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24 de agosto de 2025

PF e Ministério Público miram ‘associados do PCC’ para tentar asfixiar finanças da facção

PF e Ministério Público miram ‘associados do PCC’ para tentar asfixiar finanças da facção

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CONSTANÇA REZENDE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Operadores do mercado financeiro, contadores, fornecedores de armas, advogados, integrantes dos Poderes Legislativo e Judiciário e até mergulhadores.

Essas profissões têm se tornado cada vez mais recorrentes em operações sobre o PCC (Primeiro Comando da Capital) deflagradas pela Polícia Federal e do Ministério Público.

Denominados de “associados do PCC”, eles não passam pelo ritual de batismo da facção nem têm dedicação exclusiva a ela, mas se tornaram peças fundamentais para o seu crescimento, na medida em que o PCC se expande em nível internacional, movimentando bilhões com o tráfico de até uma tonelada de cocaína por mês para a Europa.

O promotor do Ministério Público de São Paulo Lincoln Gakiya, especialista na facção, afirma que a participação dessas pessoas se tornou necessária para a facção porque os crimes passaram a ser mais sofisticados, com demandas, por exemplo, de expertise para lavagem de dinheiro.

Grande parte da movimentação dos valores arrecadados também não é mais feita em forma física, em dinheiro. Por isso, os integrantes passaram a precisar conhecedores de atalhos e deficiências em termos de legislação, fiscalização e controle.

“Às vezes são gerentes ou ex-gerentes de bancos, que ganham valores muito maiores do que os praticados pelo mercado. Já o PCC lucra porque não teria condições de executar esse serviço. Mas é preciso lembrar que, apesar de não serem integrantes, eles vão responder pelos mesmos crimes”, diz.

O perfil dos criminosos também é diferente, de acordo com os investigadores. Segundo Gakiya, boa parte dos membros do PCC, sobretudo os mais antigos, não tem escolaridade e estão ligados crimes violentos, como roubo a bancos e novo cangaço.

“Hoje, a facção se organiza como uma empresa. Para acompanhar a evolução extraordinária do PCC, infelizmente, eles precisaram da colaboração de outras pessoas de determinados ramos para transitar nesse mundo novo”, diz.

As regras do grupo, como o código de silêncio, devem ser respeitadas pelos associados, sob risco de morte.

De acordo com a Polícia Federal, a associação com o PCC se dá tanto com membros da “base” da facção criminosa quanto com suas lideranças.

“Os associados têm uma atuação autônoma, independente do PCC, possuem, ou integram, seus próprios grupos criminosos. Todavia, como mantêm negócios com membros, beneficiando-se dos recursos logísticos, financeiros e humanos da facção criminosa em nível nacional e internacional”, afirmou à Folha, em nota, a Diretoria de Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da Polícia Federal.

A unidade também afirma que os associados devem lealdade ao PCC e se obrigam a cooperar e contribuir com a facção sempre que solicitados, a exemplo de auxílio financeiro e operacional em eventuais conflitos com facções rivais, planos de fuga e planos de atentados contra agentes do Estado.

O promotor Lincoln Gakiya ressalta que um dos casos emblemáticos é o de Antônio Vinícius Gritzbach, 38, morto a tiros no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em novembro de 2024.

Engenheiro de classe média, ele era operador do ramo imobiliário e passou a fazer negócios com o PCC. Ele indicava, por exemplo, quando valores recebidos deveriam ser aplicados em criptomoedas ou na compra de imóveis.

Segundo as investigações, ele também procurava laranjas, constituía empresas e bancos digitais, para que essas transações pudessem ser feitas e o verdadeiro criminoso do PCC não aparecesse.

Outro exemplo é a Operação Hydra. Realizada pela Promotoria e pela PF em fevereiro, mirou duas empresas do ramo financeiro que, segundo as investigações, ocultavam os verdadeiros beneficiários de recursos movimentados pela facção.

O esquema teria sido operado por um associado do PCC chamado Rafael Maeda e conhecido como Japa, que tinha participação em empresas agenciadoras de jogadores de futebol. Japa foi achado morto com tiro na cabeça, dentro de um carro, em agosto do ano passado.

Na operação Fim da Linha, de 2024, foram presos dirigentes de duas empresas de ônibus que também seriam usadas para lavar dinheiro do PCC.

Já na Operação Mafiusi, instaurada no mesmo ano, a Polícia Federal prendeu o empresário William Barile Agati, apontado como uma espécie de faz-tudo do PCC.

Ele recebeu o apelido de “concierge do crime” depois que as apurações mostraram que ele fornecia diversos serviços para o PCC na logística de tráfico de drogas internacional. A PF definiu o investigado como “indivíduo com grande poder econômico”.

A defesa de Agati afirma que ele é inocente, primário, de bons antecedentes, de conduta ilibada e empresário em diversos segmentos de negócios nacionais e internacionais lícitos e que não praticou nenhum dos crimes que lhe são imputados.

A ação Narco Vela, de abril deste ano pela PF, prendeu 30 associados do PCC que dariam suporte ao tráfico de drogas, em especial para a África e a Europa, com o uso de embarcações capazes de atravessar o oceano como barcos e veleiros.

Para o promotor, é preciso intensificar as investigações para essas pessoas, com o objetivo de obter a asfixia financeira do grupo, e não enxugar gelo.

“A partir daí, temos uma investigação qualificada e conseguimos direcionar os esforços. Não digo que vai conseguir acabar com essa modalidade de crime, mas vai encarecer o negócio e dificultar porque não tem tanta mão deobra qualificada assim”, afirma.

Já a PF afirmou que suas investigações visam sempre à desarticulação das organizações criminosas, buscando sua descapitalização, com sequestro e apreensão de bens e valores.

E também a prisão de seus líderes e principais colaboradores, “sejam estes responsáveis pela atividade operacional de crimes como o tráfico de drogas e armas, ou tenham outras funções, a exemplo daqueles que atuam na lavagem de dinheiro dos grupos criminosos”.

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Fonte. .Noticias ao Minuto

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