ele até criou uma pedida com o líquido, o expresso martini amargot, que leva ainda vodca, café e xarope de caramelo salgado, por 43 reais.
“Vende tanto que virou um dos clássicos da casa.” Não muito longe, o Boteco São Bento do Itaim Bibi costuma vender cerca de 700 doses (45 reais a unidade) e 900 drinques carajillo (46,90 reais cada) todo mês.
Presente não apenas em bares e restaurantes, como também em supermercados, onde tem o preço sugerido de 188 reais, o 43 lidera o consumo de licores no Brasil, com mais de 60% de participação da faixa premium, de acordo com a Iscam, plataforma que monitora distribuidores e atacadistas do país.

“A marca fez ações em bares com um trabalho muito forte e bem-feito”, avalia Laércio Zulu, responsável pela coquetelaria do Grupo Saints, do São Bento e outras casas.
“Falávamos desde os primeiros planos de marketing que queríamos revolucionar a categoria de licor, que antes era muito do ‘restaurante tradicional de toalha branca e mesa de madeira’”, reforça Tomas Lellis, diretor regional da Zamora Company, detentora e produtora da bebida nascida em 1946.
Outras empresas, abertas mais recentemente, também trabalham firme nesse processo de fortalecer seu nome e veem o consumo crescer.
Do Ballena, creme rosinha sabor morango com tequila, açucarado e com 16% de teor alcoólico, a fábrica produz 154 000 garrafas mensais (o que soma também sabores lançados em seguida, chocolate & caramelo e coco).
Em fins de 2022, quando a companhia começou, eram produzidas 2 000 unidades. Em 2024, o faturamento chegou a aproximadamente 80 milhões de reais.

Feito em Jundiaí e em Rio Claro, no interior, o rótulo foi ficando ainda mais conhecido ao patrocinar grandes eventos, como o Carnaval do Rio de Janeiro, com um espaço exclusivo no Nosso Camarote, e ao patrocinar a série de shows Tardezinha, do pagodeiro Thiaguinho.
Ver uma garrafa cor-de-rosa com uma galerinha virando doses da bebida (preferencialmente no copinho próprio, na forma de uma baleia) é uma cena que pode acontecer tanto no Itaim Bibi como em bailes na periferia.
Pelo hype, até virou nome de um funk, de Vulgo FK, MC PH e Veigh. “Duas doses, bebida rosa…”, dizem os versos iniciais.
O Don Luiz, feito com doce de leite, não é tecnicamente um licor.
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), esse tipo de mistura precisa ter, no mínimo, 15% de teor alcoólico — o “doce de leite alcoólico”, como é vendido, tem 13%.

De todo modo, é bebericado como um licorzinho por uma galera de 25 a 35 anos.
Criado em Salvador, em 2018, e hoje elaborado em Santa Bárbara d’Oeste (SP), a empresa comercializou no ano passado por volta de 600 000 garrafas de 750 ml de Don Luiz, não sem ajuda de marketing e a presença em 77 eventos só em 2024. No e-commerce, o preço da garrafa é de 79,90 reais.
“As pessoas estão tomando mais licores. É um movimento natural, porque é uma bebida aromatizada e levemente adocicada”, observa Márcio Silva, um dos bartenders mais importantes do país, que foi contratado para ser embaixador da marca Ballena.
“Brasileiro tem um paladar um pouco mais doce e isso ajuda a categoria”, adiciona Tomas, do Licor 43, sobre o sucesso dessa bebida.
Mas ele reforça que, apesar do público novo, o licor é de todo mundo. “Ele cresce em diferentes faixas etárias e ocasiões de consumo.”
Publicado em VEJA São Paulo de 30 de maio de 2025, edição nº 2946.
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Fonte.: Veja SP Abril