
Estamos numa série de textos falando sobre os fatores de risco modificáveis e preveníveis de demência, certo? O primeiro foi educação; o segundo, perda auditiva. Mas, recentemente, a ciência avançou para entender ainda mais como uma parte específica da educação protege o cérebro. Segundo uma nova análise, publicada na revista Nature, aprender novas línguas reduz o envelhecimento cerebral. Não apenas porque é chique falar outros idiomas, mas também porque ser poliglota significa muitos benefícios para o cérebro.
O estudo foi produzido pelo grupo do Agustín Ibañez, neurocientista latino-americano que vem revolucionando o que se entende por fatores de risco de demência. As evidências sobre a relação positiva entre memória e a multilinguagem foram encontradas em uma cidade do Brasil, mas também em 86 mil pessoas cognitivamente saudáveis (sem esquecimentos) ao redor de diversos países.
As avaliações foram muito criteriosas e avaliaram indivíduos que falavam apenas um idioma ou mais de um, e compararam com um relógio de envelhecimento cerebral que eles desenvolveram. E o mais impressionante — o multilinguismo (aprender vários idiomas) pode reduzir pela metade o impacto do envelhecimento no cérebro. Existem várias razões que explicam como um novo idioma protege o cérebro — e o envelhecimento geral do corpo.
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O impacto cognitivo e social de aprender uma nova língua
Aprender idiomas é ganhar novas formas de pensar, conectar-se com outras culturas e gerar empatia, abrindo um mundo de possibilidades e autoconfiança, mesmo que dominar todos os idiomas seja um desafio constante, é uma jornada de descoberta e prazer.
Aprender uma nova língua significa entender um novo método de pensamento — você precisa traduzir as palavras, entender o que a palavra significa naquele idioma. Mas isso é apenas a camada mais superficial: imagine que até as expressões de surpresa mudam, o modo de conexão entre as pessoas, o significado das palavras mudam.
É, de fato, impressionante o poder que aprender uma nova língua tem no nosso cérebro. Você pode muito bem ter uma personalidade em uma língua e outra personalidade em outra língua — e isso é completamente esperado.
Por exemplo, imagina explicar para um estrangeiro a expressão “Não é uma Brastemp”. Quem é nativo do Brasil, e nasceu entre uma determinada época, sabe que essa expressão implica que o produto pode ser bom, mas não é o melhor da categoria.
Traduzir a frase ipsis litteris não consegue explicar todo o sentido dela. E isso está implícito quando você conversa fluentemente em outra língua — não é apenas traduzir as palavras, mas se fazer entender de forma que seu interlocutor saiba o que você está falando.
É sobre conexão. Na neurologia cognitiva, chamamos isso de cognição social — a capacidade de entender a nós mesmos, os outros e as relações sociais, guiando como pensamos, sentimos e agimos em contextos sociais, envolvendo desde ler expressões faciais e linguagem corporal até formar alianças e prever comportamentos.
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Por que aprender outro idioma vai além do indivíduo
O impacto de aprender outro idioma vai muito além do que imaginamos na proteção cerebral. Tem impacto comunitário, social, político. Faz você aprender o que o outro povo está pensando, e te ensina a ver um cenário maior de como um povo pensa.
Aparte disso, os autores (e eu concordo) reforçam a importância de sistemas educacionais ao redor do mundo ensinarem outro idioma aos seus cidadãos — não apenas ter aquela aula de inglês na escola, mas de fato colocar em contato diferentes culturas. Agora, a nível individual, fica o convite: allez-vous étudier une autre culture?
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Fonte.:Saúde Abril


