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14 de outubro de 2025

O lado sombrio de importar eletrônicos

O lado sombrio de importar eletrônicos

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No início de 2024, mencionei em uma de minhas listas um aspirador-robô que era meu verdadeiro sonho de consumo. Embora fosse caro e repleto de funcionalidades avançadas, ele apresentava dois impedimentos importantes: o preço elevado e o fato de não ser vendido oficialmente pela fabricante no Brasil. Alguns meses depois, encontrei uma excelente promoção e realizei a compra internacional.

O aparelho chegou, foi colocado para trabalhar, e por aproximadamente oito meses, a experiência foi de pura satisfação. Contudo, em uma reviravolta digna do meme “o começo de um sonho e deu tudo errado”, ao fim do oitavo mês, a realidade se impôs, encerrando a lua de mel de forma abrupta. O motivo deste desfecho? O modelo não ser comercializado oficialmente no Brasil. São problemas que, sem dúvida, podem afetar qualquer produto importado, independente da marca ter ou não representação oficial em nosso país.

Por isso, utilizo minha experiência pessoal para detalhar exatamente por que a compra de um produto de grande porte, como um aspirador-robô, via importação direta, é uma decisão arriscada. E, acredite, o problema vai muito além da simples ausência de garantia nacional. Compartilho este sofrimento para que você não passe pelo mesmo transtorno.

A Sombra da Garantia e o Pós-Venda Negado

O ponto-chave no centro de todos os problemas que enfrentei reside, inevitavelmente, nos serviços de pós-venda.

Quando um produto eletrônico é vendido no Brasil, a empresa é obrigada a oferecer um período de garantia ao consumidor. O Código de Defesa do Consumidor (CDC) exige um mínimo de 90 dias para produtos duráveis.

No caso de produtos importados, as marcas não são compelidas a estender essa garantia aos compradores, mesmo que a empresa tenha presença oficial em solo nacional. Legalmente, a “garantia” máxima do comprador se resume ao direito de arrependimento e devolução do produto em até sete dias após o recebimento (prazo que pode variar conforme a plataforma de compra).

Ao se estabelecer oficialmente no Brasil, qualquer marca internacional precisa montar uma estrutura de pós-venda. Isso envolve ter uma rede de assistências e serviços de atendimento para conseguir reparar produtos que apresentem defeitos dentro do prazo de garantia legal.

A forma como as empresas se estabelecem aqui varia: algumas investem em fábricas e assistências próprias; outras firmam parcerias com fabricantes nacionais, adaptando linhas de produção e treinando assistências terceirizadas. A questão central é: como elas tratam o produto que não foi vendido por elas no Brasil?

Infelizmente, a minoria das empresas trata todos os produtos com igualdade, oferecendo garantia e assistência técnica. A maioria, contudo, prefere segregar os serviços, destinando o pós-venda apenas aos produtos comprados por canais oficiais no Brasil. Os importados ficam de fora.

Para um smartphone, esse problema pode surgir apenas em caso de defeito ou acidente, mas as assistências técnicas genéricas ainda têm uma boa chance de auxiliar, dada a facilidade de importar peças pequenas. No entanto, para um aspirador-robô, a situação é mais complexa.

O Fim dos Acessórios Oficiais e a Queda de Qualidade

A maioria dos aspiradores-robô mais avançados possui componentes removíveis essenciais que se desgastam e exigem reposição periódica: as escovas laterais, a escova central, os panos mop e o filtro de poeira interno.

Sem os serviços de pós-venda presentes oficialmente no país, a chance de encontrar esses acessórios originais para reposição é praticamente nula. Devido ao volume de vendas ser infinitamente menor que o de smartphones, é quase impossível encontrar lojistas com as peças oficiais em estoque.

A solução restante é recorrer a plataformas online de importados em busca de acessórios. Como as fabricantes não vendem estes produtos oficialmente para compra internacional, o que resta são revendedores de peças não-oficiais. Na minha experiência, esses acessórios genéricos até encaixam perfeitamente, permitindo a continuidade do uso, mas a qualidade é visivelmente inferior. O robô funciona, mas nunca com a mesma eficácia: mais fios enrolados, sujeira acumulada, entupimentos e rastros após limpezas antes impecáveis. A performance degringola a partir daí.

O Veredito: Recusa de Reparo e o Produto Inutilizado

Quando um problema sério finalmente ocorreu — no oitavo mês, meu robô, até então silencioso, começou a emitir um barulho alto que sugeria um esforço excessivo e risco de pane —, a questão da assistência técnica se apresentou duplamente.

Para evitar danos maiores, entrei em contato com a assistência técnica oficial da marca no Brasil. Expliquei que, embora soubesse que não teria garantia, estava disposto a pagar o custo do serviço. A resposta da marca foi imediata: recusaram-se a prestar qualquer serviço ao meu aparelho, mesmo mediante pagamento, justificando que o acesso à assistência técnica oficial é um benefício exclusivo para clientes que optaram pelos produtos nacionais.

Ou seja, ao escolher o modelo importado — pois a marca não o trazia oficialmente —, eu não tinha caminho para o reparo. Esta foi a primeira e maior frustração.

Busquei, então, assistências não-oficiais especializadas. A resposta que obtive foi que poderiam abrir o aparelho para diagnosticar o problema, mas não teriam acesso às peças oficiais para realizar o reparo. Esta foi a segunda frustração.

O resultado é um produto tecnológico avançado e caro que não opera mais em sua melhor forma, devido à falta de refis oficiais, e que está à beira da inutilização, sem qualquer possibilidade de reparo certificado.

É uma situação que não desejo a ninguém. E, influenciadores que promovem aspiradores-robô importados provavelmente não a relatarão, já que geralmente testam os modelos por apenas alguns meses, passando para o próximo lançamento antes que os problemas de desgaste e manutenção se manifestem.

Agora que passei por isso, você não precisa. Pense muito bem antes de investir em um aspirador-robô importado.



Fonte.: TecMundo

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