A Virosfera é o mundo dos vírus. Um mundo que pareceria pequeno até mesmo na opinião de uma bactéria.
Claro, temos vírus gigantes que são do tamanho de algumas bactérias, mas a maioria dos vírus é medida em uma ordem de grandeza chamada de nanômetro, equivalente a um bilionésimo de um metro.
Como dizem alguns virologistas, um vírus é uma má notícia embrulhada em um envelope, e essa é a imagem que nos vem quando pensamos em vírus: um genoma protegido por uma casca proteica e, para alguns, recoberta com um envelope lipídico.
As menores entidades vivas, certo? Talvez não. A Virosfera esconde um submundo, aquele onde encontramos entidades infecciosas mais simples do que os vírus: os viroides e os virusoides.
O que são viroides
Viroides já são conhecidos desde 1971 e seu único habitat são as células de plantas, nas quais podem causar doenças que afetam a agricultura de modo significativo.
Eles são a simplicidade em pessoa: nada de envelope, nada nem de proteínas e nem mesmo de genes que fazem proteínas, eles são “somente” uma fita de RNA de vai de 246 a 401 bases ou “letras”, dependendo da espécie de viróide.
Muito diferente do que conhecemos como vírus, que tem genoma composto de RNA ou DNA capazes de produzir proteínas virais e que é protegido por proteínas e, às vezes, por uma membrana gordurosa.
Essa fita de RNA dos viroides tem as pontas unidas e com um desenho meio parecido com trilhos de trem interligando estações.
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Como os viroides se replicam sem proteínas
Mas, se os vírus, ainda que dependam da célula hospedeira para quase tudo, conseguem se autorreplicar quando estão infectando graças às suas próprias proteínas, como é que um viroide faz isso, se nem proteínas ele sabe fazer?
Primeiro, os viroides colonizam o núcleo da célula vegetal ou então os cloroplastos, que são as usinas celulares onde ocorre a fotossíntese que resulta em oxigênio, pegam carona nas proteínas vegetais responsáveis pela multiplicação dos genomas das plantas e fazem fotocópias deles mesmos.
A incrível cabeça de martelo dos viroides
Um outro modo pelo qual os viróides se multiplicam é o mais interessante: uma parte da estrutura de trilhos de trem do viroide — chamada de cabeça de martelo (porque meio que se parece com essa ferramenta) e feita de puro RNA — é capaz de, pasmem, autorreplicar o próprio RNA viroide de modo totalmente independente de proteínas replicadoras.
E por que isso é tão interessante? Porque uma das hipóteses científicas para a origem da vida na Terra é o que se chama de mundo de RNA: há mais de 4 bilhões de anos, pode ser que moléculas de RNA bem curtas, que se formaram espontaneamente a partir de ligações entre as bases que formam o RNA, também tivessem a tal cabeça de martelo e já se autorreplicavam em um mundo onde os RNAs nem sonhavam com a existência de proteínas.
Ou seja, os viroides podem ser fósseis vivos daquele mundo de RNA.
Os virusoides: os RNAs satélites do mundo microbiano
Além dos viroides, o submundo microbiológico guarda também os virusoides. Eles são bem parecidos em forma e tamanho com os viroides e são também RNA “nus”.
Mas, ao contrário dos viroides, os virusoides não dependem só das proteínas celulares para se replicar, mas também de um vírus auxiliar. E não são exclusividade das plantas: a Hepatite D delta em humanos é causada por um virusoide que precisa do vírus da Hepatite B para se replicar.
Por isso, os virusoides são chamados de RNAs satélites, porque dependem do “astro” principal que é um vírus auxiliar. Ah, sim: os virusoides também se autorreplicam por meio de puro RNA, como os viróides.
Então pense só e encante-se: quando olhar para uma flor, comer uma salada ou tomar suco de laranja, ali, tímido, pode estar escondido o ancestral de todos nós, o “bilionário” viroide.
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Fonte.:Saúde Abril