10:01 AM
15 de agosto de 2025

Patrulha Ambiental mata agricultor durante abordagem no RS

Patrulha Ambiental mata agricultor durante abordagem no RS

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Uma onda de revolta e protestos se instalou entre produtores rurais do interior do Rio Grande do Sul nos últimos dias, após um vendedor de lenhas ser morto a tiros pela Patrulha Ambiental (Patram), da Brigada Militar do estado.

Valdemar Both, de 54 anos, morreu no dia 1º de julho dentro de um galpão em sua propriedade rural, em Santa Maria. Ele estava cortando lenha quando foi abordado pelos agentes. Ao saber que seus equipamentos – uma serra circular e uma motosserra – seriam apreendidos, o comerciante passou a discutir com dois policiais, que alegam que o produtor teria partido para cima dos agentes com um machado.

A versão é questionada por familiares e produtores rurais. Um vídeo (veja abaixo) mostra Valdemar discutindo com os policiais, mas não é possível identificar uma eventual investida do comerciante contra os agentes, que permanecerão em trabalho administrativo até o final da investigação.

O advogado que representa a família afirma que Valdemar comprava eucalipto para fazer lenha e revender – o que não é considerado crime ambiental, desde que a planta tenha origem em plantações regulares e o comerciante possua a documentação necessária –, e que os equipamentos apreendidos eram legalizados.

Associação diz que há inúmeros relatos de abusos por parte da Patrulha Ambiental

De acordo com Arlei Romeiro, diretor da Associação dos Produtores e Empresários Rurais (Aper) – entidade que representa os produtores da região de Santa Maria –, a tragédia envolvendo Valdemar Both mostra um drama comum entre os agricultores gaúchos: a desproporcionalidade no uso de força por agentes da Patrulha Ambiental.

Segundo ele, a Aper tem recebido uma série de relatos de atuação abusiva de policiais da Patram ao fiscalizar propriedades rurais. “Muitos produtores se queixam da forma como os agentes agem quando visitam a propriedade para alguma verificação, tratando o produtor rural como se fosse um bandido”, diz.

“O que tem que ficar claro é a importância de a Patrulha Ambiental fazer uma reciclagem. Eles estão indo em uma propriedade checar um possível crime, que até ser comprovado, não tem como dizer que aquela pessoa cometeu algum crime ou não. E, também, é preciso agir proporcionalmente ao porte do possível crime”, prossegue o representante da Aper.

Quanto à morte de Valdemar, Romeiro classifica como “uma sequência de equívocos e despreparo”. “Nada justifica um resultado desse. O que fica claro para nós é a falta de preparo, um excesso totalmente desproporcional que ficou evidente pelo vídeo”, declara.

“Se não tiver um crime, eles inventam”, diz agricultora sobre Patrulha Ambiental

Luciane Agazzi, engenheira agrônoma e produtora rural na região, tem liderado um movimento entre agricultores para cobrar respostas do governo sobre a morte de Valdemar. Segundo ela, inúmeros agricultores gaúchos têm criticado a conduta da Patrulha Ambiental ao abordar os produtores em suas propriedades.

“A Patram chega metendo o pé na porteira ou cortando cadeado, entra na propriedade privada e trata os donos como se fossem bandidos. Se não tiver crime, eles tentam inventar um para autuar, para dar multa. Não tem como argumentar com eles. Partem do pressuposto de que uma denúncia é sempre verdadeira e que eles têm que dar a punição. E não é um, não é dois, são muitos agricultores que relatam abuso de força, abuso de poder, agressividade e tratamento como se fossem bandidos”, diz Luciane.

A Gazeta do Povo pediu um posicionamento à Brigada Militar, que não retornou o contato até o fechamento da reportagem.

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Durante abordagem, Valdemar reclamou que os agentes o estavam impedindo de trabalhar

O vídeo da ocorrência, gravado pelas câmeras da propriedade rural, mostram Valdemar – que morava com a esposa e o filho de 21 anos – irritado com a fiscalização. “Estão achando que eu sou trouxa. O cara trabalhar está errado? O cara não pode mais trabalhar”, diz ele.

Mais à frente, ele entra dentro do galpão, onde as câmeras não captam imagens. É lá que um dos policiais ambientais o alvejou com três tiros. A Brigada Militar divulgou duas notas sobre o caso: na primeira, disse que a equipe “foi surpreendida com golpes de machado pelo indivíduo suspeito da infração, ao não aceitar a ocorrência imposta”.

Na segunda, não consta a informação de que teria havido “golpes de machado”. Informa, apenas, que Valdemar não possuía a licença ambiental para o comércio de lenha e que “a partir da informação de que o material seria aprendido, iniciaram-se hostilidades que infelizmente culminaram com o óbito do Sr. que estava sendo fiscalizado”.

Para apurar a ocorrência, foi aberto um inquérito policial militar. A Polícia Civil também investiga o caso. A Gazeta do Povo solicitou informações sobre a investigação à Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul. O órgão direcionou os questionamentos para o delegado responsável, que não se manifestou.

Vídeo da abordagem a Valdemar Roth (cenas fortes):

Protesto “Agricultor não é bandido” reúne produtores em Santa Maria

No último sábado (5), dezenas de produtores rurais de várias regiões do estado protestaram em frente à sede do 2º Batalhão de Polícia Ambiental, no Bairro São José, em Santa Maria. O protesto contou com a presença da viúva e do filho de Valdemar.

“As noites são bem difíceis para dormir. Quando fechamos o olho escutamos o grito do pai que ecoa na cabeça. Não conseguia acreditar, lá no momento, que meu pai tinha morrido quando o policial me falou. Não estávamos preparados. É diferente de morrer por uma doença. O pai era saudável. Foi um abalo muito grande para a gente”, disse Gabriel Both ao Diário de Santa Maria, que acompanhou a manifestação.



Fonte. Gazeta do Povo

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