Somos a única espécie que experimentou uma transformação significativa em um curto período. Desenvolvemos espaços urbanos de grande magnitude e estamos dependentes de fontes de iluminação artificial.
Reduzimos significativamente a necessidade de realizar esforços físicos para a obtenção de alimentos. Substituímos o silêncio e a introspecção por uma vida imediata e hiperconectada.
Atualmente, embora a expectativa de vida tenha aumentado, os indivíduos frequentemente convivem com enfermidades crônicas ao longo de suas vidas.
É imprescindível compreender que a saúde não se resume à ausência de sintomas. É um conceito mais amplo e profundo. É necessário reconectar o corpo e a mente, abandonar a visão fragmentada da medicina e enfrentar o mundo moderno com duas estratégias: mudar o que é possível e desenvolver uma atitude de “antifragilidade” diante do que não é possível.
Evidências recentes reforçam essa visão. Dois estudos internacionais, dos quais fui coautor, mostram que a capsulite adesiva (ombro congelado) não é uma mera lesão local, mas um reflexo de desequilíbrios sistêmicos envolvendo metabolismo, inflamação e comportamento.
Um deles revelou que ajustes simples no sono, como evitar cafeína à noite e reduzir luz artificial após o pôr do sol, aliados à fisioterapia, reduzem marcadores inflamatórios e melhoram a função do ombro de forma significativa.
O outro identificou que pacientes com a condição têm glicemia e colesterol mais altos, além de níveis elevados de citocinas inflamatórias específicas, apontando para a necessidade de tratamentos integrativos que atuem sobre todo o organismo e não apenas na articulação.
Resgatando práticas ancestrais para a saúde
Parte desta antifragilidade advém da recuperação de práticas ancestrais, tais como:
- Atividade física intensa;
- Alternância de períodos de esforço e recompensa;
- Exposição ao frio, ao calor e ao jejum.
Recomenda-se a sudorese ativa, através da prática de exercício físico, bem como a passiva, mediante a utilização de sauna ou calor natural. Recomenda-se também 120 minutos por semana para a interação com o ambiente natural. A prática contribui para redução da pressão arterial e aprimoramento da saúde mental.
Atividades criativas e momentos de inação
É igualmente imprescindível ativar de forma mais significativa o hemisfério direito do cérebro. Embora a leitura e a escrita sejam competências notáveis, não devem substituir atividades criativas como a dança, o canto, o desenho ou até um passeio tranquilo.
A prática diária de inação, durante uma hora, permite que o cérebro alcance um estado de sincronização. Pertencer a um grupo, incluindo dar e receber atenção, é tão vital quanto respirar.
A solidão, agravada pela pandemia e polarização social, é um fator de risco substancial para doenças cardíacas, imunitárias e mentais.
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Saúde é construída, não comprada
Saliento que não existe alternativa farmacológica que possa substituir estes princípios ativos. A saúde é um bem construído, não adquirido. Para usufruir de uma vida mais plena é imprescindível conciliar descanso, relaxamento, prática de exercício físico e reconexão com a natureza e consigo mesmo.
*Leo Pruimboom é fisiologista e bioquímico de origem holandesa, doutor pela Universidade de Groningen e fundador do Instituto Pruimboom de Investigação em Psiconeuroimunologia Clínica (cPNI)
Fonte.:Saúde Abril