SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Knesset, o Parlamento israelense, aprovou nesta quarta-feira (22) em votações preliminares dois projetos de lei para anexar formalmente a Cisjordânia, território palestino ocupado militarmente por Israel desde 1967.
A primeira proposta estipula que “a lei, Justiça, administração e soberania” israelenses serão aplicadas sobre toda a Cisjordânia, sem exceção. Hoje, o território é dividido em zonas territoriais e governado parcialmente pela Autoridade Palestina, embora Tel Aviv mantenha controle militar e de segurança. A segunda proposta, aprovada com apoio de partidos de centro, prevê a anexação de um assentamento próximo a Jerusalém.
O movimento ocorre durante a visita oficial do vice-presidente dos Estados Unidos, J. D. Vance, que está no país em tentativa de impedir que o governo Binyamin Netanyahu abandone o cessar-fogo com o Hamas na Faixa de Gaza.
O avanço dos projetos, que ainda precisam passar por mais três votações no Knesset antes de virarem lei, foi lido em Israel como uma derrota para Netanyahu. Membros da sua coalizão pressionam o governo a anexar a Cisjordânia como resposta à onda de reconhecimento diplomático do Estado da Palestina liderada por Reino Unido, França e Canadá, mas o premiê tenta evitar novos desgastes com os EUA -o presidente Donald Trump já disse que não permitirá a anexação da Cisjordânia por Israel.
O primeiro projeto foi aprovado por 25 votos a 24, com apoio dos partidos de extrema direita que sustentam a coalizão de Netanyahu no Knesset e voto de minerva de Yuli Edelstein, membro do partido de Netanyahu, o Likud.
Edelstein violou a orientação de que a bancada se abstivesse e, em resposta, a sigla deve removê-lo da poderosa Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Parlamento, segundo o jornal The Times of Israel. O Likud deve ainda trabalhar para derrotar o projeto em votações futuras.
“A soberania de Israel em toda a nossa terra natal é a questão premente do momento”, disse Edelstein após o voto. “Se meu pecado é ter defendido a Terra de Israel e votado a favor de aplicar soberania na Judeia e Samaria [nomes bíblicos pelos quais a Cisjordânia é às vezes chamada no país], então tenho orgulho disso.”
Já o Likud disse em nota que a aprovação “não passa de uma manobra da oposição para prejudicar nossas relações diplomáticas com os Estados Unidos”, ignorando o fato de que partidos da sua base votaram a favor da medida.
O Likud, no entanto, não se distanciou da intenção de anexar a Cisjordânia no futuro. “A real soberania não será conquistada por uma lei simbólica, e sim por meio de trabalho concreto e da criação de condições políticas para o reconhecimento de nossa soberania”, afirmou o partido, citando o reconhecimento dos EUA da anexação das Colinas de Golã, território sírio, e de Jerusalém como capital israelense.
Se defendendo da acusação de que não protege os colonos na Cisjordânia, o Likud disse: “Nós fortalecemos os assentamentos todos os dias com ações, com orçamentos e projetos de construção, não com palavras”.
O segundo projeto de lei, mais limitado, foi aprovado com apoio dos partidos dos líderes de oposição Yair Lapid e Benny Gantz. O texto prevê a anexação do território onde fica hoje o assentamento Ma’ale Adumim, verdadeira cidade próxima a Jerusalém Oriental onde moram 40 mil colonos judeus. Os assentamentos são considerados ilegais pelo direito internacional e pela esmagadora maioria dos países no mundo.
O texto foi aprovado com 32 votos favoráveis e nove contrários. O deputado Avigdor Liberman, autor da proposta, disse em discurso no plenário que a melhor maneira de anexar a Cisjordânia é aos poucos. “O maior consenso na sociedade israelense hoje é a aplicação da soberania em Ma’ale Adumim.”
Nesse sentido, membros do Likud ouvidos sob reserva pelo Times of Israel disseram que, se houvesse um voto secreto no Knesset hoje, a anexação completa da Cisjordânia seria aprovada com ampla margem, apesar do risco de irritar os EUA e provocar indignação de aliados europeus.
Em setembro, Netanyahu visitou Ma’ale Adumim para assinar a expansão do assentamento. O projeto, conhecido como bloco E1, vai criar mais 3.400 casas e separar Jerusalém Oriental do resto da Cisjordânia, uma medida que “enterraria” a chance da criação de um Estado palestino, segundo o ministro de Finanças de Israel, o extremista Bezalel Smotrich.
Fonte. :. Noticias ao minuto