Até os anos 2000, o Brasil exportava um dos melhores cafés do mundo — e consumia um dos piores. Essa realidade mudou com o trabalho de marcas como a Orfeu, que ao longo dos últimos vinte anos introduziu no paladar brasileiro uma modalidade da bebida até então pouco conhecida: o café especial.
O termo refere-se a um café de altíssima qualidade sem nenhum defeito primário, como grãos verdes ou passados e ainda pedaços de galhos e folhas. A classificação também prevê que a cadeia de produção seja rastreável e sustentável. Além disso, a bebida precisa ter no mínimo 80 pontos na avaliação sensorial, uma nota (que vai de 0 a 100) dada pelos Q-graders, especialistas capazes de identificar as mais de 100 diferentes notas que podem estar presentes na infusão. Os critérios são estabelecidos pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).

A Fazenda Sertãozinho, onde começou a empreitada da empresa ainda sem o nome atual, já plantava grãos de alta qualidade desde 1940, mas a produção era destinada somente para o mercado externo. Localizada em Botelhos, no sul de Minas Gerais, a propriedade se beneficia de um solo vulcânico rico em minerais e da grande amplitude térmica da região — dias quentes e noites frias que prolongam a maturação dos frutos e realçam o sabor.
Até que, em 2005, foi criada a Orfeu, que leva o nome do personagem da mitologia grega celebrado por sua relação com a música e a poesia. A imersão no mundo das artes não parou no nome. Em 2019, virou o café oficial da SP-Arte, e desde então lançaram edições especiais em homenagem aos 115 anos da Pinacoteca, a Vinicius de Moraes, ao centenário da Semana de Arte Moderna, aos 75 anos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e a Oscar Niemeyer.
O café clássico da Orfeu tem 84 pontos de avaliação sensorial — outras variedades podem chegar a 86. Para atingir essa classificação, o café passa por um processo meticuloso, que busca eliminar qualquer impureza e selecionar apenas os melhores grãos. Uma parte fundamental é a triagem rigorosa da matéria-prima: em diferentes etapas, ela é separada por tamanho, peso e cor, utilizando-se peneiras, sistemas de flotação e equipamentos de alta tecnologia, como uma máquina que, com espectro de cor, separa somente os grãos com coloração ideal. Essa padronização garante a uniformidade do lote e a preservação das características sensoriais desejadas. Os dez Q-Graders da marca também provam cada lote de café em diferentes etapas da produção, para assegurar a qualidade do produto e o respeito aos parâmetros necessários para alçá-lo à categoria de especial.

“A Orfeu é uma das empresas que trouxeram essa possibilidade de explorar o lado sensorial do café”, explica o diretor de marketing Fábio Gianetti. Algumas das mais de trinta variedades de café plantadas nas três propriedades podem ser apreciadas na linha Varietais, que permite saboreá-las individualmente. A marca lançou em 2023 a Confraria, um clube de assinatura para apaixonados por café. Os participantes ganham a cada mês um kit com um microlote — uma pequena parcela da produção que é separada por ter características especiais — e têm acesso a conteúdos educativos e brindes.
Nessas duas décadas, a Orfeu ganhou 31 prêmios do Cup of Excellence, o Oscar do café. E pretende colecionar mais nos próximos anos. “Nunca seremos uma gigante do café, não é o que queremos. Mas, sim, ser referência em qualidade”, declara Gianetti.

Publicado em VEJA São Paulo de 11 de julho de 2025, edição nº2952.
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Fonte.: Veja SP Abril