Após taxiar lentamente em direção à pista na base aérea da Otan em Geilenkirchen, na Alemanha, os pilotos aceleram ao máximo e o veterano avião de vigilância E-3 Sentry ganha velocidade com um rugido, decolando a caminho do Leste Europeu.
Após múltiplas incursões recentes de drones e aeronaves no espaço aéreo da Otan, a aliança está reforçando sua presença no Leste Europeu para conter a ameaça da Rússia.
O nome da missão é “Sentinela do Leste”, e a CNN foi convidada para um voo de vigilância de oito horas sobre o Leste Europeu, com monitoramento profundo do território russo e bielorrusso para detectar possíveis violações do espaço aéreo da Otan.
A tripulação era composta por militares de vários países da aliança, incluindo Estados Unidos, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Portugal, Espanha, Romênia e Turquia.
“Essas missões significam muito para nós”, disse à CNN o tenente-coronel Stephen Wahnon, da Força Aérea dos EUA.
“Quando estamos patrulhando essas fronteiras, elas são as nossas fronteiras. Portanto, é muito importante para nós estar aqui para defendê-las.”
A aeronave voou sobre o espaço aéreo da Polônia, monitorando aeronaves na região do enclave russo de Kaliningrado, mas também sobre a Bielorrússia e o Mar Báltico.
Embora alguns aviões militares russos estivessem voando nessas áreas, todos pareciam realizar voos de rotina dentro dos limites do espaço aéreo russo e bielorrusso.
Mas a Otan observou um aumento no que chama de ações provocativas por parte da Rússia.
No dia 9 de setembro, cerca de 20 drones russos desviaram do território ucraniano para dentro da Polônia, levando caças de vários países da Otan a decolar às pressas para abatê-los. A Rússia afirma que não direcionou deliberadamente seus drones para a Polônia, sugerindo que interferências eletrônicas ucranianas podem ter desviado a rota.
Dias depois, em 13 de setembro, drones russos violaram o espaço aéreo da Romênia, obrigando Bucareste a enviar caças.
E, mais tarde naquele mês, na Estônia, a Otan afirma que três caças russos MiG-31 sobrevoaram território da aliança por 12 minutos antes de serem interceptados por caças da Otan posicionados nas proximidades.

A Rússia nega que suas aeronaves tenham cruzado a fronteira, mas a aliança garante ter dados que comprovam a violação.
Mais recentemente, drones causaram interrupções no tráfego aéreo da Dinamarca e também foram avistados próximos a instalações militares.
As autoridades dinamarquesas não conseguiram concluir quem seria o responsável pelo que chamaram de “ataque híbrido”, embora a primeira-ministra Mette Frederiksen tenha sugerido que Moscou poderia estar por trás.
Um avião de vigilância de Geilenkirchen estava próximo quando ocorreu o incidente na Estônia, informou um porta-voz da Otan à CNN. Agora, a aliança está aumentando a quantidade de voos dessas aeronaves, à medida que crescem as tensões entre a Rússia e o Ocidente.
“Fazemos parte de uma longa cadeia de comando e controle. Nosso trabalho principal é detectar, rastrear, identificar e relatar”, explicou Wahnon.
A aeronave possui um enorme radar rotativo instalado sobre a fuselagem. Ele permite rastrear aeronaves a até 650 quilômetros de distância, caso estejam voando em alta altitude.
Objetos em baixa altitude podem ser detectados a cerca de 400 quilômetros, mas os sensores também identificam veículos terrestres e navios em alto-mar muito além das fronteiras da Otan.
Controladores de vigilância, como o capitão Jacob Anderson, da Força Aérea dos EUA, chamam aviões que se aproximam das fronteiras da aliança de “rastros de interesse”, o que pode desencadear novas ações da tripulação do E-3.
“Nesse ponto, não apenas minha seção de vigilância, mas toda a tripulação começa a discutir como transferir esse rastro de interesse para outras unidades, como as nacionais, que podem decolar e interceptá-lo se necessário”, disse Anderson, em frente a uma tela de computador exibindo centenas de aeronaves se deslocando pelo Leste Europeu.
Longas missões e simulações de emergência

Se a Otan decidir interceptar aviões russos ou de outros países, a tripulação da aeronave E-3 também atua como gestora do espaço aéreo de batalha, orientando os interceptadores da aliança até seus alvos.
Para tudo isso, a aeronave precisa permanecer no ar por longos períodos.
Enquanto a missão acompanhada pela CNN durou oito horas, em outros casos os voos ultrapassam facilmente 15 horas. Por isso, os pilotos precisam ser altamente capacitados em reabastecimento aéreo — uma manobra complexa para uma aeronave do tamanho de um jato comercial como o E-3.
A CNN acompanhou do cockpit o momento em que o E-3 recebeu combustível de outro avião sobre o espaço aéreo polonês. Durante a aproximação, o avião de vigilância precisou atravessar a esteira do jato-tanque, com turbulências intensas sacudindo a fuselagem enquanto se aproximava.
“É muito difícil no início. Até para superar o medo de chegar a apenas três metros daquele avião”, contou à CNN o major Jason Sanchez, piloto da Força Aérea dos EUA.
“Basicamente, envolve o gerenciamento da potência, o controle lateral e garantir que você se sinta confortável na aproximação a partir de determinada posição”, acrescentou.
A tripulação também praticou simulações de incêndio em voo e manobras de “toque e arremetida” no pouso de volta à base da Otan em Geilenkirchen — preparação para qualquer emergência em missões que, segundo a liderança da aliança defensiva, são fundamentais para dissuadir a Rússia.
“A imprudência da Rússia no ar ao longo do nosso flanco leste está aumentando em frequência”, disse recentemente o secretário-geral da Otan, Mark Rutte. “A Eastern Sentry acrescentará flexibilidade e força à nossa postura.”
Fonte: CNN Brasil