Não se falou de outra coisa no mundo dos botequins cariocas em meados de 2021, quando a pandemia arrefeceu e os restaurantes voltaram a funcionar: o Cervantes reabriu, comemoraram os órfãos da casa, que temiam o fechamento permanente. Abre parêntese: O Cervantes é um reduto da boemia do Rio e servia, desde 1955, parrudos sanduíches listados entre os melhores da cidade. Fecha parêntese.
Ele até reabriu, mas com novo dono, que passou um raio gourmetizador na maior atração do estabelecimento, trocando o pãozinho de leite por pão de fermentação natural. Também mudou a receita do pernil. Pra quê? Em um movimento de lealdade à tradição, houve um êxodo, e quem buscava as receitas originais passou a frequentar, desde aquele mesmo ano, o Parada de Copa.
O motivo? O lugar é uma espécie de dissidência do Cervantes, de onde vieram cerca de 30 funcionários, demitidos na crise ou na insegurança de virem a ser dispensados. Todos estão espalhados nas três filiais do Parada.
E eles mantiveram tudo exatamente como antes. Quem vai à loja de Ipanema se depara, inclusive, com Araújo, 29 anos de balcão no antigo restaurante, preparando os lanches. Um baita déjà-vu. Ele segue montando os sanduíches com habilidade, como o de pernil, sem modificações, com queijo e abacaxi (R$ 46). Fruta e queijo são opcionais, mas no primeiro caso, é essencial a sua presença. Macia e adocicada, sem acidez porque é cozida com açúcar em seu próprio caldo, ela dá o contraste necessário à carne, bem salgada.
O maior sucesso do Parada de Copa é, desde que abriu, o lanche de filé-mignon com queijo e abacaxi (R$ 60). Ao contrário das imensas e vistosas peças de pernil e de lombinho —expostas no balcão e fatiados na hora—, o filé aguarda sua vez de entrar no jogo numa estufa, já cortado, com esmero, e no ponto certo. Há um profissional para essa função. Daí a regularidade do best-seller: se ele vier ruim, foi falta de sorte. Não costuma acontecer.
É uma pena que tanto capricho pareça ser apenas nos sanduíches, cartão de visitas do bar, que também serve chope, claro ou escuro (raridade no Rio), por R$ 16. No quesito comidas e belisquetes a coisa desanda. O botequim atira para todos os lados num menu extenso (só de filé-mignon são 20 opções), em que nada fica na memória. Falta personalidade e aquela mão para temperos tão característica de outros bares do Rio.
No almoço, o cupim assado com arroz de ervilha e batata frita (R$ 37), pareceu interessante até que chegasse, morno e muito salgado, à mesa. Era um dos “pratos premium”, como eles chamam os PFs da tarde, e de premium não tinha nada. Lembrou as comidas para um batalhão servidas no refeitório do jornal onde trabalhei.
O mesmo aconteceu com o espetinho à campanha com arroz, farofa de ovo e fritas (R$ 37). Soa delicioso, não? Mas a carne do espetinho estava dura, e a farofa, heterogênea: os pedaços de ovo mexido não abraçaram a farinha. Muito aquém da expectativa.
A conclusão é a de que o Parada de Copa é tocado por quem entende do assunto, equipe azeitada, sanduíches excelentes e comida “para encher a barriga” —de bom custo, mas benefício ruim.
Fonte.:Folha de São Paulo


