12:47 AM
5 de julho de 2025

Portillo: tudo sobre a tradicional estação de esqui no Chile

Portillo: tudo sobre a tradicional estação de esqui no Chile

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O carro vai serpenteando montanha acima enquanto acompanha o traçado de Los Caracoles, sem dúvida uma das mais belas estradas desse canto do globo. O caminho serve como um prenúncio da surpresa que aguarda ao virar a última das 29 curvas: a enorme Laguna del Inca, espremida em meio à Cordilheira dos Andes. Durante todo o ano, a paisagem deslumbrante atrai visitantes que fazem o cansativo passeio de bate e volta a partir de Santiago, distante cerca de duas horas e meia quando não há trânsito.

Mas, durante o inverno, há um motivo especial para ficar alguns dias por aqui: é quando são abertas as pistas, os teleféricos e o icônico hotel amarelo da estação de Portillo. Em 2025, esses dias mágicos começaram em 21 de junho, justamente quando fiz o meu check-in, e devem se estender até 27 de setembro.

Los Caracoles, Chile
A estrada Los Caracoles liga Santiago, no Chile, a Mendoza, na Argentina (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Além do cenário singular, a primeira estação de esqui da América do Sul se destaca por ter congelado no tempo, no melhor dos sentidos. De modernidade, só chega em Portillo o que convém à prática de esqui, como é o caso das máquinas de fabricação de neve e dos equipamentos sempre novos disponíveis para locação. O restante pouco mudou desde a inauguração em 1961, das cortinas floridas à ausência de televisão nos quartos. Até mesmo os garçons, trajando uniformes vermelhos, são em sua maioria funcionários de longa data que chegam a criar uma relação com famílias que voltam a cada ano.

Família, aliás, é um pilar importante por aqui. A estação foi fundada por Bob Purcell, que teve a ajuda de seu sobrinho Henry Purcell na empreitada. Hoje um senhor de 90 anos, Henry se muda para Portillo no início de cada inverno e permanece até o final da temporada. Caso não esbarre com ele nas pistas — porque, sim, ele continua esquiando até hoje —, é bem provável que você o encontre fazendo as refeições com a sua família, que sempre se senta na mesma mesa do restaurante, à direita da entrada. Para completar, Portillo tradicionalmente tem como mascote um cachorro da raça São Bernardo, que circula livremente pela propriedade. Até o ano passado, essa anfitriã era Petra, que faleceu recentemente e cuja ausência está sendo sentida na temporada de 2025.

Todos esses elementos combinados causam invariavelmente a sensação de estar dentro de um aconchegante filme de inverno. Só não espere por badalação ou ostentação, ainda que os preços possam sugerir isso. Aqui, o luxo está na exclusividade do hotel de apenas 123 quartos, de onde é possível sair já com os esquis nos pés (o famoso “ski-in/ski-out”) rumo a pistas sem muvuca e com vista para a Laguna del Inca.

Portillo, Chile
Diz a lenda que a princesa Kora-llé foi sepultada na lagoa, e que o seu amor, o príncipe Illi Yupanqui, pode ser ouvido lamentando por ali em noites de lua cheia (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)
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NA NEVE

Portillo foi palco para o primeiro e único Campeonato Mundial de Esqui Alpino já realizado no Hemisfério Sul, em 1966. Todos os anos, a estação recebe equipes profissionais que vão ao Chile para treinar enquanto é verão em seus países de origem no Hemisfério Norte — um dos corredores do hotel é repleto de fotos e autógrafos dos atletas que já estiveram por aqui.

Afinal, as condições são excelentes para o esqui: com o ponto mais alto a 3.310 metros de altitude, a estação possui uma média anual de precipitação de neve de 5,10 metros e 80% de dias ensolarados. Não à toa, o símbolo de Portillo é um sol amarelo. São 35 pistas, sendo 15% verdes (fácil), 30% azuis (intermediário), 30% vermelhas (avançado) e 25% pretas (expert).

