
Estamos ficando mais míopes. E não é força de expressão: estimativas internacionais apontam que, nas próximas décadas, metade da população mundial terá algum grau de miopia. A condição, que normalmente é diagnosticada entre os sete e 16 anos de idade, já atinge 7,6% das crianças e adolescentes brasileiros entre 3 e 18 anos, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
Todavia, a taxa nacional, dizem especialistas, não é tão ruim, principalmente se comparada com outros países, com destaque para os asiáticos. Na China, por exemplo, estudos demonstraram um percentual de até 87,7% de crianças míopes.
Em contrapartida, um estudo realizado pela Ipsos em seis países, incluindo o Brasil, mostrou que quatro em cada dez entrevistados não conseguiam definir direito o que é a miopia e mais da metade não tinha noção de que, quanto mais cedo ela se inicia, mais rápido progride.
Mas, o que é a miopia?
“É uma doença chamada também de erro refracional. Ela causa uma dificuldade visual para enxergar longe. Assim, a maior parte das pessoas têm boa visão de perto, mas para longe sentem uma turvação”, ensina a presidente do CBO, Wilma Lelis.
A refração é o fenômeno no qual um feixe de luz, vindo do ambiente externo, atravessa o globo ocular para formar uma imagem na retina. No caso de quem tem miopia, ocorre um erro nesse processo, geralmente causado por um alongamento do globo ocular ou uma córnea muito curva.
Causas da miopia
A genética é a principal causa para esses alterações na estrutura dos olhos, mas casos relacionados ao estilo de vida têm crescido no mundo. Por um lado, crianças com pais míopes têm até cinco vezes mais chances de desenvolver o problema, diz o CBO. Por outro, fatores ambientais também influenciam. Hábitos como leitura prolongada em ambientes fechados e uso de telas próximas ao rosto podem estar associados ao avanço da condição.
“A miopia é muito comum e vem aumentando, especialmente em crianças e adolescentes, devido ao aumento do tempo em telas e pouco tempo ao ar livre”, explica Michelle Farah, oftalmologista do H.Olhos.
Estudos mostram que aproveitar a luz do dia e a exposição solar exerce efeito protetor para a visão. Uma pesquisa realizada em Xangai, por exemplo, sugere que 120 minutos de exposição ao ar livre por dia pode reduzir a taxa de incidência relativa de miopia entre crianças em 15% a 24%.
Segundo a publicação CBO Miopia, obra do conselho brasileiro lançada este ano e que traça um panorama da doença no Brasil, em comunidades quilombolas rurais, a prevalência da doença é 1,06%, enquanto, em áreas urbanas, pode chegar a 20,4%.
+Leia também: Hipermetropia: por que algumas pessoas não conseguem ver de perto?
Sinais e sintomas
A miopia costuma surgir de maneira gradual e, muitas vezes, só chama atenção quando começa a interferir nas atividades do cotidiano. Dentre essas interferências, as primeiras costumam ser as seguintes:
Em adultos
- Visão borrada ao tentar enxergar placas, televisores ou objetos distantes;
- Tendência a apertar ou semicerrar os olhos para melhorar o foco;
- Dor de cabeça relacionada ao esforço visual;
- Sensação de cansaço ocular ao fim do dia;
Em crianças
- Aproximar excessivamente o rosto de livros, cadernos, telas ou brinquedos;
- Dificuldade para enxergar o quadro na escola;
- Queda no rendimento escolar, especialmente em tarefas que dependem da visão de longe;
- Hábito de esfregar ou piscar repetidamente os olhos;
- Preferência por sentar muito perto da TV ou do computador.
Geralmente desenvolvida na infância, a miopia pode progredir até por volta dos 21 anos. Para impedir isso, a atenção a esses sintomas é imprescindível. “Quanto mais cedo for detectada, melhor o controle da progressão”, explica Michelle.
Além disso, caso a dificuldade para enxergar de longe surja de forma súbita, pode significar que existe alguma doença do corpo e não só dos olhos. Isso acontece, por exemplo, num caso de diabetes.
+Leia também: Astigmatismo: o que é, sintomas e como corrigir
Diagnóstico
O diagnóstico é feito pelo oftalmologista e inclui, além de anamnese, testes como:
- Avaliação da acuidade visual
- Testes de leitura a diferentes distâncias.
- Exame de refração, que determina o grau exato para óculos ou lentes de contato.
- Avaliação das estruturas do olho
- Biomicroscopia e exame de fundo de olho, para avaliar retina, córnea, cristalino e nervo óptico.
- Exames complementares (quando necessário)
- Topografia de córnea
- Biometria (mede o comprimento do globo ocular)
- Tonometria (mede a pressão intraocular)
Além disso, ao fazer a avaliação, o médico também deverá definir se a miopia está presente em somente um ou nos dois olhos, bem como se a sua causa é ocular ou alguma doença sistêmica, explica Wilma.
Tratamento
“O tratamento busca corrigir a visão e, no caso de crianças, controlar a progressão da miopia”, explica Michelle.
O método costuma ser o uso de óculos e lentes de contato, mas pode, ainda, ser necessária a realização de cirurgias ou medicações, especialmente a depender da causa da miopia.
Também podem ser recomendadas a ortoceratologia, técnica de correção que usa lentes de contato rígidas, durante o sono, para remodelar temporariamente a córnea; cirurgia refrativa ou procedimentos que remodelam a córnea, reduzindo ou eliminando a necessidade de óculos.
+Leia também: Por que preciso de óculos? As dúvidas mais buscadas sobre saúde visual
É possível prevenir a miopia?
“Não é possível prevenir completamente, mas dá para reduzir o risco e desacelerar a progressão, principalmente na infância”, destaca Michelle.
A dificuldade está no fato de que a maior parte dos quadros está ligada à genética. “Assim como a altura de uma pessoa, o tamanho do olho também é herdado”, diz Wilma.
Por outro lado, existem fatores externos que podem estimular a presença do problema, o que justifica, inclusive, o aumento de casos no mundo. “Há um aumento e ele é fruto da mudança de hábitos da sociedade. Não chega a ser uma epidemia no Brasil, mas, em outros países, sim”, diz a presidente do CBO.
Como visto, crianças em ambientes fechados, com pouca exposição à luz natural e com os olhos colados aos celulares, tablets e mais, estão mais suscetíveis ao surgimento e a progressão da miopia.
Portanto, para reduzir o risco, as especialistas recomendam ampliar o tempo ao ar livre e reduzir as horas em frente às telas.
Quando a criança já tem miopia, o acompanhamento com um oftalmologista é indispensável. Um médico deve avaliar regularmente o crescimento do olho da criança para identificar se está dentro do esperado ou se há sinais de miopia progressiva.
+ Leia também: Por que as telas nos fazem tão mal — e por que não conseguimos nos livrar delas?
Riscos
Esses cuidados são necessários, porque, apesar de comum e, geralmente simples, a miopia pode evoluir para uma doença ocular mais grave. “Miopias leves geralmente são apenas um problema de visão, mas miopias moderadas e altas (acima de -6 graus) elevam riscos importantes”, diz Michelle. Entre eles, estão os riscos de degeneração macular miópica, a catarata precoce e descolamento do vítreo posterior.
Controlar o avanço na infância é o principal caminho para evitar complicações no futuro, como a miopia alta. “Altas miopias aumentam o risco de descolamento de retina, glaucoma e outras doenças oculares, que podem exigir tratamentos medicamentosos ou até cirurgias. Por isso, conter a progressão desde cedo é tão importante”, conclui Wilma.
Compartilhe essa matéria via:
Fonte.:Saúde Abril


