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12 de outubro de 2025

O colapso da economia do conteúdo na internet – 12/10/2025 – Ronaldo Lemos

O colapso da economia do conteúdo na internet – 12/10/2025 – Ronaldo Lemos

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O jornal WSJ relatou há pouco a crise de Hollywood, umas das indústrias até então mais pujantes do planeta. A ocupação dos estúdios de gravação ficava estável em 95% nas últimas décadas. Nos últimos meses caiu para 62%. O mesmo vale para a procura por figurinistas, animadores, cenaristas, câmeras etc.

Profissionais de Los Angeles que trabalhavam sem parar agora esperam meses por outra oportunidade. Vários já consideram empregos em supermercados ou como motoristas.

As razões são várias. Uma é que Hollywood passou a priorizar poucas produções caras (blockbusters) em detrimento de um fluxo constante. Outra é a concorrência com o Netflix, que internacionalizou sua produção.

Mas o fator determinante que pode transformar Los Angeles em “Los Fantasmas” é a inteligência artificial. Geradores de vídeo como o Veo3 ou o Sora 2 conseguem produzir hoje conteúdo de qualidade profissional sem estúdios ou câmeras. O Sora 2 da OpenAI foi baixado por 1 milhão de pessoas em 5 dias (mesmo sendo acessível só por convite), superando a curva de adoção do ChatGPT.

Cada pessoa que baixa o aplicativo é um concorrente potencial dos estúdios. Vimos isso no Brasil com a Marisa Maiô. A apresentadora de TV criada com IA por Raony Phillips virou garota propaganda do Magalu, Tim, OLX e outras marcas. Raony cria os vídeos da apresentadora trabalhando sozinho em Maricá no Rio com o Veo3.

Mas o colapso é maior. O cataclisma está acontecendo mesmo na internet. Até agora, o motor econômico para criadores era ser indexado pelo Google. O buscador listava links, que por sua vez geravam tráfego para os criadores, que se remuneravam com os acessos.

Esse modelo caiu com a IA. Cada vez mais pessoas fazem buscas usando inteligência artificial. Buscas que retornam respostas prontas, que praticamente não geram tráfego nem cliques. Estamos mudando de um modelo de buscadores para um de “respondedores”.

Isso já acontece no próprio Google. Antes de apresentar a lista de links, o Google agora apresenta no topo uma resposta gerada por IA. Essa resposta geralmente é satisfatória para o usuário, que não clica em mais nada.

A repercussão é gigantesca e gera perdedores e vencedores. Os perdedores são aqueles que produzem conteúdo geral. Os vencedores, aqueles que criam conteúdos específicos, de nicho e granulares. Isso é visível comparando os valores recebidos pelo Reddit e pelo New York Times ao licenciar seu conteúdo para empresas de IA. Para cada dólar pago por um token (quantidade de informação) do New York Times, o Reddit recebeu 7 vezes mais.

A razão é que o Reddit tem conteúdos muito específicos, obscuros e nichados. As empresas de IA estão sedentas por especificidade. Nessa perspectiva, escrever críticas dos restaurantes de Araguari torna-se mais valioso do que avaliar os restaurantes mais badalados de São Paulo.

E claro, há também pactos fáusticos. Aparecer listado no Google significa aceitar que o conteúdo aberto na rede seja usado para treinar IA. Quem quiser impedir isso, bloqueando os robôs de IA, sai também da indexação nas buscas.

Essas transformações estão só no começo. Haverá próximos capítulos.

Já era – empresas de tecnologia criando principalmente software

Já é – empresas de tecnologia construindo infraestrutura física

Já vem – empresas de tecnologia virando empresas de energia


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Fonte.:Folha de S.Paulo

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