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18 de dezembro de 2025

Padaria Ipanema, no Rio, reabre 24 horas e Belmontizada – 18/12/2025 – Restaurantes

Padaria Ipanema, no Rio, reabre 24 horas e Belmontizada – 18/12/2025 – Restaurantes

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CRÍTICA | RIO
Padaria Ipanema

Duas estrelas (Regular)
R. Visconde de Pirajá, 325, Ipanema. @padariaipanemaoficial

Aberta em 1911, a Padaria Ipanema respirava por aparelhos há alguns anos, com uma evidente enxugada no cardápio, além de balcões e prateleiras vazias.

O negócio ia mal das pernas e o encerramento das atividades parecia ser questão de tempo. Não deu outra: a casa fechou as portas no início de 2024 e, depois de passar por um impactante projeto belezura, reabriu no início de novembro deste ano com novo dono, nova proposta, novos preços, novo tudo. É outra coisa.

Para o bem e para o mal. Quem comprou a marca e o ponto foi o experiente empresário Antônio Rodrigues, um self-made man que começou a trabalhar como lavador de pratos aos 16 anos e há décadas está à frente da rede de bares Belmonte, case de sucesso no Rio. Ele é conhecido por ressuscitar patrimônios cariocas cambaleantes, como os bares Nova Capela, Amarelinho e Cervantes —por vezes alterando propostas originais, padronizando o serviço e adaptando cardápios.


Diversos pães e doces folhados dispostos em bandejas de madeira, incluindo croissants, pães trançados e roscas com camadas douradas e textura crocante.

O balcão dedicado a clássicos da viennoiserie da Padaria Ipanema


Cleo Guimarães/Folhapress

Daí que seus negócios passam por um processo de “belmontização”, como aconteceu com a Ipanema que, aliás, tem um rooftop bem parecido com o do Belmonte da avenida Vieira Souto, que vive lotado. Um déjà-vu danado.

Antes, a Ipanema era uma padaria tradicional: tinha o melhor refresco de maracujá do Rio, um pão de queijo intrigantemente gostoso apesar de seu pouco sabor (qual seria o segredo?), frios a granel, pastéis, misto quente no pão árabe, tortas, roscas etc.

A versão 2025 agora dedica a maior parte de suas 24 horas de funcionamento aos drinques e a praticamente a todas as opções de prato que um único restaurante oferece. Você começa a se sentir no Belmonte quando o garçom te oferece empadas recém-saídas do forno: é a certeza de que ali está sendo replicado tudo o que deu certo nos bares do mesmo dono.

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Enquanto escolhia meu prato, aceitei a empadinha de queijo (R$ 17) e me frustrei: tinha muita massa, pouco recheio e estava ressecada. Melhor opção foi o sanduíche de salmão gravlax com cream cheese e alcaparras (R$ 53). Temi pelo excesso de creme, mas estava tudo bem equilibrado, com boa quantidade de salmão. A surpresa positiva foi o pão, de massa de pizza assada na hora.

Foi a melhor pedida da primeira visita, quando me dediquei aos pratos mais robustos e aos salgados, o que incluiu um espetinho de esturricados corações de frango com farofa de alho e molho de kimchi (R$ 35). Experimentei em seguida o pastel de carne e maionese de sriracha (R$ 14).

Parte-se do pressuposto, claro, que se tratava de carne moída. Não era. Veio uma carne desfiada indecifrável, em quantidade bem acima do normal. Perguntei detalhes sobre o recheio a um dos solícitos garçons, que disse se tratar de picanha desfiada com requeijão. Outro afirmou que o que eu comi era carne-seca com Catupiry. Fiquei confusa.

De principal, fui no bacalhau na brasa com molho cremoso de mexilhão, batata calabresa e couve frita (R$ 115). O bacalhau estava um pouco salgado demais, e o molho… bem, se me falassem que era à base de creme de leite com hondashi eu acreditaria. Comi um creme branco com gostinho de mar, lá no fundinho.

A sobremesa foi mais certeira: um pain au chocolat (R$ 20) enorme, de massa perfeita, elástica e crocante ao mesmo tempo, recheado com chocolate de qualidade. A Padaria Ipanema é coordenada pelo experiente chef francês Fréderic Monnier, que faz bonito em sua viennoiserie clássica —apesar de o belíssimo croissant de pistache (R$ 25) sofrer do mesmo mal de alguns pratos: faltava um sabor mais acentuado do ingrediente, que foi diluído demais no creme.

No dia em que fui provar a parte padaria (somente até as 11h30), optei pelo básico. Experimentei o pão na chapa com ovo mexido (R$ 19) e o pão na chapa com requeijão (“o querido dos paulistas”, diz o menu, por R$ 16). Ambos gostosos. No fim, a impressão que ficou é a de que é sempre bom ter um restaurante 24 horas na cidade, e também que a Padaria Ipanema não é mais uma padaria tradicional. Belmontizou.





Fonte.:Folha de São Paulo

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