A investigação sobre a queda do balão que deixou oito pessoas mortas em Praia Grande (SC), em junho deste ano, será reaberta pela Polícia Civil de Santa Catarina após exoneração do delegado responsável pelo caso.
O delegado que conduziu a investigação, Rafael Gomes de Chiara, foi exonerado do cargo na Delegacia de Santa Rosa do Sul. O novo responsável, André Coltro, deve solicitar novas diligências sobre o acidente.
Segundo a Polícia Civil, a exoneração ocorreu por motivos relacionados a processos de conduta administrativa. Já Rafael afirma que a medida seria uma retaliação da instituição por ele não ter feito indiciamentos no caso, os quais, segundo ele, não tinham base legal.
O piloto Elves de Bem Crescêncio, que disse ter seguido todos os protocolos de segurança, não foi responsabilizado pela queda. Ele relatou ter sentido cheiro de queimado logo após a decolagem e notado um incêndio iniciado em um dos maçaricos.
Após uma falha no funcionamento do extintor de incêndio, ele tentou descer o balão, pedindo que os passageiros saltassem ao tocar o chão. Treze conseguiram, mas o balão subiu novamente. Quatro pessoas morreram queimadas no cesto do balão, e outras quatro morreram após pular de uma altura de quase 150 metros.
Em nota, a advogada Francine Kuhnen, responsável pela defesa de Rafael, afirma que ele passou a ser alvo de ataques após a entrega do relatório final do caso.
Entre esses ataques estaria uma suposta ligação do delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, na qual ele teria dito que pediria ao governador Jorginho Mello (PL) a demissão de Rafael com base em fatos administrativos antigos.
Segundo o texto, o processo disciplinar que resultou na demissão foi instaurado em 11 de março de 2022, encaminhado ao governador em 4 de setembro de 2023 e retomado depois que Rafael se recusou a realizar indiciamentos “sem fundamento jurídico”.
O processo em questão é relacionado ao suposto uso indevido de uma viatura oficial para fins particulares.
“A súbita movimentação de procedimentos administrativos paralisados há anos, coincidente com a divulgação do relatório à imprensa, revela uma dinâmica que não pode ser ignorada: uso político da máquina pública e tentativa de retaliação contra um delegado que apenas cumpriu a lei e recusou-se a fabricar indiciamentos sem justa causa”, diz o texto.
A Polícia Civil, por sua vez, diz que o episódio não tem relação com perseguições ou o resultado do inquérito da queda do balão, e sim ligação com dois processos internos, um sobre o uso da viatura e outro sobre publicações supostamente ofensivas contra a Corregedoria da Polícia Civil, acusando o órgão de perseguição e assédio.
“Reduzir toda essa tramitação administrativa ao inquérito policial que investigou a queda de um balão em Praia Grande é adotar exclusivamente a versão de defesa, que tenta sustentar, de forma equivocada, a tese de perseguição funcional”, diz o comunicado.
A Polícia Civil também diz que outras irregularidades foram apuradas em gestões anteriores ao governo atual, incluindo condutas inadequadas, faltas sem justificativa e descumprimento de deveres funcionais.
O texto cita que as sindicâncias foram abertas por demandas externas e apontaram indícios de irregularidades graves, e que o governador assinou a demissão após análises da Corregedoria, da PGE (Procuradoria-Geral do Estado) e do Conselho Superior da Polícia Civil.
Fonte.:Folha de S.Paulo


