‘Não tem como dormir’: a vida na cidade brasileira com 212 dias de calor extremo
Em Belém, a chamada desigualdade climática — que é como o clima afeta diferentes grupos sociais de maneiras distintas — pode ser sentida a uma esquina de distância.
Segundo dados do Censo de 2022 do IBGE, a cidade, no meio da floresta, é a sexta capital do Brasil com mais pessoas vivendo em ruas sem uma única árvore, algo que pode soar absurdo para quem circula nas áreas centrais e ricas da capital paraense, com seus túneis de mangueiras e de calçadas sombreadas.
No bairro do Jurunas, vizinho a regiões extremamente arborizadas de Belém, Ronald Monteiro, de 15 anos, conta que o calor a partir das 11h30 vem chegando como “uma máquina de bater açaí”.
“É rápido, meio que fica girando, girando, na gente.”
Quando chega da escola, no fim da manhã, Ronald costuma ajudar o pai no negócio de extração da polpa de açaí, alimento básico dos almoços paraenses, numa rua sem árvores.
Depois, ele sobe para o quarto e tenta descansar para as atividades da tarde e noite, como futebol, igreja ou ajudar o tio no mercado do bairro. Mas isso não tem sido possível.
“É um calor insuportável, não tem como dormir, não tem como descansar, a gente perde o sono da tarde. O calor te degrada muito”, conta Ronald.
A sensação dele é mostrada nos números.
Dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) apontam que Belém foi a capital brasileira com mais dias de eventos de “extremos de calor” no ano passado: 212 dias.
A expressão indica o número de dias no ano em que a cidade teve uma temperatura máxima acima da máxima registrada nos anos anteriores. A capital chegou a registrar 37,3°C. A única cidade com mais eventos extremos que Belém foi Melgaço, na ilha do Marajó, também no Pará.
Um levantamento compartilhado com a BBC News Brasil pelo professor Everaldo de Souza, do Laboratório de Modelagem de Tempo e Clima da Universidade Federal do Pará (UFPA), com base em dados no Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), também traz um sinal vermelho para a cidade.
A capital do Pará já teve nesta década, até o ano passado, 164 dias que registraram uma temperatura máxima acima dos 35,5ºC, o que o professor classifica como um evento de calor extremo.
Isso quer dizer que, em quatro anos, Belém teve mais dias de calor extremo do que as últimas seis décadas anteriores somadas.
“A gente sabe que Belém é quente, mas está muito mais quente”, diz Souza.
Neste vídeo, o repórter Vitor Tavares conta como o calor extremo em Belém afeta a vida dos jovens na cidade.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


