
Em 2020, minha vida mudou para sempre. Eu, Raphael Nogueira, mais conhecido como “Raphael Sucesso” entre amigos e vizinhos, levava uma rotina ativa: cuidava da saúde, praticava esportes, trabalhava como agente de viagens e corretor de imóveis e ainda aproveitava o tempo livre para me dedicar à música como hobbie.
Casado e pai de uma adolescente, além de um enteado, nunca imaginei que um simples caroço no pescoço pudesse revelar algo tão grave: um linfoma não-Hodgkin, subtipo folicular, um tipo de câncer de sangue.
Tudo começou com um cansaço estranho, diferente da fadiga após um treino ou um dia corrido. Ao mesmo tempo, notei aquele caroço no pescoço. Não doía, não incomodava, mas estava lá. Então resolvi investigar.
Após uma bateria de exames, veio o diagnóstico. Até ouvir o nome da doença, jamais pensei que o cansaço poderia esconder algo tão sério. Foi um choque, um daqueles momentos em que a vida parece congelar.
Iniciei o tratamento em Recife, no Hospital Memorial São José. Fiz quimioterapia e, no começo, os resultados foram animadores, com regressão dos tumores. No entanto, a resposta não se manteve e a doença voltou de forma mais agressiva, acometendo outras regiões do corpo.
Mesmo em tratamento por um ano, cheguei ao estágio 4 da doença, o mais avançado. Foi quando minha médica explicou que o meu organismo já não respondia às terapias convencionais. Senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Eu sabia dos altos e baixos, mas ouvir que a quimioterapia não fazia mais efeito foi devastador.
Nesse momento difícil, surgiu uma nova esperança: a indicação da terapia avançada CAR-T. Diferentemente da quimioterapia, ela usa as próprias células de defesa do paciente. Os médicos coletam os linfócitos T, que são modificados em laboratório e depois são infundidos no corpo para reconhecer e combater as células cancerosas.
Viajei para São Paulo, para fazer o procedimento no A. C. Camargo Cancer Center no final do ano passado. Já me encontrava bastante debilitado e cheguei em cadeira de rodas, pois não conseguia mais caminhar. A respiração também estava difícil, porque os tumores pressionavam a minha traqueia. Não havia tempo a perder. Mais do que um tratamento, aquela era minha chance de viver.
Fiz a coleta das células e, semanas depois, recebi a terapia. Alguns meses se passaram até o dia de um exame muito relevante, o PET scan, que mostra a atividade das células no corpo e identifica células tumorais. Ao receber as imagens, mal consegui acreditar: não havia mais nenhum sinal de câncer. Eu havia entrado em remissão da doença.
Senti como se tivesse renascido. Eu costumava apalpar o pescoço em busca de caroços, mas eles haviam desaparecido. Foi a confirmação de que eu tinha vencido. Minha fé me sustentou em todo o processo, e mesmo nos dias mais difíceis eu acreditava que conseguiria superar.
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Minha mãe esteve ao meu lado em cada internação, consulta e exame. Minha esposa tem um salão de beleza e precisava cuidar do negócio, mas, mesmo à distância, me dava forças. Minha filha foi outra grande motivação para não desistir.
Voltar a correr, jogar bola e praticar exercícios, atividades simples para muitos, se tornaram conquistas imensas para mim. Hoje, cada novo dia tem um sabor especial. É “sucesso” total!
Depois de tudo o que vivi, compreendi que minha missão não poderia terminar com a cura. Eu precisava transformar minha história em esperança para outras pessoas. Por isso, passei a integrar o Comitê de Pacientes da ABRALE (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia), que informa, acolhe pacientes e luta por avanços no acesso ao tratamento.
Compartilhar conhecimento é tão importante quanto tratar a doença. Eu sei, pela minha experiência, o quanto a falta de informação gera medo, insegurança e pode atrasar decisões que salvam vidas. Hoje, cada vez que compartilho minha trajetória, acredito que posso acender uma fagulha de esperança em quem esteja vivendo o que eu já vivi.
*Raphael “Sucesso” Nogueira tem 42 anos e vive em Recife/PE
A história retratada por Raphael Sucesso representa sua vivência individual particular e a experiência de tratamento de cada paciente pode variar.
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Fonte.:Saúde Abril


