A eleição desta terça-feira (4) apresenta três candidatos a prefeito de Miami provenientes de dinastias políticas. Um deles é o ex-prefeito Xavier Suarez, 76, pai do atual prefeito, Francis X. Suarez, que não pode disputar a reeleição porque já está em segundo mandato. Outro é o também ex-prefeito Joe Carollo, 70, cujo irmão, Frank, disputa uma vaga na Câmara Municipal
A complexa disputa entre clãs não para por aí. O republicano Joe Carollo e o independente (mas ex-democrata e ex-republicano) Xavier Suarez concorreram um contra o outro em 1997, em uma eleição notória que terminou com um juiz anulando a vitória de Suarez e nomeando Carollo prefeito após constatar fraude eleitoral generalizada (Suarez não foi acusado de irregularidades).
Em uma cidade conhecida por eleições excêntricas, a disputa pela prefeitura de Miami deste ano é especialmente rica em histórias pessoais e rivalidades antigas, com grandes questões sobre o crescimento, custo de vida e competência administrativa em jogo.
Treze candidatos disputam o cargo de prefeito municipal, um posto com poderes limitados —ao contrário do chefe do condado de Miami-Dade, que possui uma atuação executiva mais ampla. O prefeito da cidade pode vetar leis e apontar ou demitir o gerente municipal (city manager), responsável pelas operações cotidianas da cidade. Caso nenhum candidato obtenha mais de 50% dos votos, os dois mais votados disputarão o segundo turno em 9 de dezembro.
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Embora a disputa não tenha matiz partidário, a política nacional permeou a campanha na cidade onde o presidente Donald Trump planeja construir sua futura biblioteca presidencial. Uma vitória de um candidato democrata poderia ajudar a evitar que o partido se torne irrelevante em Miami-Dade, que já foi um de seus redutos, mas tem se inclinado ao Partido Republicano desde 2022.
Com cerca de meio milhão de habitantes, Miami votou 50% em Kamala Harris e 49% em Trump no ano passado, segundo o Miami Herald. Eleitores democratas superam os republicanos em cerca de cinco pontos percentuais, conforme dados do supervisor eleitoral do condado.
A cidade prosperou durante a pandemia de coronavírus e tem um agitado 2026 pela frente, com jogos da Copa do Mundo e a inauguração do novo estádio do Inter Miami, de Lionel Messi. Mas o brilho da cidade esconde escândalos de governança e desafios significativos no custo de vida.
Para os críticos mais duros do governo municipal —alguns deles candidatos—, a imagem de Miami para o país e o mundo foi manchada pela corrupção e pela falta de liderança do atual prefeito, Francis X. Suarez, que chegou a disputar brevemente a nomeação republicana à Presidência em 2023. Segundo eles, esta eleição deveria romper com a política de compadrio do passado.
“Existe um custo reputacional para a disfunção que existe hoje na cidade de Miami”, disse Emilio T. González, ex-gerente municipal e candidato a prefeito, em um debate no mês passado. “E isso precisa acabar.”
Dois anos atrás, um júri federal considerou Joe Carollo, então presidente da Câmara Municipal, responsável por mais de US$ 63 milhões em danos após dois empresários o acusarem de enviar fiscais aos seus bares e restaurantes em retaliação política. Um tribunal de apelação manteve a decisão neste verão.
Outro candidato a prefeito, Alex Díaz de la Portilla, 61, foi suspenso da Câmara pelo governador Ron DeSantis em 2023, após acusações de suborno e lavagem de dinheiro. Díaz de la Portilla, republicano, perdeu a eleição seguinte, e em 2024 os promotores retiraram as acusações. Além dele, dois de seus irmãos também ocuparam cargos eletivos.
Talvez nem houvesse eleição, se o candidato González não tivesse aberto um processo após o prefeito e três dos cinco vereadores tentarem adiar o pleito para novembro de 2026. Eles argumentaram que a mudança economizaria dinheiro e aumentaria a participação, mas também daria um ano extra de mandato a alguns dos atuais eleitos, incluindo o prefeito.
Um juiz estadual decidiu em julho que tal mudança exigiria aprovação dos eleitores, e a sentença foi confirmada por um tribunal de apelação. A eleição foi mantida.
González, 68, republicano que dirigiu o Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA sob o governo de George W. Bush, tem o apoio de DeSantis e dos senadores Rick Scott, da Flórida, e Ted Cruz, do Texas. O partido democrata local o rotulou de candidato Maga, embora Trump não tenha endossado ninguém.
A maioria dos candidatos trata Eileen Higgins, representante de um dos distritos de Miami-Dade, como favorita presumida, disputando entre si o segundo lugar para chegar ao segundo turno. A democrata Higgins, 61, tem se destacado pela capacidade de construir consenso. Caso vença, será a primeira mulher prefeita de Miami.
“Não haverá gritaria”, disse ela no debate do mês passado, sobre como seria sua gestão. “Não haverá drama. Será tranquila, determinada e eficaz.”
Fonte.:Folha de S.Paulo


