O Ministério Público do Rio de Janeiro começou nesta segunda-feira (9) uma investigação sobre a operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) realizada no morro Santo Amaro, no Catete, zona sul do Rio de Janeiro, que resultou na morte do office-boy Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24. Outras cinco pessoas ficaram feridas.
Foi aberto um procedimento investigatório criminal para apurar o que aconteceu durante a operação policial, realizada na sexta-feira (6) à noite.
Segundo o Ministério Público, as primeiras movimentações para a investigação paralela às da Polícia Militar e Polícia Civil começaram na manhã de sábado (7).
Um perito e três técnicos foram ao IML (Instituto Médico Legal) para realizar uma perícia independente no corpo da vítima, utilizando um scanner com recursos digitais avançados.
“Pelas informações obtidas desde a madrugada de sábado, essa operação, que se destinaria a impedir a invasão de traficantes na comunidade Santo Amaro, não foi precedida das cautelas devidas e necessárias”, disse o procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira. “Ou então há outra motivação até então ignorada, mas que precisa ser elucidada”.
O procurador-geral lembrou que, no momento da ação policial, ocorria na comunidade uma festa junina com a presença de centenas de pessoas, reunidas pacificamente.
“Isso contraria todo e qualquer procedimento de atuação da Polícia Militar, o que é reconhecimento pela própria corporação”, completa Moreira.
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O Ministério Público aguarda o envio de imagens das câmeras corporais dos policiais militares que participaram da ação.
Nesta segunda, o Ministério da Igualdade Racial enviou ofício ao governo do Rio, à Secretaria de Segurança, à Procuradoria-Geral de Justiça e ao Ministério Público do Rio pedindo informações sobre a operação no morro Santo Amaro.
No documento, o ministério pergunta sobre as motivações da ação, os protocolos seguidos pela corporação e as providências adotadas após a morte de Herus e os ferimentos em cinco pessoas.
Entre as informações solicitadas estão as medidas que serão tomadas para reparar a família do jovem morto e das demais vítimas feridas.
O ofício questiona também sobre as medidas que o governo do Rio adotará para proteger a vida de moradores de comunidades e periferias do estado.
“Herus, Kathlen, João Pedro, Ágata, Kamila, Maria Eduarda e tantos outros tiveram suas vidas arrancadas de suas famílias. Cada perda representa um sonho a menos, uma vida, um abraço, um sorriso que ficou para trás e uma totalmente despedaçada. Até quando?”, disse a ministra Anielle Franco. “Que possamos ter o direito de sonhar e andar tranquilamente nas favelas onde nascemos”.
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), exonerou, no domingo (8), o coronel Aristheu de Góes Lopes, comandante do Bope, e o coronel André Luiz de Souza Batista, do COE (Comando de Operações Especiais).
Ele também determinou o afastamento de 12 policiais que atuaram na operação realizada no morro Santo Amaro.
Fonte.:Folha de S.Paulo