“O mar nunca julga a gente”. A frase dita por Crisóstomo (Rodrigo Santoro) sintetiza O Filho de Mil Homens, adaptação do livro de Valter Hugo Mãe que estreou na Netflix em 19 de novembro. Dirigido por Daniel Rezende, o longa acompanha um pescador solitário que sonha em ser pai, e vê sua vida mudar ao acolher Camilo, um menino órfão. A partir desse encontro, o filme constrói uma história sobre afeto, pertencimento e reconstrução, guiada por silêncios, gestos e por uma paisagem que funciona como extensão emocional dos personagens.
Embora a trama aconteça em uma cidade fictícia, boa parte da narrativa foi filmada na cidade fluminense de Búzios, sobretudo na Praia de José Gonçalves, que assume quase o papel de personagem. É ali, entre costões rochosos e o mar selvagem, que Isaura (Rebeca Jamir) e Antonino (Johnny Massaro) – jovens marcados por dores silenciosas e acolhidos pelo pescador Crisóstomo – encontram um refúgio para suas próprias feridas.
Búzios em cena
Entre todas as locações do filme, nenhuma aparece com tanta força quanto a Praia de José Gonçalves, uma das mais preservadas e selvagens de Búzios. Ali, a beleza serve menos como cartão-postal e mais como território introspectivo, onde o mar inquieto, os costões de pedra e a vegetação nativa traduzem o estado emocional do protagonista. É também ali que Crisóstomo revela seu hábito de “gritar para o mar quando está doendo”, um gesto de desabafo que depois é adotado por Isaura e Antonino e vira parte da narrativa afetiva do grupo.
O trajeto para chegar na praia expõe o isolamento da região. São 3 km desde o pórtico de Búzios, mais 2 km de estrada de terra e um último trecho de 1km estreito, cercado pela mata.

Durante as filmagens, a produção construiu uma cabana cenográfica em tons de azul, criada para se misturar à paisagem e dar a impressão de que a natureza invade o seu interior. O espaço funciona como a casa do protagonista e aparece em várias cenas, sempre com a praia ao fundo compondo o ambiente. Do lado de fora, a equipe também montou uma estrutura improvisada para um chuveiro externo, usado na sequência em que Crisóstomo dá banho em Camilo.
Na tela, a praia aparece em planos longos, luz natural, silêncios e som do vento, reforçando a solidão que guia o protagonista. A amplitude do mar e a areia estreita sublinham o desconforto de Crisóstomo, seu desajuste inicial e o desejo de ligar-se a alguém.

Outros pontos reconhecíveis de Búzios também entram em cena. A Praia da Azeda e a Ponta da Sapata surgem em planos que mostram costões, faixas de areia estreitas, trechos de restinga e pequenas áreas sombreadas entre as pedras, tudo guiado por um vento constante que parece puxar o espectador para dentro da paisagem.

A Chapada Diamantina no filme
Embora Búzios concentre grande parte das imagens do filme, O Filho de Mil Homens também foi rodado em Igatu, na Chapada Diamantina, especialmente na Vila de Pedras e na Vila Branca. No longa, a Chapada aparece como um conjunto de casas de pedras ou brancas, com luz filtrada e uma arquitetura que parece brotar da montanha. A produção mobilizou cerca de 150 moradores, envolvendo boa parte das comunidades locais nas filmagens.
O Cemitério Santa Isabel, conhecido como Cemitério Bizantino, também surge na trama. Construído entre 1854 e 1886, ele impressiona pelos mausoléus brancos que lembram pequenas igrejas alinhadas na encosta da Serra do Sincorá. É nesse cenário simbólico que ocorre o enterro da mãe de Isaura, um momento em que beleza, memória e silêncio se cruzam.

Compartilhe essa matéria via:
Newsletter
Aqui você vai encontrar dicas de roteiros, destinos e tudo o que você precisa saber antes de viajar, além das últimas novidades do mundo do turismo.
Inscreva-se aqui
para receber a nossa newsletter
Cadastro efetuado com sucesso!
Você receberá nossas newsletters em breve!
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsApp
Fonte.:Viagen


