Estive recentemente numa ilha que tem área equivalente a um quarto de Marajó (PA) e recebe por ano praticamente o dobro de todos os turistas que visitam o Brasil. Tem um tempinho para a gente falar de Maiorca?
Eu que amo a Espanha tinha essa lacuna no meu currículo: as ilhas baleares. Elas apareceram no meu radar na virada dos anos 80 para os 90 – e a porta da entrada foi a música.
Os “ballearic beats” dominavam as pistas de dança de então, um subgênero clubber, meio psicodélico, meio dançante, certamente subversivo em certos graves capazes de destruir os melhores woofers dos DJs daquela época.
Essa utopia lisérgica-dançante seria, na década seguinte, arruinada pela proliferação de compilações na linha “Café del Mar”. Mas aí as baleares já estavam fixadas no meu imaginário.
Ibiza era o cálice sagrado, a mais hedonista delas. Na época eu já teria ficado feliz em visitar qualquer uma, mas convite chegou com três décadas de atraso. Ainda bem.
Desembarquei dias atrás no gigantesco aeroporto de Palma, a capital de Maiorca. Ibiza, Minorca, Formenteria – essas ficariam para uma próxima viagem. Meu foco ali seria a ilha principal do arquipélago no Mediterrâneo.
A esta altura da minha vida, busco menos uma experiência senso-esotérica do que um refúgio cultural e eventualmente paradisíaco. E foi exatamente o que encontrei por lá.
De um vermute na praça de Pollença a uma “sobrasada” (um patê forte de carne de porco) que preparei no Moltak, em Palma; do mirador de Colomer às salinas d’Es Trenc; do Four Seasons ao Palácio Can Marques – vivi dias intensos em Maiorca.
E já adianto: vou precisar de mais de uma coluna para descrever essas experiências. Só para ilustrar, a luz do sol filtrada pelos vitrais coloridos no interior da catedral de Palma já mereceria um texto por si só. E outro para o altar “submarino” assinado pelo artista contemporâneo Miquel Barceló naquela construção gótica do século 14.
Agora, no entanto, quero ocupar as linhas que ainda tenho aqui para a estender a cutucada que talvez tenha passado despercebida lá em cima: uma ilha bem menor que Marajó recebe o dobro de turista que o Brasil.
Nem de longe, com essa comparação, quero desmerecer Marajó. Essa preciosidade do meu querido Pará merecia ser a anfitriã do triplo dos visitantes de Maiorca. Assim como nosso lindos Lençóis Maranhenses. As cidades da Estrada Real em Minas. As praias de Alagoas. O incomparável Pantanal, etc.
Minha maior questão, desde que eu comecei a pensar sério sobre turismo é: por que o Brasil avança a passos tão curtos nesse setor que notoriamente é uma mina de ouro?
Os atrativos de Maiorca são vários. História? Você pode se perder na beleza dela. Gastronomia? Fiquei triste de deixar a ilha sem experimentar todos seus sabores. Natureza? De tirar o fôlego. A diferença é que os “maiorquís” tiram o melhor proveito disso. E o turismo só cresce por lá.
Quando voltar aqui vou explicar melhor as razões disso. Mas até lá eu vou insistir na provocação: já pensou se um dia o Brasil acordar para o turismo?
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Fonte.:Folha de S.Paulo