Os sensores de glicose contínua, marcador importante no controle de diabetes, têm ganhado espaço entre pessoas que não convivem com a doença. A lista inclui atletas, biohackers, influenciadores e indivíduos que buscam entender melhor como o corpo reage aos alimentos.
Discretos e conectados ao celular, esses dispositivos registram a variação da glicose 24 horas por dia, com promessas de melhorar hábitos alimentares, desempenho físico e prevenir doenças metabólicas.
Os sensores de glicose contínua (CGMs, da sigla em inglês) foram criados para ajudar no controle do diabetes tipo 1 e tipo 2, permitindo ajustes alimentares e de medicação com base em dados em tempo real.
Mas, fora do contexto clínico, será que essa ferramenta é realmente útil?
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Alertas
A lógica parece razoável: controlar picos glicêmicos, mesmo sem diabetes, poderia evitar inflamações, ganho de peso e resistência à insulina.
Há evidências de que a resposta glicêmica a um mesmo alimento pode variar muito entre indivíduos, influenciada por fatores como microbiota, composição corporal, estresse, sono e horário da refeição.
Por outro lado, médicos e nutricionistas alertam para o risco de interpretações equivocadas.
Oscilações moderadas de glicose após refeições são normais e fisiológicas. Encará-las como algo perigoso pode levar a uma vigilância excessiva, ansiedade alimentar, dietas desnecessariamente restritivas e até distúrbios alimentares em pessoas vulneráveis.
Além disso, a leitura dos dados exige conhecimento técnico. Os sensores apresentam pequenas variações e atrasos em relação à glicemia sanguínea e podem gerar interpretações erradas se usados sem orientação.
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Utilidade do recurso
Desconsiderando o diabetes, o uso de CGMs pode ser indicado em contextos específicos e sempre com acompanhamento profissional:
- pré-diabetes e resistência à insulina, para mapear padrões glicêmicos;
- obesidade e síndrome metabólica, para monitorar riscos e personalizar o cuidado;
- programas de emagrecimento supervisionados, com foco em resposta alimentar;
- atletas de alta performance, que ajustam a ingestão de carboidratos em tempo real.
Nesses casos, o CGM pode ser uma ferramenta educativa e estratégica, desde que usado com equilíbrio e sem obsessão.
*Filippo Pedrinola é médico endocrinologista e head nacional de endocrinologia e metabologia da Brazil Health.
*Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health
Fonte.:Saúde Abril