
Crédito, Getty Images
- Author, Tom Geoghegan
- Role, BBC News
- Author, James FiztGerald
- Role, BBC News
A expressão “caso Epstein” vem assombrando há algumas semanas o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Ele enfrenta uma crise cada vez maior, originada nos crimes sexuais cometidos pelo financista pedófilo condenado Jeffrey Epstein (1953-2019).
Os próprios apoiadores de Trump vêm pressionando cada vez mais o presidente. E membros do seu Partido Republicano pedem mais transparência sobre as descobertas das investigações sobre Epstein.
Surgiram informações de que a procuradora-geral do próprio Trump informou o presidente que seu nome aparece em arquivos relacionados às investigações.
Trump e Epstein foram amigos na década de 1990 e no início dos anos 2000.
Ter seu nome na lista de Epstein não é evidência de nenhuma atividade criminosa — e Trump nunca foi acusado de nenhuma irregularidade relacionada a este caso.
O presidente declarou, durante a campanha eleitoral de 2024, que estaria aberto para divulgar ao público mais informações sobre o caso Epstein. Mas Trump mudou de opinião no início de julho.
Ele afirmou que o caso está fechado e chegou a criticar seus próprios apoiadores, que continuam a pressioná-lo a este respeito.
Aqui estão seis pontos importantes para entender melhor o caso Epstein e por que ele é motivo de preocupação para o governo americano.

Crédito, Getty Images
1. O que são os arquivos de Epstein?
Em 2008, Jeffrey Epstein firmou um acordo judicial com os promotores, quando os pais de uma menina de 14 anos declararam à polícia do Estado americano da Flórida que ele havia molestado a filha do casal, na casa dele em Palm Beach.
Fotos de meninas foram encontradas em toda a casa. Ele foi condenado por solicitar prostituição a uma menor de idade.
Epstein foi então incluído no registro federal de criminosos sexuais e, como resultado do acordo, escapou de uma severa pena de prisão.
Onze anos depois, Epstein foi acusado de administrar uma rede sexual com meninas menores de idade. Ele morreu na prisão enquanto aguardava julgamento e sua morte foi considerada suicídio.
Estas duas investigações criminais geraram uma vasta série de documentos. Eles incluem transcrições de entrevistas com as vítimas e testemunhas, além de objetos confiscados nas batidas em diversos imóveis de Epstein.
Houve também uma investigação separada sobre sua parceira de conspiração e ex-namorada britânica Ghislaine Maxwell. Ela foi condenada em 2021 por associação criminosa com Epstein para tráfico sexual de meninas.
Epstein e Maxwell também foram alvo de ações civis.

Crédito, Getty Images
2. O que é de conhecimento público sobre Epstein?
Em várias etapas ao longo dos anos, parte dos materiais relativos a Epstein e Maxwell chegou ao domínio público.
Um dos lotes, divulgado em janeiro de 2024, continha 1,4 mil páginas de registros, incluindo depoimentos de ambos.
Também veio a público uma série de documentos do caso Maxwell, mencionando diversas personalidades muito conhecidas. Mas eles não continham novas revelações sobre Epstein ou seus associados.
Em fevereiro deste ano (algumas semanas após a posse de Donald Trump), o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e o FBI publicaram o que foi descrito na época como a “primeira fase da divulgação dos arquivos de Epstein”.
Um grupo de influenciadores de direita foi convidado à Casa Branca, mas eles saíram muito desapontados ao perceberem que a maioria das 341 páginas entregues a eles era de material já publicado.
Os documentos incluíam registros de voo do avião de Epstein e uma versão não confidencial da sua agenda de contatos, contendo nomes de pessoas famosas conhecidas por ele.
Em julho, o Departamento de Justiça e o FBI divulgaram um memorando, declarando que não seria publicado novo material.

