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26 de julho de 2025

O que a fábula do cisne e do corvo tem a ver com emagrecimento?

O que a fábula do cisne e do corvo tem a ver com emagrecimento?

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Em meados dos anos noventa o termo transição nutricional surgiu, asseverando que: “O Brasil está rapidamente mudando do problema de déficit alimentar para um de excesso alimentar”, sem qualquer menção a um grupo ou tipo de alimento.

O ganho de peso já estava instalado e acelerando na população brasileira nessa data e as buscas por atalhos e possíveis responsáveis promoviam ambiente favorável para as diversas dietas.

No artigo A Evolução Etimológica e Cultural do Termo Dieta, Joana Falcato e Pedro Graça descrevem que “dieta deriva do grego diaita (δίαιτα), e encontra a sua acepção mais antiga em Esopo, na fábula do corvo e do cisne. Na tentativa de alcançar um esplendor semelhante ao da plumagem do cisne, o corvo passa a viver e a banhar-se nas mesmas águas que aquele, deixando de habitar os cimos das árvores. A esperança de embelezar o seu exterior traduz-se na modificação de um determinado estilo de vida, isto é, de uma dieta”.

Como podemos ver, o termo acima descrito na fábula representa um propósito inatingível pelo corvo. Sua prática não o tornará em um cisne, nem o fará viver nas águas, abandonando seu habitat e sua vida. Nos dias de hoje, ainda agimos como o corvo, olhamos para a vida acreditando que nosso destino se encontra em fatos externos ao nosso controle.

Ao olhar para a dieta como nós a compreendemos nos tempos atuais, olhamos para um alimento ou grupo de alimentos na tentativa de alcançarmos a dignidade daquilo que sonhamos.

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+ Leia também: Por que defender o “fim das dietas”?

Tentamos colocar a culpa em algo ou alguém pelo que comemos como se a alimentação fosse uma entidade que nos possuísse, nos deixando sem capacidade de pensar e, literalmente, ao sabor dos alimentos.

Esse tipo de pensamento vai na contramão do processo evolutivo. Deixamos de comer algo, que geralmente gostamos e pensamos que essa abdicação nos tornará dignos de uma nova silhueta, repetindo a crença do corvo. Com isso, as dietas crescem em números e nomes mais diversos possíveis. Assim, alguns acreditam que abrir mão da ingestão de carne, nos conduzirá ao nível superior.

Outros acreditam que os alimentos ricos em carboidratos devem ser abominados e atribuem a eles a responsabilidade de todos os males. Termos extravagantes surgem, como hiperpalatável, quando o sabor salgado com o doce e a gordura assumem a responsabilidade pela ingestão exagerada.

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O pobre uramaki de salmão com molho tarê teria essa responsabilidade, ou o francês caramel au burre salé estaria condenado ao ostracismo aqui no Brasil. Mas espere um pouco, França e Japão não são exemplos de nações afetadas pela obesidade como nós, certo?

Assim, enxergamos que dieta, lembrando a fábula do corvo, representa uma oportunidade para retirar dos nossos ombros a responsabilidade pela nossa alimentação, buscando a responsabilidade em um controle externo, chamado pela psicologia de locus externo de controle.

Somos racionais, estamos em evolução. Até quando essa linha de pensamento será adotada e até fomentada por profissionais e entidades governamentais? Entre o alimento e o tecido adiposo, existe um ser humano, capaz de escolher o que come.

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Se essas formas de gestão da alimentação, com a aplicação dos diversos termos e nomes, fosse efetiva, não existiriam tantas pessoas obesas e com sobrepeso nos dias de hoje. Porém, a realidade é oposta. Em todo o planeta, não existe uma única nação que nos últimos trinta anos tenha conseguido reverter o problema de ganho de peso da sua população

Assim qual o caminho? Parar de olhar o ganho de peso por meio do alimento e começar a enxergar o ser humano que ingere essa comida. Só assim entenderemos de fato a complexa equação da alimentação.

Insistir nas dietas é acreditar que podemos transformar corvos em cisnes.

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Fonte.:Saúde Abril

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