Portillo, Chile
A “galeria da fama” de Portillo (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Mas não pense que só os iniciados no esqui têm vez. Esse pode ser um cenário e tanto para aprender a esquiar, e digo por experiência própria. Apesar de já ter visitado outras duas estações de esqui, foi em Portillo que “virei a chavinha” e finalmente peguei confiança para encarar pistas de verdade.

Os equipamentos podem ser alugados no próprio hotel, o que inclui esquis, pranchas de snowboard, bastões, botas e capacetes. Já as roupas impermeáveis, indispensáveis para praticar esportes de inverno, devem vir com você na mala, assim como as luvas e os goggles (óculos que protegem do sol, do vento e garantem uma visibilidade melhor no meio da neve). A loja do hotel até vende esses itens, mas vai sair bem mais caro do que se você comprasse em Santiago ou mesmo no Brasil.

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Portillo, Chile
Equipamentos novos e de ótima qualidade podem ser alugados no hotel (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Os equipamentos ficam todos guardados no subsolo do hotel, no chamado “ski room”, onde também há bancos para que você possa calçar as botas de esqui e snowboard, pesadas e cheias de fivelas. Ali, ganham contornos mais claros os diferenciais de estar hospedado em um hotel exclusivo como Portillo. Logo no segundo dia, o funcionário responsável pelas botas já tinha memorizado meu rosto e entregava o meu par assim que eu chegava no ambiente. Já a equipe que administra os esquis e os bastões, também muito solícita, sempre me ajudava a carregar os equipamentos até o lado de fora. Não que fosse muito longe: o “ski room” dá acesso direto à neve, de onde é possível já sair esquiando. Esse é o tão cobiçado “ski-in/ski-out”, que te poupa do perrengue de carregar os esquis no ombro até as pistas.

Para quem está começando no esqui ou ainda tem técnicas a aprimorar, é válido reservar aulas coletivas ou privativas. Portillo tem professores ótimos e experientes, como Ronald, que na casa dos 70 anos esbanja energia e ensinou como melhorar o meu zigue-zague, indispensável para controlar a velocidade em pistas mais íngremes. Há inclusive uma professora brasileira, a Isabella, para quem deseja o conforto de uma aula toda em português.

Chamada El Corralito, a área de aprendizagem é bem espaçosa e tem uma inclinação na medida para quem ainda está inseguro com os esquis. De quebra, ali há um “magic carpet”, espécie de esteira rolante que facilita as subidas. Sem falar que fazer aulas com vista para a Laguna del Inca é um incentivo e tanto.

Portillo, Chile
Área de aprendizagem tem um magic carpet para agilizar a subida (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)
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Quando você já estiver craque na El Corralito, mude de cenário: do outro lado do hotel fica a pista Princesa, um pouco mais longa e íngreme. Ali, o iniciante é apresentado a outro meio de elevação, o “teleski”, em que você coloca um disco no meio das pernas para ser puxado morro acima.

Depois de algumas descidas, é hora de pegar um teleférico de verdade. Comece treinando na pista El Puma e então siga para a Bajada del Tren, que também serve para conhecer um pouco mais da história de Portillo. A estação não existiria se não fosse a construção de uma ferrovia: a ideia era que os trens cruzassem os Andes rumo à Argentina, e para isso o governo chileno contratou uma equipe de engenheiros estrangeiros. Entre eles estavam três noruegueses, que viram o potencial da região para o esqui. Hoje, os trilhos estão abandonados, mas é possível ver estruturas como um túnel ao longo da Bajada del Tren.

Para quem já encara pistas azuis (intermediário), vermelhas (avançado) e pretas (expert), Portillo é ainda mais cênica. Muitas pistas desses níveis têm vista para a Laguna del Inca, e a azul Los Zorros passa perto da estrada Los Caracoles.

