São Paulo

Quem caminha pelo pequeno jardim que circunda um pedaço do Cidade Matarazzo, a um quarteirão da avenida Paulista, consegue entender melhor o espírito do complexo de luxo que foi anunciado em 2011 em um edifício histórico que passou por onze anos de restauro.

O espaço, que já abrigava um hotel estrelado, um clube e um centro cultural, ganhou nesta semana uma galeria de compras de 3.000 m² e um restaurante de 1.600 m², a face mais expressiva aberta ao público geral até então. Os números, superlativos, acompanham todo o projeto.

Chamado Mata Città, o centro gastronômico tem sete ambientes temáticos inspirados na estética do cinema italiano das décadas de 1960 e 1970, com tanto fôlego imagético que deixa a comida em segundo plano por alguns instantes ao se chegar ali.

Colados uns aos outros, os ambientes ganham identidade com cerâmicas, quadros, cortinas, luminárias e pinturas à mão que recobrem paredes de cima a baixo —e, às vezes, até o próprio teto.

Antes de decidir onde sentar, vale dar uma volta pelos corredores que já foram do antigo hospital Umberto 1º e ainda guardam seus resquícios. Entre as descobertas estão uma versão da estátua da novela “Três Graças” e um elegante banheiro inspirado em cartas de tarô, equipado com um painel interativo que permite a consulta do oráculo. Quem assina o projeto arquitetônico é o escritório Toca, de Malu Barretto, que trabalhou no grupo LVMH, na Valentino e na divisão de produtos de luxo da L’oréal.

Os números grandiosos também saem da cozinha, capaz de alimentar 470 pessoas com seu cardápio italiano de estilo acessível mas não banal e receitas servidas em porções generosas. Preços, aliás, se mostram mais contidos do que aqueles praticados nas araras da galeria de compras de luxo, com representantes como Missoni e Dover Street Market.

Um exemplo é a pizza de creme de ricota, milho doce, limão-siciliano e chilli oil (R$ 45). Tem tamanho de uma napolitana avantajada, com bordas altas, mas é feita em forno elétrico, que atinge temperaturas mais baixas.

O cardápio não cede ao estilo de pequenas porções para compartilhar que domina a cidade. Inclusive, prova a teoria contrária: porções generosas também permitem o compartilhamento, inclusive de pratos principais. Dá para começar, por exemplo, com uma pizza e uma interessante salada caprese (R$ 52), com variedades de tomates, stracciatella e alho negro, e depois ir para as massas.

Nessa seção, há opções secas (ao limone, por R$ 55) e frescas, como o ravióli dal plin (R$ 70), recheado com carne, finalizada na manteiga com parmesão e demi-glace.

O espírito não se perde entre os doces com a torta al limone (R$ 96), que serve trê s pessoas de acordo com o menu, mas que alimenta quatro sem fazer feio. Deixa uma impressão visual comparada à decoração, com cobertura de merengue maçaricada escultural, servida em um suporte alto.

O cardápio é praticamente o mesmo em todos os ambientes, mas cada recinto tem uma receita própria. Entre os sete ambientes está o batizado de Conde, homenagem ao industrial e banqueiro Francisco Matarazzo (1854-1937), que tem nas paredes telefone, máquina de escrever e outros elementos que remetem à industrialização de São Paulo e aos imigrantes italianos.

Outro ambiente é o Dolce Vita, que fica em uma espécie de pátio iluminado por uma grande clarabóia. Desse pedaço, o único que terá café da manhã, fica mais fácil de reconhecer as feições originais do edifício, construído em meio à estrutura restaurada do antigo hospital Umberto 1º, levantado há mais de um século por Matarazzo.

A área de 27 mil metros quadrados do complexo já tinha em funcionamento a Casa Bradesco, centro cultural, o hotel estrelado Rosewood e o clube hiper-exclusivo Soho House. Tem também uma capela histórica aberta ao público.

Nesta semana, inaugurou ainda o Mata Lab, um centro de compras que rejeita a definição de shopping e reúne mais de 200 marcas entre roupas, móveis, obras de arte e produtos de beleza de luxo.

Ainda que todos os números sejam superlativos, ainda há mais por vir: a previsão é que o espaço tenha, ao todo, 16 operações de restaurantes. A próxima, que deve ser aberta e, alguns meses, será uma casa de carnes.

Mata Città

R. Itapeva, 569, Bela Vista, região central. @matacitta