Recentemente, comentando o conteúdo das decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), duas autoridades públicas levantaram questionamentos sobre o estado mental do magistrado.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ao ser questionado sobre o que move Moraes a fazer o que tem feito, o ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello disse: “Eu teria que colocá-lo em um divã e fazer uma análise talvez mediante um ato maior, e uma análise do que ele pensa, o que está por trás de tudo isso”.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi além, em entrevista ao Metrópoles: “Eu acho que o Alexandre de Moraes precisa, sim, de uma ajuda profissional. Ele está precisando, ele não está nas faculdades mentais normais”. E prosseguiu: “Eu acho que ele precisa de uma internação compulsória. É uma pessoa que está obcecada por Bolsonaro, que atropela a Constituição a todo momento para atingir o seu objetivo de prender o Bolsonaro. Sabe aquele cara que é viciado em crack, que não está mais em condições de decidir se ele tem que ser internado ou não?”
Diante das duas declarações, a Gazeta do Povo questionou uma psicóloga e um psiquiatra sobre a possibilidade de algum tipo de transtorno mental ou padrão patológico no comportamento de Moraes.
Ambos os especialistas deixam claro, antes de tudo, que seria antiético e imprudente oferecer qualquer diagnóstico a distância, com base apenas em vídeos ou reportagens. O que é possível, segundo eles, é apontar se determinados traços observáveis levantam suspeitas ou merecem atenção clínica.
O psiquiatra Dario Leitão observou vídeos de Moraes dando broncas em pessoas que prestaram depoimentos na fase de análise do recebimento da denúncia, como o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo. Para ele, alguns traços de personalidade ficaram evidentes.
“É um cara que claramente não tem um temperamento do tipo cooperativo. Certamente, se a gente fosse fazer uma análise da personalidade dele a partir de uma métrica de personalidade chamada Big Five [que avalia personalidade com base em cinco traços: abertura, responsabilidade, extroversão, amabilidade e estabilidade emocional], ele pontuaria baixo no quesito amabilidade. É um cara pouco empático”, diz.
Leitão vê algumas reações de Moraes como duras e impetuosas e diz que “a expressão facial dele passa um pouco a impressão de que ele tem baixa tolerância à crítica”. Para o especialista, por ser um homem com grande poder, com temperamento colérico e com perfil mais pragmático, que tem pensamentos e ações mais orientados a resultados objetivos, Moraes tem necessidade especial de lutar contra o orgulho.
No entanto, nos vídeos avaliados, Leitão não vê sinais exteriores de patologia mental no ministro do STF. Ele ressalta que isso não é um juízo moral, mas uma avaliação do ponto de vista clínico.
Para a psicóloga e psicanalista Marisa Lobo, é possível observar em Moraes, “sob um olhar simbólico, traços de personalidade marcados por forte necessidade de controle, baixa tolerância à oposição e condutas centralizadoras”.
Segundo ela, “o perfil comportamental observado em Alexandre de Moraes enquanto autoridade se aproxima de padrões psíquicos associados ao autoritarismo, narcisismo institucional e rigidez egoica”.
Marisa explica que, na psicanálise, o “narcisismo institucional” é “um fenômeno no qual o sujeito passa a se identificar de forma inflada e rígida com a função de poder que ocupa, tornando-se intolerante à crítica e resistente à escuta do outro”. Isso pode estar associado, de acordo com ela, “a traços obsessivos de personalidade, marcados pela necessidade de dominar regras, impor ordem a todo custo e garantir previsibilidade às situações – mesmo que, para isso, se ultrapassem os limites legais e éticos”.
A especialista ressalta que isso não é um diagnóstico clínico de Moraes, mas uma descrição de sua personalidade, e que “o narcisismo institucional é uma patologia do ego”. “Não se refere a um transtorno clínico, mas sim a um funcionamento egoico inflado, que se manifesta nas decisões autoritárias, na intolerância à crítica e na centralização do poder.”
Assim como Leitão, Marisa não se vê em condições de apontar um problema clínico a partir dos conteúdos públicos disponíveis sobre Moraes, e destaca que sua análise “é mais simbólica, psicológica e moral do que diagnóstica”.
Fonte. Gazeta do Povo