Portillo, Chile
Bajada del Tren é um cenário gostoso e amigável para iniciantes como eu (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)
Portillo, Chile
Portillo vista de cima: o teleférico “Plateau” leva até o restaurante Tio Bob’s (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)
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Além da lanchonete Ski Box ao lado da área de aprendizagem de El Corralito, há apenas um restaurante na montanha. Acessível pelo teleférico Plateau, o Tio Bob’s prepara bons hambúrgueres a 3.300 metros de altitude. Atenção: para descer do Tio Bob’s esquiando, é preciso encarar pistas vermelhas ou pretas. Se não estiver nesse nível ainda, vá a pé e pergunte antes se você poderá descer de teleférico, o que é permitido em alguns horários ao dia.

Portillo, Chile
O nome do restaurante é uma homenagem ao fundador Bob Purcell (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)
Portillo, Chile
O interior do Tio Bob’s, point dos veteranos no esqui (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Uma atividade imperdível organizada por Portillo é a caminhada com raquetes de neve em torno da Laguna del Inca. O acessório é amarrado ao seu calçado para distribuir o peso e aumentar a superfície de contato com o chão, de forma que os pés não afundam tanto na neve ao andar. O exercício requer um certo fôlego nas subidas e descidas, mas todo o esforço é compensado bela vista singular da lagoa, que reflete perfeitamente as montanhas nevadas. É lindo:

Portillo, Chile
A recompensa da caminhada com raquetes de neve é a lagoa espelhando a cordilheira (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)
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Portillo, Chile
As raquetes de neve são amarradas nas botas para aumentar a superfície de contato com a neve (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Portillo realiza sessões de yoga e alongamento na academia para soltar os músculos antes e depois do esqui. Mas, para essa finalidade, o que os hóspedes gostam mesmo é de se deixar cozinhar por algumas horas nas três piscinas que ficam na área externa do hotel, uma mais quentinha que a outra. A maioria vai para lá no final da tarde, mas eu preferia ir em torno do meio-dia, quando as piscinas estão vazias e o sol a pino faz com o que o choque térmico seja menor. Não há roupão no quarto, mas basta pedir um para a camareira do seu andar — e foi assim que eu aprendi que roupão, em espanhol, é “bata”.

Portillo, Chile
O “après-ski” é na piscina quentinha, mas ir ao meio dia é mais vazio e menos frio (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

NO HOTEL

Com a prática, o esqui se torna uma atividade quase meditativa à medida que te conecta com a natureza e obriga a focar no presente. Essa sensação reverbera do lado de dentro de Portillo, que parece quase um navio. Alheio às distrações do mundo externo, ele concentra toda a infra do destino: não há um centrinho com comércios, por exemplo.

Tudo o que importa ali é esquiar, comer bem e estar com pessoas queridas. No canto favorito dos hóspedes, uma sala com lareira e vista para a Laguna del Inca, não passa despercebida a ausência quase completa de telas. Enquanto aguardam a próxima refeição ou simplesmente matam o tempo, as pessoas se espalham por sofás e poltronas lendo livros, conversando e jogando cartas ou jogos de tabuleiro.

Muito familiar e avesso à badalação, o hotel recebe muitos chilenos que esquiaram aqui quando pequenos e agora voltam com seus próprios filhos. A eles se juntam muitos hóspedes brasileiros, que chegam principalmente durante o mês de julho. Mas, em agosto, o portunhol dá lugar ao inglês: Portillo é tomada por norte-americanos fissurados pelos esportes de inverno, que abrem mão do próprio verão em busca de neve no Hemisfério Sul.

Portillo, Chile
A sala da lareira é o ponto de encontro dos hóspedes (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Como o foco é realmente a imensidão de neve que há do lado de fora, são poucas as atividades disponíveis dentro do hotel. Para entreter os hóspedes à noite e também em dias de nevasca, Portillo organiza música ao vivo no bar, competições na quadra poliesportiva e brincadeiras no salão de jogos. Durante minha estadia, por exemplo, rolaram partidas de basquete e um campeonato de “taca taca”, como é chamado o pebolim no Chile.

