2:01 PM
10 de dezembro de 2025

Por que o estresse faz tão mal ao coração? Entenda a relação

Por que o estresse faz tão mal ao coração? Entenda a relação

PUBLICIDADE



O estresse, uma das consequências quando a saúde mental não vai bem, compromete o sistema cardiovascular.

A conexão corpo-mente inclui mecanismos:

  • Biológicos: elevação do cortisol, ativação do sistema simpático, inflamação, imunidade;
  • Comportamentais: dieta rica em gordura, tabagismo, uso de álcool ou outras substâncias, falta de exercício físico, descanso e relaxamento inadequados, falta de adesão aos tratamentos;
  • Psicológicos: emoções negativas, sintomas depressivos, ansiedade, pessimismo, raiva e hostilidade, estresse crônico, isolamento social e falta de objetivo de vida e genéticos.

De modo geral, admite-se que os fatores comportamentais são os que mais contribuem para o risco cardiovascular, levando a arritmias e até ao infarto. Por isso, o estresse está listado entre os tradicionais fatores que levam às doenças cardiovasculares (DCVs), como obesidade, tabagismo, hipertensão, colesterol alto, diabetes e sedentarismo.

O que o estresse tem a ver com o coração

Inúmeras pesquisas abordam a relação entre saúde mental e doenças cardiovasculares. Um exemplo é o papel do estresse psicológico na aterosclerose, que foi avaliado em experimentos com animais. Estudos em coelhos geneticamente predispostos à aterosclerose espontânea constataram que o ambiente social afetava a progressão da patologia.

Já em seres humanos, um modelo da combinação entre transtorno de ansiedade e DCV é a Síndrome de Takotsubo, também chamada de “síndrome do coração partido”. Isso porque entendia-se que havia uma ligação entre um pico de estresse emocional ou físico derivado de alguma situação aguda – um grande susto, uma notícia ruim, um acidente e até uma desilusão amorosa – e a doença.

Tal síndrome pressupõe uma descarga de adrenalina que promove o estreitamento das artérias que irrigam o coração, modificando, mesmo que temporariamente, o funcionamento do músculo cardíaco. Grosso modo, seria como um infarto agudo do miocárdio sem a clássica obstrução de uma artéria coronária.

Continua após a publicidade

Recomendações internacionais para proteger o coração

No último Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), realizado em Madri (Espanha), os especialistas elaboraram um documento com recomendações para o enfrentamento do impacto das doenças mentais na saúde cardiovascular. Entre elas, salienta-se a importância da triagem sistemática das condições emocionais em sadios e naqueles que apresentam fatores de risco ou DCVs.

Nesse sentido, também foi proposta a criação de equipes de psico-cardiologia cujo objetivo é reunir cardiologistas, psicólogos e/ou psiquiatras formando times integrados para aprimorar a prevenção.

A preocupação faz todo sentido. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no primeiro ano da pandemia (2020), a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%. Pesquisas recentes mostram que, embora o estresse tenha diminuído um pouco em relação ao pico da pandemia, o nível atual permanece acima do registrado antes de 2019.

Já de acordo com o World Mental Health Day 2024, o Brasil é o quarto país mais estressado do mundo. Um dos indicativos é que 77% dos brasileiros já pensaram na necessidade de cuidar da saúde mental.

+Leia também: Dossiê ansiedade: como nos tornamos escravos dela?

O estresse do cuidador

Outro aspecto destacado no documento do ESC foi o estresse em subgrupos, como no caso dos cuidadores que assistem pacientes dependentes. Geralmente, esta dedicação – seja exercida por profissional ou familiar – exige muito, tanto do ponto de vista físico como emocional.

Continua após a publicidade

Daí o “estresse do cuidador”, síndrome que reúne danos físicos e psicológicos, que chegam a elevar o risco de doenças como as cardiovasculares. Pode causar sintomas como:

  • Cansaço constante;
  • Apatia;
  • Ansiedade;
  • Irritação;
  • Angústia;
  • Depressão;
  • Isolamento social.

As manifestações físicas incluem dor de cabeça, dor de estômago ou muscular, sensação de opressão no peito, ganho ou perda de peso e excesso de sono ou insônia.

A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) também tem feito alertas sobre o estresse do cuidador, atuando na orientação e prevenção para que esses males sejam controlados e não comprometam o sistema cardiovascular.

Mais informações estão disponíveis em podcast sobre o tema, clique aqui para escutar.

Continua após a publicidade

Idosos e mulheres são mais vulneráveis

Os idosos são suscetíveis ao estresse e à depressão e, portanto, às DCVs. O envelhecimento é uma fase que tende a afetar condições físicas e psicossociais, com limitações que incluem perda de autonomia, declínio da atividade profissional, dificuldade da mobilidade e acesso à saúde, perdas, inversão de papéis, sentimento de solidão e maior contato com a própria finitude.

As mulheres também sofrem mais com problemas emocionais. Segundo números apresentados no Congresso da Socesp deste ano, a já mencionada Síndrome de Takotsubo impacta predominantemente o sexo feminino, com 90,5% dos casos.

Motivos para tal supremacia abrangem acúmulo de tarefas, ao exercerem jornadas duplas ou triplas (trabalho, cuidados com a casa e a família). Além disso, há fatores biológicos relacionados ao gênero, que facilitam o desenvolvimento de DCVs: síndrome dos ovários policísticos; falência ovariana precoce; complicações gestacionais; eclâmpsia; pré-eclâmpsia e menopausa.

Por isso, as mulheres devem ser orientadas para minimizar riscos reversíveis, como situações crônicas de estresse.

Como identificar e controlar o estresse crônico

Identificar indícios de estresse crônico é o ponto de partida. Além dos sintomas mais clássicos, como dores de cabeça constantes e insônia, cansaço e desânimo, o fato de não conseguir desligar a mente no final do dia, queda de cabelo, alergia de pele, tensão muscular, irritação e picos de tristeza são alguns sinais que merecem atenção quando se tornam recorrentes e atrapalham a rotina.

Continua após a publicidade

É necessário entender quais gatilhos estão disparando esses processos e reconhecer os próprios limites.

A partir daí, entra em cena o autocuidado. Temos que nos concentrar no que traz bem-estar. Apesar das atribulações do cotidiano, sempre deve existir tempo para esta recarga de energia.

Técnicas de relaxamento são uma opção para manter a mente sã. Um exemplo é o mindfulness, que significa “atenção plena”. O procedimento visa treinar a mente para estar no momento presente, sem se deixar levar por pensamentos ansiosos ou preocupações excessivas sobre o futuro.

O método já é destaque na prevenção e manejo das DCVs: ao atuar na regulação emocional, contribui para diminuir marcadores inflamatórios associados à proteção cardiovascular. Também reduz a atividade do sistema nervoso simpático e melhora o controle do nervo vago, crucial para a desaceleração do ritmo cardíaco e para a resposta de relaxamento do corpo.

A prescrição social é outra abordagem que contribui para o alívio do estresse ao conectar pessoas a recursos não médicos para aprimorar o bem-estar: oficinas de artes, musicoterapia, sessões de dança em grupo e redes de apoio são alguns exemplos.

Continua após a publicidade

Mas esses são apenas alguns caminhos. O leque de alternativas para quem busca se livrar do estresse é amplo e pessoal: cada um terá que descobrir o que traz equilíbrio. Nunca devemos esquecer que o corpo “fala” conosco o tempo todo. E saber escutá-lo pode ser o diferencial para salvar nossa vida. Não há saúde sem saúde mental.

* Mauricio Wajngarten é cardiologista e assessor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Patricia Perniciotti é coordenadora geral do Departamento de Psicologia da Socesp

Compartilhe essa matéria via:



Fonte.:Saúde Abril

Leia mais

Rolar para cima