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22 de agosto de 2025

O que os médicos pensam sobre o hábito de pedir uma segunda opinião

O que os médicos pensam sobre o hábito de pedir uma segunda opinião

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Se você ou alguém que você conhece já teve um diagnóstico grave, com necessidade de tratamentos mais agressivos ou complexos, você já deve ter ouvido a seguinte frase:

– Se eu fosse você buscaria uma segunda opinião

No entanto, atendo no meu consultório pacientes que chegam para esta segunda opinião constrangidos ou pedindo desculpas por estar lá, pois gostaram do médico inicial, mas foram “obrigadas pela família ou amigos a ouvir uma segunda opinião”.

Como isso acontece com muita frequência, achei interessante trazer este tema para a minha coluna, para explicar a vocês a visão de nós, médicos, sobre o assunto.

Pontos positivos

Em primeiro lugar: ouvir uma segunda opinião é saudável e é direito seu se achar que deve. Isso não significa que você desconfiou do seu médico, ou que não fará seu tratamento com ele. A opinião de outro profissional pode trazer outra forma de explicar algo que você talvez não tenha entendido na primeira consulta, ou até mesmo informações novas, que um segundo profissional passou a você por ser mais “especialista” na área.

+Leia também: 13 perguntas que toda pessoa deve fazer ao seu médico

Há quase uma década, coordeno o comitê de tumores do Centro de Referência de Tumores da Mama do A.C. Camargo Cancer Center, e aprendi nestes anos que as opiniões são mesmo variadas e não lineares. E que, muitas vezes, a opinião inicial não é a que julgaremos como a melhor.

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É claro que existem condutas que com certeza são erradas, mas existem variações do que é certo. Neste contexto, ter mais que uma opinião, pode te oferecer opções que caibam mais dentro da sua realidade ou do seu momento de vida.

Muitas vezes, o que está acontecendo com você é algo que te amedronta, te desespera, mas é algo que é frequente na população e qualquer médico pode ser capaz de conduzir o caso. Por outro lado, se o que você tem como diagnóstico é mais raro, ou precisa de um tratamento muito impactante, como o diagnóstico de câncer, ter certeza se todos os passos estão corretos é o melhor a se fazer.

No câncer, vale até uma terceira opinião

Infelizmente, já recebi pacientes com tumores de mama que não precisavam de quimioterapia, mas fazendo quimioterapia, ou pacientes cujo tratamento ideal seria iniciar com quimioterapia e o profissional operou a paciente sem ofertar para ela a melhor conduta.

Já recebi pacientes que estavam em uso de medicamento equivocado,que não eram indicados a ela, e várias outras situações que só puderam ser revertidas porque a paciente teve a coragem e a iniciativa de pedir esta segunda opinião.

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Um exemplo real e recente disso aconteceu com uma paciente que atendi trazendo de um profissional a indicação de quimioterapia (já estava até com a data da primeira dose agendada) e, de outro, a indicação de cirurgia. Com opiniões tão diferentes, claro, ela ficou super perdida!

A terceira opinião foi a minha, e foi de extrema importância para que ela entendesse tudo o que estava lhe acontecendo, e houvesse um veredito final. Ela não tinha indicação de quimioterapia e a orientei retornar com o médico para fazer a cirurgia. No caso dela, inclusive, muito provavelmente ela nem precisará de quimioterapia depois da cirurgia.

Ou seja, quando as opiniões são muito divergentes, a terceira pode desempatar e esclarecer o melhor caminho.

Quando o santo não bate

Às vezes, o tratamento indicado até é o correto, mas o “santo não bate” e você simplesmente deseja outra opinião, porque quer ser cuidada por alguém que te ouça com mais atenção, te acolha com mais carinho, te olhe nos olhos enquanto você fala, te explique melhor o que está acontecendo, ou, até, que te ofereça um tratamento pelo seu plano de saúde.

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Lembre-se, mudar de médico quando você não está se sentindo bem com o primeiro, ou se o tratamento é bom, mas inviável financeiramente, também é saudável.

Novas possibilidades

Ter outra opinião pode te gerar a possibilidade de conhecer outras formas de tratar. Por exemplo: pode ser apresentado a você um estudo clínico em um centro especializado. Estudos clínicos são uma excelente forma de ter acesso a terapias inovadoras ainda em estudos, além de garantirem cuidado multidisciplinar especializado, com personalização do tratamento.

Dicas para segundas e terceiras opiniões

Se eu puder dar pequenas sugestões para que esta segunda opinião seja tranquila e lhe traga benefícios, sugiro somente que desde o início você tenha clareza na fala, e diga sem medo que está na consulta porque gostaria desta segunda opinião.

Nem sempre o médico vai te pedir a opinião que você teve anteriormente. Eu, por exemplo, peço que a paciente nem fale, pois quero dar a minha sugestão de tratamento sem qualquer viés.

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Quando me perguntam se devem contar ao primeiro médico que passou em uma segunda avaliação, vou dizer que não sei ainda qual é a resposta correta. O que faço muitas vezes é questionar um pouco mais sobre o perfil deste médico para ajudá-la nesta decisão, e quando a minha opinião é igual à primeira, vejo com a paciente o que a deixará mais confortável.

Por fim, ter uma segunda opinião é direito de todo paciente. É ético, e pode gerar benefícios reais, principalmente quando a doença é grave ou rara e um especialista é o responsável por esta segunda opinião. Faz melhor e cuida melhor quem tem mais experiência no cuidado, e quem ouve mais atentamente os seus pacientes.

Se você é paciente e quer uma segunda opinião: agende a consulta com paz no coração. Se você é médico: não se sinta agredido se seu  paciente disser que gostaria de ouvir outro profissional. Lembre-se que é sobre ele, e não sobre você.

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Fonte.:Saúde Abril

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