Há tempos, não se presencia a figura de Ale D’Agostino de forma permanente em um bar. Mas, no último ano, o “bartender aposentado” (como ele gosta de se autodefinir) podia ser visto andando para lá e para cá em Santa Cecília, a acompanhar a reforma de um casarão dos anos 1930 no bairro.
É ali, na Rua Barão de Tatuí, 223, que ele acaba de abrir, no último dia 21, o bar de coquetelaria Coda. Depois de ter se afastado do mundinho da boemia, o profissional assume de vez a faceta (ou skin) de dono de bar.
Ele jura que o desejo de voltar a trabalhar na área ganhou força após viajar a Miami com o filho único, Antônio, 13, dois anos atrás, e se (re)encantar com endereços como o The Gibson Room. “Tem um balcão enorme de madeira, vários tipos de bourbon, um piano e a comida é incrível”, descreve Ale.
Paulistano, ele é graduado em esporte pela USP, mas nunca trabalhou na área. Construiu a carreira como bartender, no eternamente badalado Spot, colado à Avenida Paulista, onde produziu cosmopolitans e dry martinis por dezoito anos num período em que a coquetelaria estava a uma galáxia da efervescência de hoje. Saiu de lá em 2016, para “acalmar” um pouco e se dedicar a drinques engarrafados, que começavam timidamente a ganhar o mercado.
Não queria mais voltar ao balcão. Mas o showroom da empresa que ele montou com três sócios, a Apothek, acabou se tornando também um bar, de forma improvisada. Os coquetéis parrudos e de jeitão clássico — e o clima desencanado — conquistaram um público fiel. “Foi acontecendo”, explica. Deu tão certo que os parcos 17 metros quadrados enchiam de fãs da cidade toda.
A casa levou o prêmio de Melhor Bar de Drinques por VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER 2018, quando o profissional faturou o troféu de Bartender do Ano. Porém, esse negócio durou pouco. Acabou fechando no auge, em 2020, pouco antes da pandemia. “Foi um período de aprendizado”, conta. Seguir na vida noturna não era uma opção para Ale, que acabou indo de vez para os bastidores da indústria.
Com outros sócios, fundou a APTK, uma fábrica mais robusta, que desde 2021 produz destilados e coquetéis em garrafa. A empresa escalou, ganhou aportes, e as lojas e produtos se espalharam pelo país. Embora siga associado à companhia, Ale não trabalha mais no dia a dia. A APTK enfrenta questões na Justiça de sócios contra o controlador da marca, hoje afastado da gestão.
O bartender não se pronuncia a respeito. Embora faça consultorias, o foco hoje é o Coda, montado com dois sócios investidores. O espaço conserva elementos do passado, como a porta e o corrimão, feitos de peroba-rosa, o reboco de parte das paredes e o piso. O salão principal apresenta cerca de 8 metros de pé-direito e capacidade para cinquenta clientes em mesinhas, cadeiras, banquetas e sofá. Tem até um piano, que vai ser dedilhado esporadicamente, dizem os donos.
Ale cuida pessoalmente da operação, no entanto, o balcão de mármore, “a joia da coroa”, com seis banquetas em volta, é de responsabilidade de Livio Poppovic. Pupilo de Ale no Spot e com passagem pelo premiado Santana Bar, Livio é quem preparava os coquetéis do Apothek, em uma ótima parceria com o anfitrião.

Os pedidos custam a partir de 38 reais. Podem ser escalados clássicos como o dry martini e criações de Ale, como o che com infusione (cachaça com infusão de chás gaseificada) e o marzini (gim, jerez oloroso, infusão de amêndoa e bitters). “Viúvos e viúvas do Apothek” (palavras também do dono) podem se tranquilizar porque há uma seção de misturas do antigo endereço.
A casa serve, ainda, uma seleção de drinques sem álcool para os abstêmios e providencial neste período em que muitos clientes evitam ingerir destilados por causa dos tristes casos em torno do metanol e mortes causadas pelo consumo de bebidas adulteradas — os bares de ponta têm reforçado que os produtos usados têm boa procedência.
“A situação vai se normalizar e quem sempre trabalhou direito vai ser mais enaltecido”, acredita o bartender sobre inaugurar o Coda justamente neste momento crítico. Na ala gastronômica, o cardápio da consultora Laila Radice (ex-Astor) apresenta de beliscos como a croqueta de camarão a pratos como a massa alla vodca com burrata.
O Coda não está 100% finalizado. A parte do imóvel abaixo do nível da calçada deve virar uma área de fumantes. Nos fundos do casarão de 600 metros quadrados, um outro espaço, maior, se transformará em salão de eventos e balada no ano que vem. A trajetória do bar ainda tem chão. “O Coda é uma volta e um projeto de vida”, resume Ale.
Publicado em VEJA São Paulo de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967.
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Fonte.: Veja SP Abril


