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- Author, Harry Farley
- Role, Correspondente de política
- Author, Jessica Rawnsley
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“Hoje, para reavivar a esperança de paz e de uma solução de dois Estados, declaro claramente — como primeiro-ministro deste grande país — que o Reino Unido reconhece formalmente o Estado da Palestina”, afirma ele em uma declaração em vídeo.
No início do vídeo publicado nas redes sociais, Starmer afirma: “Perante o horror crescente no Médio Oriente, estamos a agir para manter viva a possibilidade de paz e de uma solução de dois Estados.”
“Isso significa um Israel seguro e protegido ao lado de um Estado palestino viável — no momento, não temos nenhum dos dois.”
Ele então continua dizendo que o momento de reconhecer a soberania palestina “chegou”.
“Portanto, hoje, para reavivar a esperança de paz e de uma solução de dois Estados, declaro claramente, como primeiro-ministro deste grande país, que o Reino Unido reconhece formalmente o Estado da Palestina.”
O primeiro-ministro afirmou em julho que o Reino Unido aderiria a esta posição, a menos que Israel atendesse a várias condições, incluindo concordar com um cessar-fogo na Faixa de Gaza e se comprometer com um processo de paz de longo prazo que levasse à coexistência de um Estado palestino ao lado de Israel.
A liderança israelense descartou essa possibilidade desde o início da guerra, após o ataque do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, no qual 1.200 pessoas foram mortas e 251 feitas reféns.
A decisão do primeiro-ministro suscitou críticas veementes por parte do governo israelense, das famílias dos reféns mantidos em Gaza e de alguns conservadores.
Starmer afirma que se reuniu com famílias britânicas dos reféns mantidos pelo Hamas em Gaza e viu “a tortura que eles sofrem todos os dias” e a dor que atinge profundamente os corações das pessoas em Israel e no Reino Unido.
Os reféns devem ser libertados imediatamente, afirma Starmer, acrescentando que “continuaremos lutando para mantê-los em casa”.
“Nosso apelo por uma solução genuína de dois Estados é exatamente o oposto da visão odiosa [do Hamas]”, acrescenta.
“Essa solução não é uma recompensa para o Hamas”, acrescenta, porque significa que o Hamas não pode ter futuro, nem papel no governo, nem papel na segurança.
O primeiro-ministro canadense Mark Carney afirmou também que, a partir de hoje, o Canadá reconhece o Estado da Palestina.
Em uma declaração publicada em sua conta no X, Carney afirma: “O Canadá reconhece o Estado da Palestina e oferece nossa parceria na construção da promessa de um futuro pacífico tanto para o Estado da Palestina quanto para o Estado de Israel.”
A Austrália também seguiu a decisão do Canadá de reconhecer a Palestina como um Estado soberano, escreveu o primeiro-ministro Anthony Albanese.
Ele afirma que isso faz parte de um esforço conjunto com o Canadá e a Grã-Bretanha e que formará “um esforço internacional para uma solução de dois Estados”.
Desde o início da guerra em Gaza, após o ataque do Hamas contra Israel no dia 07 de outubro de 2023, nove países já reconheceram o Estado Palestino: Espanha, Irlanda, Noruega, Eslovênia, Bahamas, Jamaica, Barbados, Armênia e Trinidad e Tobago.
O Brasil já faz parte dessa lista desde dezembro de 2010.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou anteriormente que o reconhecimento de um Estado palestino “recompensa o terrorismo”.
A decisão de reconhecer um Estado palestino representa uma grande mudança na política externa do Reino Unido, depois que sucessivos governos afirmaram que o reconhecimento deveria ocorrer como parte de um processo de paz e em um momento de máximo impacto.
No entanto, os ministros argumentam que havia uma responsabilidade moral de agir para manter vivas as esperanças de uma paz duradoura.
Os esforços para garantir um cessar-fogo em Gaza — sem falar em uma solução de longo prazo para o conflito entre Israel e Palestina — fracassaram. Israel provocou indignação internacional ao realizar um ataque aéreo contra uma equipe de negociação do Hamas no Catar.
Fontes governamentais afirmaram que a situação no terreno também se agravou significativamente nas últimas semanas. Citaram imagens que mostram fome e violência em Gaza, que Starmer descreveu anteriormente como “intoleráveis”.
A última operação terrestre de Israel na cidade de Gaza, descrita por um funcionário da ONU como “cataclísmica”, forçou centenas de milhares de pessoas a fugir.
É a mais recente ofensiva israelense na guerra que já dura quase dois anos e que causou o deslocamento de grande parte da população do território palestino, a destruição de sua infraestrutura e a morte de pelo menos 65.208 pessoas, de acordo com dados do Ministério da Saúde administrado pelo Hamas.
No início desta semana, uma comissão de inquérito das Nações Unidas concluiu que Israel havia cometido genocídio contra os palestinos em Gaza, o que Israel denunciou como “distorcido e falso”.
Os ministros também destacaram a expansão contínua dos assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada, que são ilegais segundo o direito internacional, como um fator fundamental na decisão de reconhecer a soberania palestina.
O vice-primeiro-ministro britânico David Lammy afirmou que “agora é o momento de defender” uma solução de dois Estados.
Ele disse ao programa Sunday with Laura Kuenssberg, da BBC: “Isso vai alimentar as crianças? Não, não vai. Isso depende da ajuda humanitária. Vai libertar reféns? Isso depende de um cessar-fogo.”
“Mas isso significa que você aceita, ou insiste nessa solução de dois Estados e apoia a causa palestina como uma causa justa? Essa foi a decisão que eu e o primeiro-ministro tomamos no final de julho.”
Lammy disse que o momento do reconhecimento foi decidido “com base no que está acontecendo no terreno”.

