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- Author, Leandro Prazeres e Mariana Schreiber
- Role, Enviados da BBC News Brasil ao Rio de Janeiro
“A recente decisão da OTAN alimenta a corrida armamentista. É mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Isso evidencia que os recursos para implementar a Agenda 2030 existem, mas não estão disponíveis por falta de prioridade política”, disse Lula, que complementou:
“É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz”, disse Lula.
A crítica de Lula foi em resposta à decisão da Otan, no final de junho, de aumentar os gastos em defesa dos países que fazem parte do tratado em 5% dos seus produtos internos brutos (PIB). A Otan é uma aliança militar composta por 32 países incluindo os Estados Unidos, Canadá e nações europeias.
A decisão aconteceu na primeira reunião da organização após a eleição do presidente americano Donald Trump. O aumento de gastos em defesa vinha sendo defendido por ele que, nos últimos anos, criticou os países europeus por supostamente gastarem pouco na área e deixarem os Estados Unidos como responsáveis por garantir a segurança da Europa contra ameaças estrangeiras.
O presidente dos EUA descreveu a decisão como uma “grande vitória para a Europa e… civilização ocidental”.
Recentemente, a expansão da Otan em direção a países próximos à Rússia, como a Ucrânia, foi usada como um dos elementos por trás da invasão russa sobre o país europeu.
A Rússia é um dos membros fundadores dos Brics.
Em seu discurso, Lula também criticou o que classificou como a reciclagem de “velhas manobras retóricas” e a “instrumentalização” de agências da Organização das Nações Unidas (ONU) para justificar ataques militares.
“Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Assim como ocorreu no passado com a Organização para a Proibição de Armas Químicas, a instrumentalização dos trabalhos da Agência Internacional de Energia Atômica coloca em jogo a reputação de um órgão fundamental para a paz. O temor de uma catástrofe nuclear voltou ao cotidiano”, disse Lula.
A crítica acontece poucas semanas após os Estados Unidos e Israel realizarem ataques aéreos a instalações nucleares iranianas sob o pretexto de que o país do Oriente Médio estaria próximo de produzir armas nucleares.
A justificativa apresentada por israelenses e norte-americanos é semelhante à usada pelos Estados Unidos em 2003 durante a invasão do país ao Iraque. À época, os norte-americanos alegaram que o Iraque tinha armas de destruição em massa. As armas, no entanto, nunca foram localizadas. O regime iraniano, por sua vez, argumenta que seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos.
Lula critica fome como ‘arma de guerra’ em Gaza

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Lula voltou a fazer críticas aos ataques de Israel à Faixa de Gaza, usando mais uma vez a palavra genocídio.
A forte posição do líder brasileiro já levou o país sionista a o declarar “persona non grata”, quando Lula comparou a situação palestina com o holocausto, no ano passado.
“Absolutamente nada justifica as ações terroristas perpetradas pelo Hamas. Mas não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza e a matança indiscriminada de civis inocentes e o uso da fome como arma de guerra”, disse, no Brics.
O presidente também voltou a defender o direito à criação de um Estado palestino, posição histórica da diplomacia brasileira.
“A solução desse conflito só será possível com o fim da ocupação israelense e com o estabelecimento de um Estado palestino soberano, dentro das fronteiras de 1967”.
Com linguagem mais branda, Lula criticou a invasão da Ucrânia, sem citar diretamente a Rússia, país que integra o Brics. Ele também defendeu os esforços brasileiros para mediar a paz na região, embora a iniciativa não esteja conseguindo avanços.
“É urgente que as partes envolvidas na guerra na Ucrânia aprofundem o diálogo direto com vistas a um cessar-fogo e uma paz duradoura”.
“O Grupo de Amigos para a Paz, criado por China e Brasil e que conta com a participação de países do Sul Global, procura identificar possíveis caminhos para o fim das hostilidades”.
Em seu discurso, Lula também afirmou que condenou violações à soberania tanto do Irã quanto da Ucrânia.
Os líderes dos Brics estão reunidos no Rio de Janeiro até segunda-feira (7/7). O grupo é atualmente formado por Brasil, Rússia, China, Índia, Irã, Arábia Saudita, Etiópia, Indonésia, África do Sul, Emirados Árabes Unidos e Egito, o bloco representa quase a metade da população mundial e 40% da riqueza produzida globalmente.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL