Embora Israel condene qualquer tentativa do Irã de obter armas nucleares, diversas fontes históricas indicam que o próprio Estado israelense mantém, desde a década de 1950, um vasto programa nuclear não declarado. Estima-se que o país tenha produzido pelo menos 90 ogivas atômicas, número que pode ser ainda maior, segundo a Federação de Cientistas Americanos e a Associação de Controle de Armamentos dos EUA.
Israel nunca confirmou nem negou possuir armas nucleares. Além disso, é o único país do Oriente Médio que não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), o que o exime das inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), contrariando recomendações do Conselho de Segurança da ONU desde 1981.
Segundo o professor Luiz Alberto Moniz Bandeira, da Universidade de Brasília, o programa começou com a construção de uma usina nuclear em Dimona, ao sul de Jerusalém, por meio do projeto Soreq, operado pela Comissão de Energia Atômica de Israel. O apoio incondicional ao país é alvo de críticas, especialmente pela ausência de pressão internacional sobre seu arsenal atômico, em contraste com o rigor dirigido ao Irã.
Para Robson Valdez, professor de relações internacionais do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), a atuação das potências ocidentais revela um duplo padrão. “Israel desenvolve seu programa nuclear à revelia da AIEA. O direito internacional é aplicado com rigor a adversários e com condescendência a aliados, como Israel”, afirmou.
Reatores nucleares iniciais teriam sido fornecidos pelos EUA no âmbito do programa “Átomos para a Paz”. De acordo com Manoel Bandeira, Israel iniciou o desenvolvimento de armas nucleares sem o conhecimento formal de Washington. A CIA só teria identificado as instalações anos depois.
Ali Ramos, cientista político e especialista em história do mundo islâmico, sustenta que os EUA preferiram ignorar deliberadamente o avanço nuclear israelense. Ele também aponta a influência do lobby israelense nas agências de segurança norte-americanas como fator de omissão.
Segundo Moniz Bandeira, Israel contou com apoio técnico da França, que forneceu materiais nucleares e cientistas para o desenvolvimento de reatores. Fontes da CIA, como Carl Ducketts, relataram que em 1968 Israel já possuía três bombas atômicas feitas com urânio enriquecido contrabandeado dos EUA.
O agente do serviço secreto israelense Mossad, Ari Ben-Menashe, afirmou que, entre 1968 e 1973, Israel produziu 13 bombas nucleares, cada uma com poder destrutivo três vezes maior do que as lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. O ex-presidente americano Jimmy Carter também estimou que Israel possuía cerca de 150 ogivas nucleares em 2008.
A denúncia mais significativa veio do ex-técnico nuclear Mordechai Vanunu, que revelou detalhes do programa ao jornal britânico Sunday Times em 1986. Por isso, foi condenado por traição e espionagem, cumprindo 18 anos de prisão, dos quais 11 em regime de isolamento. Em 2004, ao ser libertado, teve sua liberdade de movimento restringida, mas afirmou à BBC não se arrepender da denúncia: “Foi para salvar Israel de um novo holocausto.”
A resolução 487 do Conselho de Segurança da ONU, aprovada após Israel bombardear o reator iraquiano de Osirak em 1981, condenou o ataque e solicitou que o país colocasse suas instalações sob supervisão da AIEA. Israel nunca acatou.
Em 2009, a AIEA reiterou o pedido para que Israel assinasse o TNP. A resposta do país foi que tratava-se de uma decisão soberana. Segundo Ali Ramos, o programa israelense é o único do mundo que não é submetido a nenhum tipo de inspeção internacional.
Além disso, o arsenal nuclear israelense teria servido como instrumento de dissuasão e expansão territorial. Após consolidar o domínio sobre a Palestina histórica em 1967, Israel utilizou a ameaça nuclear em 1973, durante a ofensiva de Egito e Síria, para influenciar a atuação dos EUA frente à União Soviética. O então ministro da Defesa, Moshe Dayan, chegou a colocar em prontidão 24 bombardeiros B-52 equipados com 13 bombas atômicas.
A estratégia, segundo Moniz Bandeira, não visava o uso direto das armas, mas pressionar Washington a conter os aliados árabes. O caso ilustra como o poder nuclear israelense molda a geopolítica regional, apesar da ausência de transparência e da recusa em submeter-se às normas internacionais.
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Fonte. :. Noticias ao minuto