Mesmo em meio à crise econômica que se agravou nos últimos anos, Cuba continua sendo um destino que atrai a curiosidade de viajantes de todo o mundo. Seja pela história única da ilha rebelde de frente para os Estados Unidos ou pelas belezas litorâneas, o encanto permanece em meio às agruras e ao embargo.
E, se você pretende ir para Cuba, é bem provável que a viagem inclua ao menos uma parada em um “paladar”, nome dado aos pequenos restaurantes particulares voltados aos visitantes e que pontilham o mapa de Havana. Um dos mais conhecidos e elogiados nas redes é o Paladar Los Mercaderes, na região de Habana Vieja.
Delícias de Los Mercaderes
Funcionando em um casarão preservado na parte histórica da capital cubana, o Los Mercaderes é uma ótima opção para provar o melhor da gastronomia do país, em um ambiente com elementos que remetem à arquitetura e mobiliário do começo do século 20 em Havana.
Esse “paladar” também é famoso por seus drinques, e o sucesso não passa batido pelos proprietários na hora de precificar a experiência – visitantes brincam que o local tem “preços de Miami”. Mas essa não é uma realidade exclusiva do Mercaderes: em geral, esses restaurantes têm preços bem salgados para os padrões de um cubano comum e costumam ser pouco frequentados pela população local, voltados quase exclusivamente ao turismo.
No Mercaderes, um prato famoso é a ropa vieja, um clássico da culinária cubana que envolve carne de porco desfiada em um molho de tomate e pimentão. Entre os coquetéis, não deixe de provar a canchánchara, um dos drinks nacionais e considerada a formulação mais antiga de Cuba: rum, mel e suco de lima, datado da época da luta por independência no século 19 e consumido pelos guerrilheiros como um tônico fortificante.
Outras informações podem ser encontradas nas páginas oficiais do paladar, localizado no número 207 da Calle Los Mercaderes.
Os “paladares” de Cuba
Os “paladares” surgiram em Cuba na década de 1990, quando o governo flexibilizou levemente as regras para as empresas privadas, buscando uma retomada econômica diante das dificuldades do período – o fim da União Soviética jogou a ilha em uma escassez de recursos conhecida eufemisticamente como “Período Especial”, no que foi, à época, a pior crise vivida após a Revolução.
O nome curioso, por sinal, tem uma improvável relação com o Brasil e a primeira versão da novela Vale Tudo, cujo remake está outra vez no ar na TV Globo: quando esse tipo de restaurante foi autorizado por Fidel Castro, a produção brasileira era sucesso também em Cuba, e o empreendimento gastronômico de Raquel Accioli (interpretada por Regina Duarte) se chamava justamente… Paladar.
Muitos cubanos que decidiram começar a empreender no período se identificaram com a história de Raquel e o nome acabou pegando como sinônimo de um negócio próprio que poderia prosperar. A novela acabou, mas a expressão permaneceu.
Inicialmente, os paladares eram restaurantes familiares, com regras rígidas: não era possível empregar pessoas de fora da família, os espaços eram limitados a 12 clientes, e alguns itens “de luxo”, como a carne vermelha e a lagosta, não podiam ser comercializados. Com o tempo, muitas dessas medidas foram sendo flexibilizadas, e tornou-se possível contratar outras pessoas e receber mais comensais, mas, ainda assim, segue até hoje a pegada de um lugar de pequeno porte.
Convertidos em símbolo da coexistência de negócios particulares com o modelo socialista, os paladares se tornaram sucesso entre turistas – até porque os preços são proibitivos para a maioria da população local – e viraram lugares simbólicos para visitantes notáveis da ilha. Em 2016, quando Barack Obama visitou Havana tentando reaproximar os Estados Unidos de Cuba (um processo depois revertido por Donald Trump), o presidente norte-americano chegou a comer em um paladar, o San Cristóbal.
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Fonte.:Viagen
