5:14 PM
12 de novembro de 2025

Novo estudo avalia potencial da creatina contra depressão

Novo estudo avalia potencial da creatina contra depressão

PUBLICIDADE



Será que um suplemento famoso nas academias poderia também ajudar a atenuar os sintomas da depressão? A creatina – velha conhecida de quem busca mais energia e desempenho nos treinos – também tem sido estudada por um possível papel na saúde mental.

A ideia até que faz sentido. Dentro das nossas células, inclusive as do cérebro, a creatina atua como uma espécie de “bateria reserva”, ajudando a produzir e reciclar energia. Paralelo a isso, há indícios de que o organismo deprimido pode enfrentar alterações na produção de energia. Daí vem a dúvida: dar um boost nesse combustível interno poderia ajudar no humor?

“Existe uma base fisiológica para isso, porque a gente entende que muitos dos quadros de humor têm ligação com alterações metabólicas cerebrais, inclusive no próprio metabolismo energético, que é onde a creatina atuaria”, avalia o médico psiquiatra no Einstein Hospital Israelita Diego Tajes.

Mas muitos estudos, a maioria pequenos, já tentaram responder à essa pergunta e ainda não chegaram a uma conclusão.

Agora, um grupo de pesquisadores brasileiros mergulhou em dezenas dessas análises e reuniu as evidências disponíveis em um só documento. O resultado do trabalho, uma das maiores revisões já feitas sobre o tema, rendeu uma publicação no British Journal of Nutrition, periódico científico ligado à Universidade de Cambridge.

Conversamos com especialistas da área para entender o que já se sabe e o que ainda falta esclarecer sobre a relação entre a creatina e a saúde mental.

Continua após a publicidade

Como a creatina age no cérebro

A creatina é uma substância que o corpo produz naturalmente e que também pode ser obtida pela alimentação, principalmente por meio de carnes e peixes, além de, claro, a suplementação.

Pense nela como um carregador portátil. Quando armazenada nos tecidos, a creatina se transforma em fosfocreatina, que ajuda a regenerar o ATP (trifosfato de adenosina), molécula que é a principal fonte energética das células.

“O papel principal desse sistema é transferir energia, algo necessário, obviamente, para um tecido que consome muita energia, como o nosso cérebro”, explica Bruno Gualano, professor do centro de medicina do estilo de vida da faculdade de medicina da universidade de são paulo (USP)  membro do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição

+Leia também: Creatina: a verdade sobre o suplemento da moda

O que o estudo viu

De acordo com as análises dos pesquisadores, evidências experimentais indicam que a administração oral de creatina pode aumentar as concentrações de fosfocreatina no cérebro. Isso significa que faz sentido pensar que ela tem algum potencial contra a depressão. Mas o panorama atual ainda é muito nebuloso.

Continua após a publicidade

Para responder à dúvida, os estudiosos brasileiros reuniram e analisaram 11 estudos clínicos. Nesses estudos, que somaram 1.093 participantes, os cientistas haviam comparado pessoas que tomaram creatina oral (em média 5 g/dia) com outras que tomaram placebo (uma substância sem efeito).

Por fim, notou-se que quem usou creatina obteve algum efeito positivo. As pesquisas mostraram uma redução média de 2,2 pontos na Escala de Depressão de Hamilton (HDRS-17), um questionário usado por médicos para medir a gravidade da depressão.

O problema é que, para essa melhora ser realmente perceptível, ela precisa ser de, pelo menos, 3 pontos. Ou seja, o efeito observado foi pequeno demais para ser considerado clinicamente relevante.

Além disso, os resultados variaram bastante entre os estudos, e a maioria deles era de pequeno porte, com amostras pequenas e curto tempo de duração (geralmente de quatro a dez semanas). Segundo o sistema internacional GRADE, que avalia a qualidade das evidências científicas, a certeza dos resultados foi considerada muito baixa. 

Continua após a publicidade

O que mais se sabe até o momento

Gualano reforça que a importância da creatina para o cérebro fica mais clara entre pessoas com deficiências genéticas que impedem sua síntese ou captação. Nesses casos, há uma drástica redução de creatina cerebral e prejuízos cognitivos e emocionais.“Isso mostra que, de fato, esse tema é importante para a funcionalidade do cérebro”, destaca.

Mas isso não significa que a suplementação seja necessária para a função cerebral. Afinal, em pessoas saudáveis, o cérebro produz sua própria creatina.

Aliás, estudos realizados no laboratório do grupo de pesquisa de Gualano já compararam pessoas vegetarianas (que não consomem creatina na dieta, já que não comem carnes) e onívoras e não mostraram diferenças nas concentrações da substância no cérebro. Isso indica que a produção natural do corpo, muito provavelmente, já seja suficiente.

Ainda assim, pesquisas pequenas sugerem benefícios em situações de estresse mental – como privação de sono ou tarefas cognitivas intensas – nas quais os níveis cerebrais de creatina diminuem temporariamente. “Na depressão, os estudos mostram uma redução de creatina no cérebro. E essa é a base para que você estude a suplementação como um eventual tratamento”, explica Gualano.

Continua após a publicidade

Gualano lembra, ainda, que nem todas as pessoas com depressão apresentam baixa creatina cerebral e nem todo mundo responde bem ao suplemento. “E a gente sabe também que o mecanismo biológico da depressão é pouco conhecido e, muito provavelmente, multifatorial, não envolve uma molécula ou neurotransmissor específicos”, ressalta. 

Portanto, o caminho para as conclusões sobre o assunto ainda é longo e requer estudos robustos e diversos. “A gente acredita que a creatina tenha uma correlação com o bem-estar emocional”, avalia Tajes. Mas, de qualquer forma, os estudos atuais são incipientes. “Os resultados ainda não são conclusivos”, pondera o psiquiatra. 

Compartilhe essa matéria via:

 

 



Fonte.:Saúde Abril

Leia mais

Rolar para cima