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26 de junho de 2025

Maragogi tem piscinais naturais e praias estonteantes – 25/06/2025 – Turismo

Maragogi tem piscinais naturais e praias estonteantes – 25/06/2025 – Turismo

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Nas ondas do mar, eis que surge uma piscina natural de águas cristalinas e temperatura agradável, convidativa para um banho sob o sol. Dá para ver, ao fundo, os pés em movimento, numa área cercada de água salgada sem muvuca ou multidão. Estamos naquela que é considerada a segunda maior barreira de corais em biodiversidade do planeta, ao norte de Alagoas, estado consagrado pela cor singular do mar, ora verde-esmeralda, ora azul-turquesa.

Ainda pouco explorada, a croa de São Bento, banco de areia que fica acima do nível da água, é um lugar de beleza singular entre as piscinas naturais que colocaram Maragogi na rota das praias mais admiradas do Brasil. Não à toa, figura entre as mais belas tanto do Nordeste quanto do Brasil, de acordo com o Datafolha, em cuja pesquisa foram citados cerca de 190 nomes de praias.

Os entrevistados pelo instituto também elegeram as praias Porto de Galinhas (PE), Fortaleza e Jericoacoara (CE), Pipa e Natal (RN), além da capital alagoana, Maceió, entre as melhores do Nordeste. Quando o levantamento se estendeu para todo o litoral brasileiro, com mais de 7.000 quilômetros de costa, apareceram também as praias de Ubatuba, no litoral norte paulista, e de Fernando de Noronha (PE) ao lado de Maragogi.

Com pouco mais de 32 mil habitantes, a cidade, ao mesmo tempo que ostenta praias tranquilas, de mar calminho, assiste a uma onda desenfreada de turistas que ameaçam seus corais, próximos à orla, vítimas também do impacto do aquecimento global.

A indústria do turismo é a principal fonte de renda de Maragogi, mas é preciso investir em informação e em campanhas de preservação das belezas naturais para que a visitação não destrua o maior patrimônio da região.

A cidade ainda mantém a pesca artesanal, de modo que não é raro avistar jangadas desde cedo no mar. Embarcações de passeio saem diariamente rumo às galés, conjunto de piscinas naturais formadas entre os recifes de corais, que são verdadeiros aquários naturais, nos quais, com o uso de snorkel, se veem peixes, crustáceos e corais de espécies variadas.

A praia de São Bento, cuja croa fica distante apenas 3 km da costa, é a primeira, indo de sul ao norte, rumo à divisa com Pernambuco. Lá, a fabricação do bolinho de goma —guloseima à base de leite de coco e gema de ovo— é outro espetáculo, este produzido por mãos humanas, como as de Marlene de Lima dos Santos, de 69 anos, “a rainha do sequilho”. A embaixadora da guloseima local dedica-se ao ofício desde os seus 25 anos de idade.

A especialidade, todavia, é apenas para aguçar o paladar. O banquete, mesmo, é aquele oferecido pela natureza.

Os pequeninos e charmosos barquinhos de madeira que navegam em direção à croa partem do povoado de São Bento, quase na divisa com Japaratinga, cidade que ainda não entrou na rota do turismo de massas.

Para agendar os passeios às galés ou às croas, é indispensável acompanhar o movimento das marés. Influenciadas pela força gravitacional do Sol e, sobretudo, da Lua, elas ditam a rotina daquelas bandas. Em suma, o horário de saída da embarcação é definido pela tábua das marés.

O ideal é que ela esteja próxima de 0.0, o nível mais baixo. Uma dica para aproveitar melhor Maragogi é viajar em tempos de lua cheia ou lua nova, períodos em que as marés tendem a ficar mais vazias.

Outro fator que influencia o visual desses aquários naturais é a chuva. Entre abril e agosto, costuma chover mais na região, o que acaba diminuindo a transparência da água do mar.

O que torna Maragogi um destino de praia tão fascinante é justamente a localização das piscinas naturais, próximas à barreira de coral e também perto da costa, a aproximadamente 6 km da areia firme.

Galés é a mais concorrida e, graças à sua formação, é mais funda, com pequenas cavernas que podem abrigar vida marinha diversa. Taocas é a menor, o que favorece, consequentemente, um número reduzido de turistas.

Todas elas estão localizadas na Costa dos Corais, APA (Área de Preservação Ambiental), com cerca de 120 km de extensão, situada entre o município de Tamandaré (PE) e o norte de Maceió (AL). Entretanto, em direção ao Atlântico, o seu limite é a quebra de plataforma, conhecida pelos pescadores como “parede”, distante mais ou menos 30 km da praia.

Última cidade do “Caribe Brasileiro”, apelido das praias de Alagoas, Maragogi já conta com ótimas opções de hospedagem, mas ainda deixa muito a desejar na questão gastronômica.

A importância de preservar os corais não se restringe ao território alagoano. É um problema que se estende por toda a costa brasileira, como reconhece o ICMBio, órgão federal responsável por gerir a área de proteção ambiental.

Pisoteio nos recifes, quebra de corais pelo choque com embarcações, desequilíbrio da comunidade de peixes em função da oferta de alimentos, cobertura do recife pela areia, que é suspensa pela movimentação de embarcações e de turistas nas piscinas, estão entre os danos ocasionados pelo turismo em ambientes recifais.

Questionada sobre ações para mitigar o turismo predatório, a prefeitura respondeu que investe em programas de plantação e restauração de corais, além de destinar recursos para educação ambiental.

Destacou, porém, que “a questão do aquecimento global, uma das maiores ameaças aos recifes, ultrapassa a competência do município e exige ações articuladas com os governos estadual e federal, além de parcerias com o setor privado e instituições científicas”.

Corais costumam ser comparados por pesquisadores com o coração dos oceanos, responsáveis por fornecer abrigo e alimento a inúmeras espécies marinhas.

O desafio dessas unidades de conservação, no entanto, é buscar o equilíbrio entre a visitação e a preservação. A solução encontrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade consiste em dividir as áreas: de um lado, os locais com acesso restrito, visando à preservação e à recuperação recifal, e, do outro, espaços de visitação, minimizando impactos e proporcionando uma experiência voltada à conscientização e à conservação.

Ao longo de mais ou menos 22 km de extensão, Maragogi oferece ao visitante dez praias, sendo a mais movimentada a que compartilha com o município o nome, herdado do principal rio da região. Situa-se no centro, lugar de onde saem as embarcações de passeio.

As janelas também se abrem a outros areais repletos de coqueirais, como as praias de Burgalhau, Barra Grande, Antunes e Peroba —esta última fica a cerca de 15 km da região central, bem na divisa com o estado de Pernambuco. Mar sem arrebentação, com águas de cor turquesa, um convite para um mergulho contemplativo.

Além desse pacote completo, São Bento, com sua croa e seu bolo de goma, reserva uma visita às ruínas do Mosteiro de São Bento, obra do período colonial, erguida no século 17, com o intuito de servir tanto como um refúgio espiritual quanto como ponto estratégico de defesa contra invasões piratas.

Fica no alto de um morro, área de ângulo privilegiado para contemplar o mar de Maragogi, antigo povoado então chamado de Gamela. A cidade, que teve como empurrão o turismo, hoje se encontra ante o dilema de conciliar o crescimento com o zelo pelos encantos naturais que fizeram dela um paradisíaco refúgio das Alagoas.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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