Na cultura de desenhos animados e dos quadrinhos, a imagem de uma lâmpada simboliza o surgimento de uma ideia brilhante. E esta notícia talvez seja o ponto de intersecção entre a fantasia e a ciência.
Estudiosos descobriram que o cérebro humano emite luz com capacidade para atravessar o crânio. Os achados fazem parte de um novo estudo publicado no periódico iScience, da revista Cell Press.
Diferente da claridade de uma luz incandescente, o fenômeno envolve partículas fracas de luz, chamadas fótons, provenientes de processos metabólicos e elétricos do órgão.
A pesquisa aponta ainda que as emissões refletem mudanças no estado cognitivo, o que sugere que a luz possa carregar informações pelo órgão. Os autores avaliam que os resultados possam abrir novos caminhos para o estudo da função cerebral.
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O neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, professor livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explica que todos os tecidos vivos emitem pequenas quantidades de luz.
“Esse fenômeno está relacionado ao conceito de emissões ultra-fracas de fótons, que são liberadas como resultado de reações químicas e do metabolismo celular”, contextualiza Gomes.
“Durante essas reações, os elétrons excitados liberam fótons, resultando em uma emissão contínua de luz em intensidades extremamente baixas”, continua o médico.
De maneira resumida, as emissões ultra-fracas de fótons (EUFs) são radiações luminosas emitidas por tecidos biológicos, com intensidades muito baixas e geralmente fora da faixa visível.
“As EUFs são consideradas uma forma de comunicação entre células, o que pode ter implicações na forma como elas interagem e processam informações internamente”, acrescenta.
Para observá-las, os pesquisadores utilizam técnicas sensíveis, como câmaras de baixa luz ou fotomultiplicadores, que podem detectar esses níveis fracos de luz. Essas tecnologias permitem medir a quantidade de fótons emitidos e analisar variações em diferentes condições experimentais ou em resposta a atividades cognitivas ou metabólicas.
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Novas perspectivas
Para chegar aos resultados, os cientistas recrutaram 20 pessoas adultas e saudáveis, que foram orientadas a seguir instruções básicas enquanto estavam sentadas em uma sala escura.
Com a utilização de sensores de luz e de atividade elétrica cerebral, os voluntários foram monitorados em sessões de 10 minutos. Nesse tempo, os participantes foram solicitados a realizar diferentes ações, como permanecer de olhos abertos ou fechados, além de receber estímulos sonoros, permitindo a análise da atividade cerebral e a emissão de luz.
“Os achados do estudo são importantes, pois abrem novas perspectivas sobre a função e a dinâmica do cérebro. A ideia de que a luz emitida pelo órgão esteja relacionada ao processamento de informações sugere que esses fótons podem desempenhar um papel na comunicação celular e na sincronização neuronal”, avalia o neurocientista.
A compreensão de como essas emissões estão associadas com a atividade cerebral pode levar ao desenvolvimento de novas abordagens para diagnósticos e tratamentos de problemas neurológicos, como doenças neurodegenerativas e distúrbios psiquiátricos.
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“A medição de emissões de luz poderia ser uma maneira inovadora de detectar alterações no órgão, tornando o diagnóstico de problemas mais ágil. Ou, se elas desempenham um papel na comunicação cerebral, pode ser possível desenvolver terapias que modifiquem esses sinais de luz”, acrescenta.
Estudos sobre o tema também podem ajudar a elucidar como as células nervosas se comunicam entre si, oferecendo insights sobre aprendizado e a transmissão de impulsos nervosos.
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Fonte.:Saúde Abril