Crédito, Getty Images
3. Quem são as pessoas mencionadas nos arquivos de Epstein?
Segundo o jornal americano The Wall Street Journal, Trump é mencionado em documentos não publicados relativos ao caso Epstein. Ele foi informado da menção do seu nome pela procuradora-geral americana Pam Bondi, em maio deste ano.
O jornal destacou que a inclusão do seu nome nos arquivos não é evidência de crime.
A Casa Branca forneceu informações contraditórias em resposta a esta informação.
O porta-voz Steven Cheung reagiu, afirmando que a história é falsa. Mas uma autoridade não identificada declarou à agência de notícias Reuters que o governo americano não questionou a inclusão do nome de Donald Trump.
O conteúdo de eventuais documentos não divulgados permanece em sigilo, mas o material existente em domínio público menciona diversas personalidades conhecidas que mantinham conexão com Epstein.
Novamente, esta menção não traz nenhum indício de irregularidades por parte dessas pessoas.
Jackson já é falecido, mas o príncipe Andrew e o ex-presidente Clinton negam qualquer conhecimento dos crimes cometidos por Epstein.
Os documentos publicados se referiam ao caso da ex-namorada de Epstein, Ghislaine Maxwell. Atualmente, ela cumpre pena de 20 anos de prisão por tráfico sexual de menores.

Crédito, Getty Images
4. Existe uma lista de clientes de Epstein?
Houve indicações de que os arquivos de Epstein não divulgados poderiam conter uma certa lista de clientes, que talvez implicasse associados famosos, além de Maxwell, na sua operação criminosa.
No memorando de julho, o Departamento de Justiça americano e o FBI declararam que essa lista não existe. Mas as teorias da conspiração permanecem.
A suposta lista costuma ser confundida com os arquivos de Epstein como um todo. E houve observações de Pam Bondi que alimentaram esta confusão.
A declaração do Departamento de Justiça de Bondi, de que não existe uma lista de clientes, pareceu contradizer os próprios comentários da procuradora-geral, emitidos no início deste ano.
Questionada em fevereiro por um entrevistador da rede de TV americana Fox News sobre a suposta lista, Bondi respondeu que “ela está agora em cima da minha mesa para análise”.
O porta-voz de Bondi esclareceu posteriormente que ela se referia aos arquivos do caso Epstein em geral, não a uma suposta lista de clientes específica.

Crédito, Getty Images
5. O que sabemos sobre as relações entre Trump e Epstein?
Donald Trump e Jeffrey Epstein aparentemente foram amigos por vários anos e mantinham um círculo social similar.
Os arquivos publicados anteriormente mostram que os dados de Trump estavam na chamada agenda preta de contatos de Epstein. E os registros de voo também demonstraram que Trump voou no avião de Epstein em diversas ocasiões.
Eles foram fotografados juntos em eventos de elite nos anos 1990. Fotos recentemente publicadas pela rede de TV americana CNN supostamente mostram Epstein comparecendo ao casamento de Trump com sua ex-esposa, Marla Maples.
Em 2002, Trump descreveu Epstein como um “cara fantástico”. Epstein comentaria depois ter sido “o amigo mais próximo de Donald por 10 anos”.
Trump afirma que eles brigaram no início dos anos 2000, dois anos antes de Epstein ser preso pela primeira vez. E, em 2008, Trump dizia que não era “seu fã”.
A Casa Branca indicou recentemente que a briga foi relacionada ao comportamento de Epstein e que “o presidente o expulsou do seu clube por ser um tratante”.
Já o jornal americano The Washington Post sugeriu que a quebra do relacionamento se deveu à competição entre os dois em relação a certos imóveis na Flórida.

Crédito, Reuters
6. Por que estão todos tão interessados no caso Epstein?
Membros linha-dura do movimento de Trump conhecido como MAGA (“Tornar a América grande novamente”, na sigla em inglês) acreditam há muito tempo que as autoridades escondem verdades importantes sobre a vida e a morte de Jeffrey Epstein.
Alguns deles apresentam a teoria de que uma operação para molestar crianças estaria em operação nos mais altos níveis da sociedade americana e seria protegida pelo Estado. Esta teoria se espalhou através de mensagens criptografadas, postadas por um personagem conhecido pelo pseudônimo Q.
Em uma das teorias da conspiração apoiadas por influenciadores MAGA, Epstein seria um agente do governo israelense.
Existem muitas questões não respondidas sobre Epstein entre a população em geral. Elas incluem, especificamente, por que ele recebeu uma sentença tão leniente na Flórida; se ele e Maxwell realmente agiram sozinhos; e como ele conseguiu tirar a própria vida na prisão.
Trump e sua equipe promoveram as teorias durante a campanha eleitoral. Mas, agora que estão no poder, eles se mostraram incapazes de convencer sua base de apoiadores que não há mais perguntas a serem respondidas.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL