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22 de outubro de 2025

Planeta está fora da rota do 1,5°C em 45 de 45 parâmetros – 22/10/2025 – Ambiente

Planeta está fora da rota do 1,5°C em 45 de 45 parâmetros – 22/10/2025 – Ambiente

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Relatório anual abrangente sobre ações climáticas mostra um planeta totalmente fora da rota traçada pelo Acordo de Paris. De 45 itens analisados, a única nota positiva de 2024, a participação de elétricos nas vendas do mercado automotivo, foi agora rebaixada. Há progressos, mas não no passo que o mundo precisa para atingir o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C, estabelecido há dez anos.

O ritmo e a escala das mudanças necessários para uma economia descarbonizada estão inadequados “em uma proporção alarmante”, aponta a edição 2025 do “State of Climate Action”, ou Estado da Ação Climática, publicada pelo Systems Change Lab.

A iniciativa acompanha desde 2023 o desempenho dos setores que mais emitem gases de efeito estufa em contraste ao que deveria estar sendo atingido até 2030, 2035 e 2050.

Pelo tratado de 2015, os 194 países signatários devem perseguir um aquecimento global “bem abaixo dos 2°C” em relação aos níveis pré-industriais, de preferência limitá-lo a 1,5°C. Com as metas atuais, o planeta caminha para um fim de século já a 2,6°C.

Dos 45 parâmetros estudados pelo relatório deste ano, apenas 6 apresentam um ritmo de mudança promissor, “mas não rápido o suficiente”; 29 movem-se na direção certa, “mas muito lentamente”; 5 estão “na direção errada”, emitindo mais, e precisam ser atacados urgentemente; 5 ainda não apresentam dados suficientes para análise.

Alguns exemplos:

  • O financiamento climático privado atingiu US$ 1,3 trilhão (R$ 8,04 trilhões) em 2023 graças a investidores principalmente de China e Europa. Ainda que recorde, o valor precisa crescer 1,8 vezes mais rápido para atingir o objetivo projetado para 2030.
  • A participação de energia solar e eólica na geração de eletricidade, que mais do que triplicou desde 2015, precisa ainda mais do que dobrar nos próximos cinco anos.
  • A energia gerada a partir de gás, muitas vezes tratado como combustível de transição de fontes fósseis, precisa ser eliminada sete vezes mais rápido.
  • A diminuição da participação de energia gerada a partir de carvão é ainda mais urgente, requer uma aceleração estimada em dez vezes.
  • A expansão das linhas de transporte urbano, como metrôs, bondes e ônibus segregados, precisa ocorrer cinco vezes mais rapidamente.
  • A expansão de sistemas de captura de carbono, tecnologia ainda em desenvolvimento, precisa ser acelerada em dez vezes.

Entre as variáveis que caminham “na direção errada”, estão a carbonização do setor de aço; o transporte individual em carros de passeio, a maioria ainda movida a gasolina e diesel; a destruição de mangues; a perda na produção de alimentos; e o financiamento público para a exploração de combustíveis fósseis.

“Simplesmente não há mais tempo para hesitações ou medidas incompletas”, diz Clea Schumer, pesquisadora do WRI (World Resources Institute) e autora principal do trabalho deste ano junto com quatro colegas.

“Uma década de atraso estreitou perigosamente o caminho para o 1,5°C de aquecimento. O progresso constante não é mais suficiente. A cada ano que deixamos de acelerar, a distância aumenta e a subida fica mais íngreme”, afirma a especialista.

A metáfora se repete por todo o relatório. O combate ao desmatamento, capítulo em que o Brasil é um dos atores principais, precisa ser acelerado em nove vezes. Ainda que a situação esteja melhor na amazônia, crédito que o relatório dá à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, o planeta perdeu o equivalente a 22 campos de futebol por minuto de área de floresta em 2024.

Nos últimos dez anos, em contraste, quem mais contribuiu para o desflorestamento foi justamente o Brasil, com 23 milhões de hectares perdidos. O estudo nota o descalabro da era Jair Bolsonaro, “que afrouxou a legislação ambiental, promoveu políticas para minar o direito dos povos indígenas e desmantelou agências federais de controle e monitoramento”.

Dentro do possível, o relatório parece atualizado sobre o cenário do setor no país. Lembra que o Congresso Nacional aprovou o relaxamento do licenciamento ambiental e agora se prepara para derrubar os vetos do governo Lula. Fala ainda da moratória da soja, queixa de produtores e estados contra traders que não compram de áreas desmatadas, atualmente em debate no STF.

Também não escapa da observação dos analistas a liberação da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, dada como certa no relatório mesmo antes de a licença do Ibama ter sido divulgada nesta semana.

O polêmico passo, que parte do governo Lula vê como necessário à soberania e à segurança energética, promete ser determinante para a imagem do Brasil, já minada por problemas de logística a menos de um mês da COP30, em Belém.

O argumento de prosperidade, ainda que faça sentido no discurso de Brasília e de políticos da Amazônia Legal, vai na contramão da tendência mundial. O investimento em energia limpa, pelo segundo ano consecutivo, foi maior do que o feito em combustíveis fósseis, mostra o relatório, em linha com outros levantamentos.

“É uma esperança ver que isso está acontecendo e que novas tecnologias estão emergindo”, diz Kelly Levin, chefe de Ciência e Dados do Bezos Earth Fund, patrocinador do relatório ao lado de Climate Analytics, ClimateWorks Foundation, Climate High-Level Champions e WRI.

“O desafio é conseguir escala nesses sucessos”, diz a especialista, que também assina o relatório como autora.

Para Ani Dasgupta, presidente do WRI, “a escolha é clara”. “Podemos manter os sistemas que estão agravando as catástrofes climáticas e prejudicando as pessoas e o planeta. Ou podemos acelerar a transição para um futuro mais saudável e sustentável.”



Fonte.:Folha de S.Paulo

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