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14 de outubro de 2025

Nova diretriz para tratamento e diagnóstico de autismo: confira o que mudou

Nova diretriz para tratamento e diagnóstico de autismo: confira o que mudou

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A Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) divulgou no final de setembro uma série de diretrizes para auxiliar no diagnóstico e tratamento do transtorno do espectro autista (TEA).

O documento, intitulado Recomendações e Orientações para o Diagnóstico, Investigação e Abordagem Terapêutica do Transtorno do Espectro Autista, pode ser acessado no site da entidade. Confira alguns dos pontos principais.

Orientações para o diagnóstico

A SBNI enfatiza que o diagnóstico do TEA é essencialmente clínico, destacando que a identificação do transtorno deve levar em consideração as seguintes questões:

  • 1) História e observação clínica

Os profissionais devem se valer da observação, da entrevista com os pais e de critérios diagnósticos do DSM-5, levando em conta sintomas comórbidos e fatores ambientais como vulnerabilidade social ou a exposição excessiva a telas, que podem mimetizar o TEA.

O histórico do desenvolvimento neuropsicomotor da criança e antecedentes gestacionais e familiares também devem ser avaliados.

  • 2) Escalas de avaliação e rastreio
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As orientações destacam o uso de ferramentas de triagem como o M-Chat, recentemente incluído pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para o rastreio do TEA dos 16 aos 30 meses de vida, e outras que foram validadas para o português brasileiro, como CARS-2, ADI-R e ADOS-2, cada uma com suas especificidades e limitações relacionadas a idade, indicações e características avaliadas.

O texto lembra que nenhuma ferramenta de observação única é apropriada para todos os cenários clínicos, e o profissional deve utilizá-la como um suporte no diagnóstico, sempre à luz do histórico do paciente e outras informações.

  • 3) Determinação do nível de suporte

O DSM-5 define três níveis considerando a necessidade de suporte da criança, de forma crescente, do 1 ao 3. O relatório não recomenda que os níveis sejam definidos em crianças muito pequenas ou recém-diagnosticadas. Relatórios sobre o caso devem informar que o nível se refere “àquele momento”, pois a gravidade pode variar com o tempo.

  • 4) Investigação complementar
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O exame neurológico é obrigatório. Já exames complementares, como testes laboratoriais e de imagem, não são considerados essenciais para o diagnóstico, mas podem ser importantes para ajudar no diagnóstico diferencial e na etiologia do transtorno.

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Orientações para o tratamento

O documento também enumerou as abordagens indicadas e o nível de evidência científica para dar suporte às recomendações.

  • 1) Abordagem terapêutica

As abordagens com maior evidência de eficácia são baseadas na ciência da Análise do Comportamento Aplicada, conhecida pela sigla em inglês ABA, associada a outras terapias, e também em modelos naturalísticos baseados em ABA.

O relatório cita 28 práticas baseadas em evidências que podem auxiliar com o TEA, como terapia cognitivo-comportamental, ensino por tentativas discretas, modelação e treino de habilidades sociais, entre outros. A lista completa pode ser consultada no documento.

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  • 2) Frequência e carga horária

O documento enfatiza que é “um erro grave” a exigência de que o médico seja capaz de determinar a quantidade exata de cada abordagem.

O médico pode indicar uma carga horária inicial, que deve ser adequada após a avaliação da equipe terapêutica, considerando as individualidades do caso. A abordagem transdisciplinar é vista como mais efetiva e o treinamento dos pais e ou cuidadores é fundamental para desfechos e evoluções de qualidade.

As orientações da SBNI reforçam que “não existe um tratamento farmacológico específico para os sintomas centrais do TEA”. Medicamentos podem ser empregados para aliviar comorbidades como agressividade, TDAH e distúrbios do sono. Uma análise funcional deve determinar a causa dos comportamentos disruptivos antes de medicá-los.

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  • 4) Avaliação dos distúrbios do sono

Distúrbios do sono têm alta prevalência no TEA, levando a pioras no quadro comportamental. O documento cita como possibilidades de tratamento para eles a prática da higiene do sono e a terapia cognitivo-comportamental.

Já a melatonina é considerada a opção com maior evidência farmacológica, podendo aumentar a duração do sono em crianças com TEA, mas sem substituir a avaliação adequada da rotina e da higiene do sono.

Intervenções não corroboradas pela ciência

O documento reforça que, no momento, não há evidências científicas confiáveis atestando a eficácia de dietas (como sem glúten ou sem caseína), suplementações (como ômega-3 ou vitaminas) ou intervenções biológicas (como células-tronco, quelantes e ozonioterapia) no tratamento do TEA.

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Intervenções como psicanálise e Son-rise também carecem de evidências de que trazem resultados para o transtorno.

O uso do canabidiol (CBD) ainda é considerado experimental e sem garantia de eficácia, devendo ser indicado de forma individualizada e preferencialmente com assinatura de um termo de autorização e consentimento.

Do mesmo modo, o ácido folínico (leucovorina) não é recomendado rotineiramente, apesar de estudos positivos em subgrupos específicos.

Outras abordagens

As orientações da SBNI mencionam abordagens como estimulação craniana não invasiva, Floortime e equoterapia como alternativas de tratamento que vêm sendo alvo de estudos, por vezes com resultados positivos, mas ainda carecem de evidências mais robustas.

A diretriz destaca que intervenções e abordagens sem evidências suficientes podem ocorrer em casos individuais e específicos, mas não têm indicação ampla porque “até a publicação deste documento, tais abordagens não se consolidaram com suficiente comprovação científica para indicação rotineira na prática clínica”.

A indicação, nesses casos, deve ser feita com parcimônia, com a devida orientação sobre os riscos de aderir a esses tratamentos, que podem levar ao abandono de terapias com eficácia consolidada.

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Fonte.:Saúde Abril

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