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5 de outubro de 2025

Martín Fierro completa 45 anos com vinhos na Vila Madalena – 25/09/2025 – Isabelle Moreira Lima

Martín Fierro completa 45 anos com vinhos na Vila Madalena – 25/09/2025 – Isabelle Moreira Lima

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Ter as portas de um restaurante abertas por 45 anos no Brasil é um feito incrível. Neste período, foram nove presidentes, muitos planos econômicos, outras tantas crises, uma pandemia e muitas mudanças nos costumes, na cultura, na cidade, no planeta. Para comemorar a superação dos desafios e tantas alegrias — além de tantas empanadas e taças que rolaram pelo salão — a argentina Ana Massochi, fundadora do restaurante Martín Fierro, em São Paulo, apostou numa dupla infalível: amigos e vinho.

A casa especializada em carnes e outros clássicos argentinos como a morcilla e as mollejas sempre teve o vinho como um de seus pilares. Massochi se orgulha ao dizer que o restaurante, nascido em 1980 em uma garagem da rua Wizard, foi o primeiro da Vila Madalena a servir vinho em taças, que saiam de garrafões de cinco litros da Granja União nas versões tinto e branco.

Seu primeiro investimento foi uma adega, escolha que veio antes mesmo de uma câmara frigorífica. “Foi uma loucura só minha, era uma época que quase nem se bebia vinho no Brasil”, diz Massochi, que tinha 27 anos quando chegou ao país com a formação de assistente social.

Ela conta também que graças à parceria com a importadora Expand, já extinta, foi a primeira a vender a linha Zuccardi Q, que era então o topo de linha da célebre vinícola argentina. Entendo o tamanho desse sucesso, pois tive a sorte de provar o Zuccardi Q Tempranillo 1993, há dois anos, e caí de amores; saí da degustação certa de comprar uma caixa para propositalmente esquecê-la por três décadas. (Infelizmente, não levei o plano a cabo. Ainda.)

A linha Q, embora deliciosa, não é mais a principal; hoje a Zuccardi faz vinhos de parcela, seguindo a lógica de crus francesa, e já têm rótulos de 100 pontos, como o Finca Piedra Infinita Gravascal.

Outra vinícola argentina gigante, a Catena também deixou seu rastro no Martín Fierro, quando Ernesto Catena visitou a cidade e mandou um recado para Massochi: sua humita, a empanada de milho, era a favorita.

Nos últimos tempos, no entanto, Massochi deixou para lá essas vinícolas famosas. Ficaram grandes demais e ela se apegou aos pequenos produtores. Há mais de dez anos, começou a se interessar pelos vinhos orgânicos, o que gerou uma batalha com os clientes. Sim, parece loucura, mas houve uma época em que o vinho orgânico era olhado com desconfiança, como algo “inferior”, de má qualidade. Ufa que esse tempo passou.

Ao longo da vida do Martín Fierro, para a escolha dos vinhos, Massochi teve a ajuda de gente como Jonathan Nossiter, diretor do já clássico “Mondovino” (2004), e da sommelière e enóloga uruguaia Camila Ciganda. Hoje, ela mesma faz a seleção, com a ajuda de sua equipe. “Mas estou esperando uma carta que Daniela (Bravin) e Cássia (Campos) estão fazendo para mim — há três anos”, diz em tom de piada, como só se faz com os amigos. E nisso Massochi é boa também, é carisma puro.

Para comemorar os 45 anos, a argentina selecionou dois vinhos para estampar com o nome do restaurante. O tinto veio de Lujan de Cuyo, Mendoza, um malbec quente, com 14,5% de álcool, notas de frutas vermelhas e pretas maduras e muita maciez. Feito pela vinícola Miguel Minni, tem passagem em carvalho, que lhe dá um tanino aveludado e vai bem com boa parte do cardápio, que inclui choripan, mollejas e os melhores cortes argentinos.

Já o branco vem de Casablanca, no Chile, feito no projeto Manos Andinas da Trasiego Wines, com a salinidade que é comum na região, mas mais corpo, estrutura e álcool (13%). Bom para as massas cremosas, a caponata, os legumes na brasa. Ambos custam R$ 155 a garrafa e R$ 39 a taça. Vale dizer também que, apesar do foco em vinho, o restaurante não cobra a taxa de rolha. “A primeira, porque também não sou a Madre Teresa de Calcutá”, diz Massochi antes de soltar uma gargalhada.

Até aqui, muito vinho. Mas e os amigos? Sempre encheram o salão e agora fazem praticamente uma micareta de comemoração, que inclui, entre outros, um sanduíche assinado pela chef Paola Carosella no menu da casa em outubro.

Vai uma taça?

Ficou com vontade de tomar um vinho argentino, né? O Turbio Cruza de Blancas Ravera Mendoza (R$ 136 na Toque de Vinho) é natural e mescla sauvignon blanc, chardonnay, sémillon e ugni blanc. Um rosé bem chic é o Susana Balbo Signature (R$ 167 na Viva Vinho), que impressiona da garrafa até minutos depois do gole. E um tinto de preço bom é o Altos Las Hormigas La Danza Malbec (R$ 90 na World Wine), de médio corpo e boa fruta.


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Fonte.:Folha de São Paulo

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