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O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, acolheu com satisfação a promessa de reconhecimento do Reino Unido quando visitou Keir Starmer no início deste mês, com o governo afirmando que ambos os líderes concordaram que o Hamas não deveria desempenhar qualquer papel na futura governança da Palestina.
Husam Zomlot, seu representante no Reino Unido, disse à BBC que o reconhecimento significaria “o fim da negação da nossa existência” e que “o povo britânico deveria comemorar hoje, quando a história está sendo corrigida, quando os erros estão sendo corrigidos”.
“A questão nunca é por que o Reino Unido deveria reconhecer o Estado da Palestina”, disse Zomlot, “a questão é por que o Reino Unido não reconheceu o Estado da Palestina desde o início?”
Ele acrescentou: “O reconhecimento não é um presente, não é um favor, é um direito inalienável.”
O chanceler conservador Mel Stride disse concordar com uma solução de dois Estados, mas afirmou que reconhecer um Estado palestino neste momento “não exerceria qualquer influência nem traria qualquer benefício em troca”.
Ele disse à BBC: “Tem mais a ver com a política interna do próprio gabinete [do primeiro-ministro] e dos seus deputados, bem como com a pressão que ele está sofrendo, e isso não é uma boa base para conduzir a política externa.”
Enquanto isso, em uma carta aberta enviada a Keir Starmer no sábado, familiares de alguns dos reféns sequestrados pelo Hamas instaram o primeiro-ministro a não tomar essa medida até que os 48 que ainda estão em Gaza, dos quais 20 se acredita que estejam vivos, fossem libertados.
O anúncio do próximo reconhecimento “complicou drasticamente os esforços para trazer nossos entes queridos de volta para casa”, escreveram eles. “O Hamas já comemorou a decisão do Reino Unido como uma vitória e renegou o acordo de cessar-fogo.”
Lammy acrescentou: “Acho que também é correto dizer que há muitas famílias de reféns que estão chocadas e horrorizadas com o fato de as perspectivas de um cessar-fogo terem sofrido um revés nos últimos dias.”
Ele também disse que era importante reconhecer que “o Hamas não é o povo palestino.”
Fontes do governo afirmaram que os ministros definirão as próximas medidas para sancionar o grupo nas próximas semanas.
Durante uma visita oficial ao Reino Unido esta semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também disse discordar do reconhecimento.
Starmer estabeleceu como prazo a reunião da Assembleia Geral da ONU, que ocorre esta semana, para que Israel tome “medidas substanciais para pôr fim à situação terrível em Gaza, concorde com um cessar-fogo e se comprometa com uma paz sustentável e de longo prazo, reavivando a perspectiva de uma solução de dois Estados”.
Ele disse em julho: “Com essa solução agora ameaçada, este é o momento de agir.”
Vários outros países, incluindo Portugal, França, Canadá e Austrália, também afirmaram que reconhecerão um Estado palestino, enquanto Espanha, Irlanda e Noruega deram esse passo no ano passado.
Atualmente, a Palestina é reconhecida por cerca de 75% dos 193 Estados-membros da ONU, mas não possui fronteiras internacionalmente acordadas, nem capital, nem exército — tornando o reconhecimento em grande parte simbólico.
A solução de dois Estados refere-se à criação de um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém Oriental como sua capital. Atualmente, Israel ocupa tanto a Cisjordânia quanto Gaza, o que significa que a Autoridade Palestina não tem controle total sobre seu território ou seu povo.
O reconhecimento de um Estado palestino é, há muito tempo, uma causa defendida por muitos membros do Partido Trabalhista. O primeiro-ministro tem sofrido uma pressão crescente para adotar uma postura mais dura em relação a Israel, especialmente por parte dos deputados da ala esquerda do seu partido.
Pouco antes de ele proferir seu discurso em julho, mais da metade dos deputados trabalhistas assinaram uma carta pedindo ao governo que reconhecesse imediatamente um Estado palestino.
Críticos questionaram por que o governo parecia ter imposto condições a Israel, mas não ao Hamas.
O rabino-chefe da Grã-Bretanha, Ephraim Mirvis, pediu ao governo que suspenda sua decisão.
“O reconhecimento pretendido não depende de um governo palestino funcional ou democrático, nem mesmo do compromisso mais básico com um futuro pacífico”, afirmou.
“Surpreendentemente, isso nem sequer está condicionado à libertação dos 48 reféns que permanecem em cativeiro.”
Fontes governamentais insistiram que suas exigências para que o Hamas libertasse os reféns e concordasse com um cessar-fogo não haviam mudado.
Mas funcionários do Ministério das Relações Exteriores argumentaram que a soberania era um direito do povo palestino e não poderia depender do Hamas, que o governo considera uma organização terrorista.

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Reconhecimento por outros países
O reconhecimento por parte de outros países é um dos quatro fatores importantes — mas não o mais determinante — para a existência de um Estado.
Na teoria das relações internacionais, considera-se que os três elementos constitutivos-chave para um Estado são: território, população e soberania.
Existem lugares que possuem esses três elementos e funcionam normalmente, apesar de serem reconhecidos por apenas alguns governos ao redor do mundo.
É o caso, por exemplo, de Taiwan, que é considerada pela China uma província rebelde e não possui plena filiação na ONU.
Por outro lado, existem Estados falidos que, apesar de serem reconhecidos pela ONU e seus membros, não têm controle total sobre seu território e de suas fronteiras, nem são capazes de garantir o bem-estar de seus cidadãos.
O crescente reconhecimento do Estado Palestino significa que mais e mais governos reconhecem a Autoridade Palestina como um equivalente, permitindo-lhes manter relações diplomáticas normais, abrir embaixadas e estabelecer diversas formas de cooperação entre eles.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL