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7 de outubro de 2025

Londres: conheça Shoreditch, polo descolado da cidade – 30/09/2025 – Turismo

Londres: conheça Shoreditch, polo descolado da cidade – 30/09/2025 – Turismo

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Quem esteve na capital britânica durante o London Design Festival, entre os dias 13 e 21 de setembro, percebeu que grande parte da programação estava concentrada em um bairro que nem sempre faz parte do itinerário de brasileiros na cidade: Shoreditch, com seus antigos galpões hoje transmutados em galerias, brechós, restaurantes e espaços de festas underground.

O Shoreditch Design Triangle foi o maior distrito oficial do evento, com mais de cem atrações espalhadas por estúdios e showrooms, no mesmo formato de experiência urbana a estimular percursos a pé que havia sido testado e validado pelo festival SXSW meses antes.

Em sua primeira edição europeia, o tradicional evento de inovação South by Southwest, que tem sede em Austin, nos Estados Unidos, não aterrissou naquele bairro por acaso.

“Ao escolher Londres, olhamos para Shoreditch, onde as indústrias criativas se enraizaram e que, ao mesmo tempo, fica ao lado da City of London, onde se concentram muitas startups”, diz Katy Arnander, diretora de programação do evento, em conversa com a Folha. Para ela, essa vizinhança das indústrias criativas com a zona de negócios, finanças e tecnologia torna o lugar ideal para festivais do tipo.

Ajuda também o fato de que, além de efervescente, Shoreditch é totalmente caminhável. “Queríamos estar integrados ao tecido do bairro, aos espaços históricos daqui. O Truman Brewery, por exemplo, é uma antiga fábrica industrial que hoje recebe eventos o ano inteiro. Há igrejas lindíssimas, clubes icônicos e toda uma cena underground que o torna único para turistas em busca de experiências criativas e autênticas.”

O Shoreditch Hall, edifício histórico da região, é um bom exemplo da transformação pela qual o bairro vem passando. O prédio vitoriano já funcionou como sede da prefeitura local e chegou até a ser palco de inquéritos dos assassinatos atribuídos a Jack, o Estripador.

Hoje, o local é um hub artístico que recebe festas e exposições imersivas que ocupam desde os salões clássicos dos andares superiores até o enorme porão original, praticamente intocado, com seu labirinto de dezenas de salas interconectadas, tijolo aparente, lareiras antigas e canos à mostra.

Neste ano, a companhia de teatro britânica Darkfield usou o espaço para conduzir experiências em escuridão total usando áudio binaural 360º —o tipo de programa cada vez mais comum de se fazer em Shoreditch e que pode ser complementado com passeio pelos bares e restaurantes do entorno, perfeito para roteiros noturnos.

Vale lembrar que, no início do ano, o próprio prefeito de Londres, Sadiq Khan, já havia anunciado a chamada economia da experiência como um dos setores prioritários de crescimento da cidade.

E caminhar por Shoreditch é, de fato, uma experiência por si só, mesmo para quem já está acostumado ao ar mais cool do leste de Londres, que oferece ao turista uma camada a mais no combo beber-comer-comprar.

Entre um restaurante Michelin e outro, aparecem ateliês de artistas independentes, lojas de artesanato autoral, brechós escondidos, cafés minúsculos, murais de arte urbana e vitrines que parecem instalações de arte. Foi lá, por exemplo, que a japonesa Nakagawa escolheu abrir, neste mês, sua primeira pop-up europeia, onde é possível não só comprar artesanato nipônico, mas também participar de workshops da tradicional cerimônia do chá.

Essas vivências são parte do charme do bairro, que antes funcionava como coração da indústria moveleira londrina. Dessa época herdou seus enormes galpões, estruturas industriais ainda aparentes e letreiros desbotados das antigas fábricas de móveis e seus elegantes prédios de tijolo aparente. Se antes era palco fabril, hoje virou vitrine: estão baseados lá alguns dos designers de móveis mais disputados da cidade.

Para quem busca entender o look de Shoreditch e fazer compras com a cara do lugar, a pedida é uma caminhada a pé pela rua Redchurch, onde estão marcas como Sunspel, Labour and Wait e Studio Nicholson, além da multimarcas Atelier Three, cujo espaço também funciona como minigaleria.

O boom de abertura de estabelecimentos gastronômicos também vem recolocando o bairro no mapa —e fazendo aumentar os aluguéis e preços de hotéis. Entre os lugares que merecem a visita estão o Clove Club, restaurante de menu-degustação sem frescura, o indiano Dishoom e o Bun House Disco, que combina bar e clube ao estilo Hong-Kong dos anos 1980.

Para um drinque mais elaborado, vale a ida ao Elementary+Tayēr, um bar em dois atos que começa em um ambiente casual e segue para um salão mais exclusivo em que a carta muda todo dia.

A abertura de galerias também reorganizou o centro gravitacional da arte em Londres. A Nicoletti Gallery, por exemplo, migrou para um galpão em Shoreditch em 2024, buscando se aproximar de uma cena artística mais dinâmica, e a SLQS Gallery abriu neste ano com foco em mulheres e artistas queer.

Para quem busca Londres além do cartão-postal, Shoreditch é aposta certa: uma mistura de arte, tecnologia e hospitalidade feita para ser experimentada sem pressa, tirando o turista do papel de espectador e colocando-o no centro da vida pulsante do bairro.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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