
Um dos maiores estudos já feitos com pessoas que têm sobrepeso ou obesidade e algum problema cardiovascular prévio – a pesquisa Select, financiada pela farmacêutica Novo Nordisk – mostrou um resultado inédito.
O uso semanal do medicamento semaglutida (de 2,4 mg), vendido sob o nome comercial “Wegovy”, reduziu em 20% o risco de infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e morte por causas cardíacas em pessoas sem diabetes. Isso foi um marco: pela primeira vez, um medicamento aprovado para obesidade mostrou benefício direto em desfechos cardiovasculares.
Mas surgiu uma pergunta natural: o benefício cardiovascular se mantém mesmo após a interrupção do tratamento?
Para investigar essa questão, pesquisadores realizaram uma nova análise chamada Select-Life, apresentada no último mês no Congresso da American Heart Association (AHA), nos Estados Unidos. Essa etapa adicional trata-se de um estudo observacional: os cientistas acompanharam parte dos voluntários após o fim do estudo principal para verificar se os possíveis benefícios do medicamento persistiam mesmo sem o seu uso contínuo.
Após uma média de 16 meses sem usar a semaglutida, não houve diferença na taxa de eventos cardiovasculares entre os grupos que haviam usado a substância ou placebo no primeiro estudo. Portanto, isso não sustenta a hipótese de “efeito duradouro” após o fim do tratamento.
Além disso, os participantes que tinham usado semaglutida apresentaram reganho de peso, comportamento já observado em estudos anteriores, sugerindo que o tratamento contínuo é necessário para manter a perda de peso.
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Vale destacar que esta análise englobou apenas 19,5% dos participantes do Select, uma amostra pequena. Além disso, a coleta de dados foi feita via questionários e autorrelatos, não por médicos diretamente.
Mesmo com essas limitações, o Select-Life ajuda a responder uma questão clínica essencial: interromper a semaglutida significa perder seus benefícios cardiovasculares e a manutenção da perda de peso.
O que isso implaica na prática? Fica claro, mais uma vez, que a obesidade é uma doença crônica e o tratamento farmacológico, quando indicado, deve ser contínuo, não episódico.
O uso da semaglutida deve ser parte de uma estratégia de longo prazo, sempre combinada com acompanhamento médico, mudanças no estilo de vida e suporte contínuo. Em outras palavras: não existe milagre. Existe cuidado constante.
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Fonte.:Saúde Abril