Portillo, Chile
Sala de jogos de Portillo, onde aprendi que o pebolim ou totó se chama “taca taca” em espanhol (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)
Portillo, Chile
A quadra poliesportiva coberta salva em dias de nevasca (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Como não há televisão nos quartos, a única tela do hotel fica no cinema, onde estavam sendo transmitidas as partidas da Copa do Mundo de Clubes. Além disso, são exibidos dois filmes por noite, sendo um deles para as crianças, que também contam com uma brinquedoteca com monitoria.

Portillo, Chile
A criançada aninhada no cinema assistindo a Copa do Mundo de Clubes (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)
Portillo, Chile
Brinquedoteca pronta para receber os pequenos (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Outro ponto que faz Portillo lembrar um navio é o restaurante, que funciona em modo semelhante aos dos cruzeiros. Incluídos na estadia, o café da manhã, o almoço, o chá da tarde e o jantar acontecem sempre no mesmo restaurante e os hóspedes se sentam sempre na mesma mesa, além de terem horários certos para comer. Geralmente, as refeições são feitas em dois turnos, sendo que as famílias com crianças costumam ficar com o horário mais cedo.

O garçom que te atende também é sempre o mesmo, o que ajuda a criar uma relação ao longo da estadia. A minha mesa era muito bem servida por Mario ou, como ele chamava a si mesmo, “Super Mario”, apelido que combinava bastante com seu uniforme vermelho.

Portillo, Chile
O restaurante de Portillo é um dos ambientes do hotel que tem carinha de antigamente (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

No café da manhã, pães, frios, manteiga, café, leite e deliciosos cookies ficam à disposição na mesa e você pode pedir ovos e panquecas para serem preparados na hora. O chá da tarde é bem parecido e há sempre algum docinho para repor as calorias gastas esquiando, como um cinnamon roll ou um biscoito recheado com geleia.

Portillo, Chile
Depois de um dia nas pistas, o aconchego do chá da tarde com docinhos surpresa (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Já o almoço e o jantar funcionam com um menu de três etapas (entrada, prato principal e sobremesa) que muda a cada dia. Para agradar a todos, geralmente há três opções de prato principal: uma carne vermelha, um peixe e um prato vegetariano.

Portillo, Chile
Apresentação caprichada dos pratos (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)
Portillo é para quem…

… está muito interessado em esquiar
… prefere sossego à badalação
… deseja um ski-in/ski-out sem muvuca
… não faz questão de grandes luxos

SERVIÇO

Toda a estrutura de lazer está concentrada no Hotel Portillo, onde há acomodações para duas pessoas, suítes com sala de estar separada do quarto e apartamentos para famílias de até seis pessoas. Mas, para além dele, existem outras construções que recebem hóspedes. No Octagon Lodge, todos os quartos possuem beliches e podem ser divididos entre duas, três ou quatro pessoas. O Inca Lodge é parecido com um hostel e, por isso, atrai uma galera mais jovem: há dormitórios compartilhados femininos e masculinos. Já os chalés podem ser reservados por inteiro por famílias e grupos de amigos de quatro a oito pessoas.

Portillo, Chile
Quarto padrão no Hotel Portillo (//Divulgação)
Portillo, Chile
Alguns chalés têm vista de camarote para a Laguna del Inca (//Divulgação)

Há pacotes de três ou quatro noites, chamados de ‘mini week’, e de sete noites, chamados de ‘ski week’. Os valores variam de acordo com as datas, divididas entre baixa (21/6 a 5/7 e 30/8 a 28/9), média (5/7 a 12/7 e 26/7 a 30/8) e alta temporada (12/7 a 26/7). Todos os valores podem ser consultados no site.

A estadia inclui todas as refeições (bebidas são pagas à parte) e os passes para usar os meios de elevação. Na temporada 2025, as aulas coletivas custam a partir de 42 mil pesos e as particulares, 91 mil pesos, sendo que há preços especiais para quem reserva mais de uma. O aluguel do equipamento completo custa 43 mil pesos por dia.

Portillo, Chile
Vista do hotel: as piscinas, as pistas e a Laguna del Inca (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

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Fonte.:Viagen

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