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6 de outubro de 2025

Lyon une arquitetura renascentista e gastronomia de Bocuse – 06/10/2025 – Turismo

Lyon une arquitetura renascentista e gastronomia de Bocuse – 06/10/2025 – Turismo

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Com uma barra de ferro nas mãos, um homem foi até o relógio astronômico da catedral de São João, em Lyon, e o golpeou várias vezes em março de 2013. “O esplendor do relógio impedia os fiéis de se concentrarem em suas orações”, disse o fanático, levado por policiais a um hospital psiquiátrico.

O gesto chocou a população da terceira maior cidade da França porque não se trata de um relógio qualquer. Historiadores estimam que tenha sido construído em 1379, o que faz dele um dos mais antigos da Europa.

Além da longevidade, chama a atenção o funcionamento engenhoso da máquina, que faz parte de uma torre de 9 metros instalada ao lado do altar. Além das funções convencionais de um relógio, tem um astrolábio que indica a posição das estrelas e dos planetas, mostra as datas dos eclipses e aponta as próximas luas novas, entre outros recursos ligados à astronomia. É ainda uma espécie de almanaque, que lista os feriados religiosos das próximas décadas.

Em setembro do ano passado, depois do trabalho de um grupo de restauradores, as esculturas de santos e anjos –os autômatos– voltaram a se movimentar em torno da torre ao meio-dia, às 14h, às 15h e às 16h. Lyon, então, pôde saudar o retorno de uma das suas preciosidades. E não são poucas as atrações históricas desse que é o maior centro da região de Auvergne-Rhône-Alpes, com uma área metropolitana que ultrapassa 2 milhões de habitantes.

Construída ao longo de três séculos, do 12 ao 15, às margens do rio Saône, a Catedral de São João é um bom ponto de partida para um passeio pela Velha Lyon, o principal bairro renascentista da cidade.

Em boa parte das ruas medievais, a passagem de carros é proibida, o que torna o passeio mais agradável. Fique atento às traboules, palavra oriunda do latim: “trans ambulare”, que significa atravessar. São corredores que levam de uma rua para outra por meio do interior dos prédios.

Muitas vezes sinuosas, as traboules nos conduzem a pátios internos, onde é possível admirar escadas em forma de espiral, tetos em formato esférico e outras marcas da arquitetura renascentista.

Talvez no intuito de reforçar uma aura de mistério, alguns guias online de turismo se referem às traboules como “passagens secretas”. Ainda eram assim na Segunda Guerra, quando foram usadas para reuniões sigilosas por membros da resistência contra os nazistas. Hoje são pontos turísticos bem conhecidos.

No bairro, considerado patrimônio mundial pela Unesco, há ainda uma infinidade de lojas de produtos locais e galerias de arte, além das “bouchons” (bistrôs) e dos bares.

Parte expressiva do comércio de seda, uma antiga marca da economia da cidade, está nessa área. Vale a pena conhecer a Soierie Saint-Georges, que fica a cinco minutos a pé de Bellecour, a mais famosa praça de Lyon.

Além da venda de tecidos, o espaço tem uma oficina, onde os proprietários manuseiam antigos teares, lembrando técnicas usadas há séculos. É preciso fazer reserva para acompanhar a experiência.

A partir da Velha Lyon, é possível chegar ao bairro vizinho, Fourvière, pelas escadarias. Mas é preciso um preparo físico razoável, a mais longa delas tem 798 degraus. Para ganhar tempo, recorra a um dos funiculares. Um deles leva à Basílica Nossa Senhora de Fourvière.

Construída na segunda metade do século 18 no alto da colina de Fourvière, a basílica reúne belos vitrais. O melhor, contudo, está na praça no entorno da igreja, que oferece uma vista exuberante da cidade, com os edifícios renascentistas da Velha Lyon, as torres envidraçadas da área financeira e os subúrbios.

Lyon foi fundada pelos romanos em 43 a.C. justamente em Fourvière. A principal marca desses primórdios é o enorme teatro romano, descoberto há pouco mais de 80 anos depois de escavações conduzidas por um grupo de freiras. Ao lado do teatro a céu aberto, onde acontecem shows, fica o museu da civilização galo-romana e o parque arqueológico de Lyon Fourvière.

Nem só de história e arquitetura vive Lyon. A cidade também é lembrada como a capital da boa comida francesa, portanto uma parada indispensável para aqueles que percorrem os núcleos urbanos que compõem o Vale da Gastronomia.

Além dos excelentes queijos, como o Saint-Marcellin (curado, parte da família brie), Lyon se notabiliza pela variedade de linguiças e salsichas. Não deixe de provar ainda as quenelles, bolinhos preparados com farinha de rosca umedecida, gordura de vitela, lúcio (um peixe de água doce), farinha e creme.

Mas o título de terra da gastronomia não se deve apenas à fartura de pratos e sobremesas criados ou aprimorados em Lyon. A fama se consolidou graças a Paul Bocuse, nascido na pequenina Collonges-au-Mont-d’Or, ao norte de Lyon.

Fundado em 1924, o restaurante L’Auberge du Pont de Collonges começou a ganhar fama mundial a partir do final da década de 1950, quando Bocuse, um dos criadores da “nouvelle cuisine”, assumiu o comando do lugar.

Ninguém melhor do que ele soube tirar proveito dos ingredientes da região de Auvergne-Rhône-Alpes, um talento que, associado ao rigor, levou Bocuse a ser escolhido o “chef do século” pela Culinary Institute of America, prestigiosa escola de Nova York, em 2011.

Os pratos do L’Auberge du Pont de Collonges custam, em média, 100 euros cada um. Se o alto custo não é exatamente um entrave para você, vá em frente. Para a maioria dos turistas, no entanto, há uma experiência bem mais em conta, que é conhecer o Mercado Paul Bocuse, na Cours Lafayette, uma das principais vias de Lyon.

Um dos espaços no mercado é mantido pela família do chef, que morreu em 2018. Oferece azeites, terrines, quenelles, geleias, entre tantos outros itens com a grife Bocuse. Visite também La Mère Richard, tradicional queijaria que oferece produtos das fazendas da região.

Em uma das pâtisseries do mercado, como a Seve, prove a torta de praliné, feita com amêndoas torradas –é outra atração da gastronomia local.

Lyon é ainda um ponto bem localizado para quem viaja em busca de vinhos. “Está no centro de três regiões vinícolas importantes. Ao norte, a cerca de 30 minutos, está Beaujolais. Se seguirmos um pouco mais ao norte, chegamos à Borgonha. E a 30 minutos ao sul, o Vale do Rhône”, diz Pryscila Gashi, sommelière brasileira que vive há mais de 15 anos na França.

Ela indica três vinícolas de fácil acesso para quem está hospedado em Lyon. Em todas, é possível fazer reserva online.

A primeira é Vignerons des Pierres Dorées, em Saint-Vérand, na região de Beaujolais. “É uma cave de uma cooperativa local em um dos mais belos vilarejos da França”, afirma a sommelière, que tem atuado com frequência como jurada de concursos internacionais de vinho.

Outra recomendada por ela é Château de Pizay, em Belleville-en-Beaujolais. “É um bonito castelo, com um percurso interativo para entender os vinhos do Beaujolais e o processo de vinificação.”

Essas duas primeiras vinícolas ficam a pouco mais de 40 minutos de carro de Lyon.

A terceira é a Cave de Tain, em Tain L’Hermitage, às margens do rio Rhône. Além das vinícolas, o lugar é conhecido como a cidade-sede da marca de chocolate Valrhona.

Tain L’Hermitage é um pouco mais distante de Lyon quando comparada às dicas anteriores. A melhor opção é o trem, que demora uma hora.

O jornalista viajou a convite da Air France



Fonte.:Folha de S.Paulo

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