
Crédito, Reuters
- Author, Leandro Prazeres e Mariana Schreiber
- Role, Da BBC News Brasil em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu diretamente ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o fim das sanções impostas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e à sua esposa, Viviane Barci de Moraes, durante a última conversa telefônica entre os dois, realizada no dia 2 de dezembro. A informação foi confirmada por duas fontes do Palácio do Planalto ouvidas pela reportagem.
Segundo essas fontes, Lula afirmou a Trump que a retirada dessas sanções seria um gesto “fundamental” para destravar o processo de retomada das relações entre Brasil e Estados Unidos, que vinham sendo marcadas por tensões políticas e diplomáticas nos últimos meses.
A avaliação no entorno do presidente brasileiro é de que o pedido foi feito de forma direta e explícita, como parte de uma estratégia mais ampla de reaproximação com Washington. A partir dessa conversa, ainda de acordo com interlocutores do Planalto, tanto Lula quanto Trump passaram a sinalizar publicamente que medidas concretas poderiam ser adotadas para reduzir o nível de atrito entre os dois países.
No caso de Lula, essas sinalizações ficaram evidentes em uma entrevista concedida a uma emissora de televisão durante uma viagem ao Nordeste no início da semana, na qual o presidente falou que “está perto de a gente ouvir uma notícia boa, além dessa notícia de tirar alguns produtos nossos da taxação que ele fez”.
Dentro do Palácio do Planalto, o clima é descrito como de otimismo. Assessores presidenciais afirmam que há a percepção de que, a cada nova conversa entre os dois presidentes, os Estados Unidos têm adotado gestos adicionais no sentido de uma reaproximação diplomática com o Brasil.
Esse movimento é visto pelo governo brasileiro como um indicativo de que o diálogo direto entre os chefes de Estado tem produzido resultados práticos e pode abrir caminho para uma agenda mais ampla de cooperação entre os dois países, após um período de forte desgaste nas relações bilaterais.
Na entrevista concedida em 9 de dezembro a TV Verdes Mares, do Ceará, Lula disse que tem se surpreendido com a boa comunicação com Trump.
“Eu posso te dizer que toda vez que eu converso com o Trump, me surpreende. Porque muitas vezes você vê o Trump na televisão, muito nervoso, e de repente, na conversa pessoal, ele é outra pessoa. E eu fiz questão de dizer para ele.”
“Nós temos dois Trumps, nós temos o Trump da televisão e o Trump da conversa pessoal. E eu acho que vai ser uma relação boa. Pode estar certa, porque eu estou convencido que a química entre nós rolou de verdade”.
Na mesma entrevista, Lula também apontou o tema da segurança como uma agenda importante na relação bilateral.
“Disse para ele que era importante que a gente discutisse a questão do crime organizado, porque é preciso combater o crime organizado. E nós temos gente importante que pratica crime aqui no Brasil, que mora em Miami. Eu mandei um documento para ele, dizendo o que nós queríamos que fosse feito.”
Nos últimos meses, os filhos do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), defenderam que o governo Trump declarem como terroristas organizações criminosas que atual no Brasil, como o Comando Vermelho e o PCC.
Já o governo Lula tenta evitar tal medida, que poderia ocasionar retaliações a setores econômicos suspeitos de relação com o crime organizado no país.

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Eduardo Bolsonaro disse receber com “pesar” a decisão do governo Trump de retirar as sanções econômicas contra Moraes e sua esposa. O deputado se mudou para os EUA em fevereiro, para articular as retaliações da Casa Branca ao Brasil.
“Nós recebemos com pesar as notícias da mais recente decisão anunciada pelo governo dos Estados Unidos”, disse o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Nós somos gratos pelo apoio dado pelo presidente Trump demonstrado durante este processo e pela atenção que ele deu a esta séria crise de liberdade afetando o Brasil”, disse ainda Eduardo em uma publicação em inglês assinada por ele e pelo empresário e comentarista político de direita Paulo Figueiredo.
Os dois empreenderam uma campanha junto ao governo Trump para a aplicação das sanções contra Moraes e sua família desde o início deste ano e comemoram em entrevistas e redes sociais quando o governo americano anunciou as medidas em julho deste ano. Eles acusam o ministro de perseguir politicamente Jair Bolsonaro e outros políticos e militantes de direita.
Sua atuação levou à denúncia de ambos pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao STF pelo crime de coação sob a acusação de que articulavam para impedir o julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe.
A Primeira Turma do Supremo acatou a denúncia contra Eduardo no mês passado. Ele agora é réu em processo que corre no STF por uso de ameaça ou grave violência para o curso de processos criminais.
O deputado e Figueiredo negam que o objetivo fosse impedir que Jair Bolsonaro fosse condenado e que denunciavam abusos de Moraes.
Isso se refletiu na forma como, à época, o governo americano justificou as sanções contra o ministro do STF, acusando-o de ser “responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos judicialmente politizados — incluindo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro”.
Eduardo Bolsonaro vive nos Estados Unidos desde o início deste ano e diz que foi morar no país para fugir do que classifica como perseguição política.
Em sua manifestação na rede social X sobre a retirada das sanções contra Moraes e sua mulher, o deputado critica a sociedade brasileira.
“Lamentamos que a sociedade brasileira, apesar da janela de oportunidade que tinha em mãos, não tenha conseguido construir a unidade política necessária para enfrentar seus próprios problemas estruturais. A falta de coesão interna e o apoio insuficiente às iniciativas levadas adiante no exterior contribuíram para o agravamento da situação atual”, afirmou.
“Esperamos sinceramente que a decisão do presidente Donald Trump seja bem-sucedida na defesa dos interesses estratégicos do povo americano, como é seu dever. Quanto a nós, continuaremos a trabalhar com firmeza e determinação para encontrar um caminho que permita a libertação do nosso país, pelo tempo que for necessário e apesar das circunstâncias adversas.”
Publicada no site do Tesouro Americano, a decisão sobre a retirada das sanções representa mais uma desescalada nas tensões entre EUA e Brasil, após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em setembro, o ex-presidente foi condenado pelo STF a 27 anos e três meses de prisão por golpe de Estado e mais quatro crimes, pena que ele começou a cumprir em novembro. A Câmara dos Deputados, no entanto, aprovou um projeto de lei que pode beneficiar Bolsonaro e reduzir sua pena, caso passe também no Senado.
Aprovada durante o governo de Barack Obama, em 2012, a Lei Magnitsky é uma das mais severas disponíveis para o governo norte-americano punir estrangeiros que considera autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


