Um estudo realizado na Holanda pode mudar a forma como mulheres no mundo inteiro fazem o rastreamento do câncer de mama. Pesquisadores avaliaram mais de 42 mil mamografias e descobriram que a combinação entre radiologistas e inteligência artificial (IA) aumenta a precisão na detecção de tumores e pode reduzir a carga de trabalho dos profissionais de saúde.
O rastreamento do câncer de mama é responsável por salvar milhares de vidas todos os anos, já que permite identificar tumores em estágios iniciais, quando as chances de cura são muito maiores.
Hoje, a recomendação em grande parte da Europa é que cada mamografia seja analisada por dois radiologistas — processo chamado de “dupla leitura” — para diminuir o risco de falhas. Esse modelo, porém, exige tempo e especialistas altamente treinados. Em um cenário de demanda crescente e escassez de profissionais, a inteligência artificial surge como uma aliada promissora.
+Leia também:EUA recomendam mamografia a cada 2 anos para mulheres a partir dos 40 anos
Como a inteligência artificial pode tornar a mamografia mais precisa?
Entre 2016 e 2018, pesquisadores aplicaram um sistema de IA a 42.236 mamografias do programa nacional de rastreamento da Holanda. Foram comparadas quatro estratégias:
- Leitura humana única;
- Dupla leitura (padrão atual);
- IA sozinha;
- Radiologista com apoio da IA.
Os resultados mostraram que, quando usada como “segunda leitora”, a IA aumentou em 8,4% a detecção de câncer em relação à dupla leitura humana.
Muitos dos tumores identificados apenas pela IA eram invasivos ou maiores que 20 mm, o que indica que poderiam evoluir para casos graves se não fossem detectados precocemente.
+ Leia também: PET-CT com PSMA: revolução no diagnóstico e tratamento do câncer de próstata
IA na saúde: ganhos, desafios e a situação no Brasil
A tecnologia também demonstrou eficiência em mulheres com alta densidade mamária — condição que geralmente dificulta a análise das imagens. Por outro lado, houve aumento na taxa de recall, quando a paciente precisa retornar para exames complementares.
Isso exige protocolos claros para evitar sobrecarga no sistema de saúde e ansiedade desnecessária. Outro ponto relevante é a necessidade de validar os algoritmos em diferentes países, já que variam a qualidade dos equipamentos, a organização dos programas de rastreamento e a realidade da infraestrutura médica.
No Brasil, a cobertura do rastreamento mamográfico pelo SUS não passa de 25% do público-alvo, muito abaixo da meta de 70% recomendada pela Organização Mundial da Saúde. A oferta desigual de exames, a falta de estrutura tecnológica e a ausência de programas organizados são entraves históricos.
Para especialistas, a IA pode aumentar a eficiência e reduzir os diagnósticos em estágios avançados, mas somente se vier acompanhada de investimentos em infraestrutura digital, treinamento das equipes e planejamento adequado.
IA não substitui o médico, mas atua como aliada
Os resultados reforçam que a inteligência artificial não deve substituir os radiologistas, mas atuar como uma segunda opinião capaz de identificar tumores que poderiam passar despercebidos. Se bem integrada, a tecnologia pode ampliar o acesso a diagnósticos precoces e salvar vidas.
“A IA é uma ferramenta promissora, mas que precisa ser aplicada com responsabilidade e alinhada aos sistemas de saúde”, destacam os pesquisadores.
Felipe Roth Vargas, médico radiologista e membro da Brazil Health
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)
Fonte.:Saúde Abril